terça-feira, 20 de agosto de 2024

"Falo desse chão, da nossa casa"

Por volta do ano de 1.796, o núcleo habitacional penhense, formado em torno da Igreja de Nossa Senhora da Penha, apresentava um relativo crescimento do número de seus habitantes, o que exigia cada vez maior atenção dos poderes real e do clero. Na época, não havia separação entre Igreja e Estado. Foi nesse mesmo ano que a Rainha D. Maria I, de Portugal, elevou a Penha de França à categoria de Freguesia, dotando-a de novas estruturas em sua organização política e religiosa. Foi nomeado o Padre José Rodrigues Coelho como seu primeiro vigário. Nas paróquias, vigorava o costume de se constituírem, entre os fiéis, Irmandades. Havia as que eram formadas de brancos, outras de homens pretos, além daquelas que congregavam pardos ou mulatos. Algumas dessas irmandades se encarregavam de promover a construção de igrejas e de as administrarem. Essa forma de organização também facilitava às autoridades o controle e o domínio sobre esses diversos segmentos sociais.

Na Penha, entre os negros, havia alguns que já tinham se tornado livres, através de cartas de alforria; a maioria, porém, ainda vivia sob o regime de escravidão. A igreja matriz servia preferencialmente aos brancos, descendentes de europeus. Nossa Senhora, com o título de Penha de França, já era popularmente considerada padroeira da Vila de São Paulo. Toda vez que algum problema grave se abatia sobre a cidade, a secular imagem desta santa era levada para a Sé catedral. Ali, mais paulistanos podiam fazer suas preces especiais. Nas festas de oito de setembro, era a vez dos moradores dos quatro cantos da cidade virem à Penha, para retribuir as graças recebidas. Foi nesse contexto que se formou a Irmandade dos Homens Pretos da Freguesia da Penha de França, trazendo em seus pensamentos e em seus corações a firme intenção de edificarem uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, na qual pudessem realizar suas funções religiosas e também terem um lugar digno onde pudessem enterrar os seus mortos. “Recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois”.

“Um mais um é sempre mais que dois”. A epígrafe, redigida pelo Dr. Sylvio Bomtempi e que se encontra em lápide, no interior da igreja, resume o seu sentido histórico. Esta diz que a capela se constitui como eloqüente testemunho da solidariedade no sofrimento e da esperança na redenção. Para isso é que ela foi chamada a existir. “Quero não ferir meu semelhante. Nem por isso quero me ferir”.

Antes mesmo de serem trazidos para o Brasil, os negros, principalmente os vindos da região do Congo, muitos deles já eram convertidos ao catolicismo. Ainda em terras africanas, os dominicanos disseminaram entre eles a devoção a Nossa Senhora do Rosário, utilizando-se dos mistérios do terço como meio para catequizá-los. Por conta dessas influências, muitas igrejas dedicadas à Mãe de Jesus, com este mesmo título, foram construídas em pequenas e grandes cidades desse nosso imenso Brasil. A partir dos grupos de congadas, formou-se um rico repertório de canções e de danças. Representando as lutas entre mouros e cristãos, estes grupos expressam a fé e a confiança que depositam em sua padroeira. “Canta! Leva tua vida em harmonia... Pra melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão”.  

Na cidade de São Paulo, a igreja mais antiga construída por irmandade de negros, foi a do Largo do Rosário, atual Praça António Prado. Ela foi derrubada e, hoje, em seu lugar, se encontra a bolsa de valores. Para substituí-la foi construída a igreja do Paissandu. A da Penha foi a única que sobrou. “Falo desse chão, da nossa casa. Bem que ta na hora de arrumar...”

“A felicidade mora ao lado” No próximo domingo, dia 1º de junho, às 18 horas, será levantado o mastro à frente da igreja. O espaço passará a ser reservado às festividades sob a proteção dos seus padroeiros: a Senhora do Rosário e São Benedito. Em seguida, no interior da igreja, será cantado o terço. Com estes dois eventos, será dado o ponta-pé inicial das festividades deste ano e que se prolongarão até o último dia do mês. “Vamos precisar de todo mundo”. O dia principal da festa será o dia 22 (domingo). É só acompanhar pela programação publicada na gazeta. A letra da música Sal da Terra” de Beto Guedes e Ronaldo Bastos foi a que deu inspiração para a escolha do tema para a festa: “QUERO VIVER MAIS DUZENTOS ANOS” Esperamos por você. Venha!

Postado por José Morelli

                                                                                                                                   

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