sábado, 24 de agosto de 2024

Não só de festas vivia a Penha do Passado

 Em princípios de dezembro de 1918, por ocasião da pandemia de gripe espanhola provocada nos campos de batalha da primeira grande guerra mundial, o vigário da Penha, Padre Oscar Chagas de Azeredo, registrou no Livro do Tombo da Paróquia, apontamentos de um relatório encaminhado ao exmo. Sr. Arcebispo sobre os trabalhos realizados na Penha no sentido de combater esse terrível mal:

A epidemia que nas últimas sete semanas encheu de luto a Capital paulista, não poupou o pacato distrito da Penha; uma campanha porém de trabalhos e dedicação enfrentou energicamente o mal. Sob os auspícios do exmo. Sr. D. Duarte, Arcebispo Metropolitano, tratou-se de organizar, em boa hora, o serviço que requeria a maior energia e a maior calma. À medida que os casos se iam aumentando, cresciam os cuidados e o desvelo por parte das autoridades e do povo da Penha. Desapareceu toda a distinção de nacionalidade, de classes e de crenças. Graças aos esforços do Monsenhor Silveira Barradas, instalou-se à rua da Penha, em um dos salões, generosamente cedido pelo Major Ângelo Zanchi digníssimo chefe político, o Posto Português de Socorros, que durante todo o tempo em que reinou a epidemia, prestou relevantíssimos serviços aos doentes tanto em medicamentos com em gêneros (alimentícios). Desde o dia 31 de outubro, em que se abriu o posto, prestavam abnegados serviços os senhores Drs. Brandão, Januário Baptista, Cresciuma Paranhos e os doutorandos Heitor Valery Antonio di Paiva Foz e Augusto de Figueiredo, aos quais se uniram abnegadamente diversas outras pessoas, nomeadamente D. Sara Costa, D. Vicentina Camargo do Amaral, D. Maria Barradas de Lara e D. Carolina Queiroz. O Posto dispunha de um automóvel, de que se serviam os médicos nas suas visitas domiciliares; achava-se aberto das 8 às 19 horas recebendo a todos com amabilidade e servindo-os com presteza. O movimento do Posto era contínuo sendo muitíssimas as visitas médicas e as pessoas socorridas em medicamentos e gêneros. Arrostando as dificuldades dos dias chuvosos, subiam e desciam os médicos, com a exma. S. Sara, ladeira de difícil trânsito, ziguezagueando muitas vezes o Tietê. Isso arrancou a gratidão dos moradores das margens do rio, os quais em homenagem à Dona Sara, que a tudo dava vida por seu temperamento sempre risonho, deram a um de seus postos o nome de “Posto de D. Sara”. Em benefício dos enfermos despendeu o Posto nada menos de 10:000#000. Grata a todos esses serviços a população da Penha no dia 24 de novembro, em que foi fechado o posto, organizou uma festinha modesta mas cordial em homenagem ao exmo Sr. Presidente da Câmara, apresentando em seguida um ofício de agradecimento assinado por todas as pessoas de destaque da Penha. Como, porém, entre os doentes, muitos havia que não poderiam receber em casa o tratamento necessário por falta de recursos pela gravidade do mal, o exmo Sr. Arcebispo obteve  do governo as chaves do grupo escolar (hoje “Santos Dumont”) e incumbiu aos Srs. Padres Redentoristas de instalar lá um hospital provisório para os homens; as Irmãs Vicentinas, a pedido do Sr. Arcebispo, cederam o seu Colégio, que ficou servindo de hospital provisório para as mulheres. Como era de esperar não tardaram os enfermos em serem transportados para lá com todo o cuidado em um automóvel, gentilmente cedido, para esse fim, pela repartição de águas por intermédio do Sr. Cândido Motta, que a isto foi instado por D. Vicentina Camargo do Amaral. O hospital provisório dos homens esteve sob a direção médica do doutorando Ulysses da Silva, mais tarde substituído pelo doutorando Armando de Campos, os quais além da medicação hospitalar não recusaram visitas a muitos enfermos, que os chamavam às suas habi

ações, por vezes, bem distantes. O hospital do Grupo foi aberto no dia 3 de Novembro e fechado aos 20 do mesmo mês; recebeu 50 doentes, dos quais faleceram 11 e foram removidos 3 para os hospitais da Capital. Por intermédio do Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, foram pelo governo fornecidos os equipamentos necessários, que faltavam mesmo depois das ofertas generosas dos padres redentoristas e de outras pessoas piedosas. Os padres redentoristas foram incumbidos dos serviços espirituais nos hospitais. Mais de uma vez os enfermos receberam solene e devotamente a sagrada comunhão, rezando em voz alta os atos de preparação e de ação de graças. A mocidade briosa da Penha ofereceu-se generosamente para o cargo de enfermeiros; entre eles destacam-se os seguintes: José Pedro Ferreira Filho, Benedito de Macedo, José Rafael da Motta, José Ferraz, Roberto Rebecchi, Aníbal Boemer da Silva, Augusto Carezzi e Francisco Pezzold, alguns dos quais adoeceram no desempenho da nobre tarefa. Junto aos enfermeiros dedicaram-se ao cuidado do hospital as senhoras D. Antonia Pedroso, D. Maria da Glória, D. Maria Schwenk, D. Mercedes Silvério e D. Áurea Bastos, que sacrificaram noites inteiras para que nada faltasse às vítimas da gripe. Não obstante ao grande temor que o povo tem geralmente aos hospitais todos mostram-se agora gratos pelo ótimo tratamento que lá receberam.

Não menos movimentado foi o hospital das mulheres instalado no Colégio das Irmãs Vicentinas (hoje “Colégio São Vivente). Dia e noite velavam esses anjos de caridade. Diretora e noviças, à cabeceira das doentes, sempre solícitas em diminuir as dores às infelizes. Quatro delas foram atingidas pela gripe, porém não houve caso grave. Esse hospital foi aberto no dia 1 de Novembro e fechado a 1 de Dezembro. A medicação das doentes foi confiada ao Dr. Benjamin dos Reis, que além das enfermas hospitalizadas, distendeu sua ação a muitas famílias que o chamavam confiadas na sua perícia médica e na sua dedicação digna dos melhores encômios.

Esse hospital provisório recebeu 78 enfermas, das quais 46 adultas e 32 crianças; faleceram sete pessoas, sendo três adultas e quatro crianças. Todas as enfermas receberam mais vezes com edificante piedade os sacramentos da Igreja, que as confortavam em suas penas.

Com o mesmo desinteresse material trabalharam incansavelmente os padres redentoristas que não só atendiam aos chamados dos doentes; de dia e de noite, mas até, iam procurando de casa em casa os enfermos para levar-lhes os socorros materiais e espirituais. Era esse quase o único meio de auxiliar famílias inteiras, muitas vezes isoladas nas olarias e nos sítios, sem terem quem delas se compadecesse. Incansável mostrou-se o R. P. Antão Jorge, acompanhando sempre os médicos às casas dos enfermos, servindo-lhes de guia nas ruas da paróquia e em particular nos cortiços quase impenetráveis em muitos lados da nossa Penha; não menos infatigáveis mostraram-se os Revmos. P. Oscar Chagas, P. José Francisco, Pelagio Sauter e Henrique Barros, percorrendo diariamente a paróquia em todas as suas direções, levando aos doentes os vales generosamente cedidos pelo exmo Sr. Arcebispo e mais ainda os confortos da Religião, de sorte que se pode afirmar com segurança não haver falecido na Penha pessoa alguma católica, atacada de gripe sem os últimos sacramentos.Com exceção de alguns espíritas, todos receberam atenciosamente o padre e o médico. A atividade dos padres estendia-se muito além dos limites da paróquia indo até os distritos do Braz e de São Bernardo. Tendo-se aumentado consideravelmente o número de gripados julgou-se necessário convidar o P. José Afonso para o serviço espiritual; ele chegou em meados de novembro e visitou abnegadamente os doentes da Penha e dos bairros do Cangaíba, Vila Sant’Ana, Ponte Grande e Maranhão. De um modo particular trabalhou na primeira semana o exmo. Mons. Barradas, vitimado infelizmente pela gripe que o prostrou no leito até a cessação da epidemia.

Junto com os padres trabalharam ainda os vicentinos, em número de nove, distribuindo vales e chamando os padres quando julgavam necessária a administração dos sacramentos; infelizmente mais da metade desses auxiliares foram atingidos pela enfermidade. Ao lado dos vicentinos, mostrou-se de uma atividade heróica a exma. D. Carolina Queiroz.

A pedido do Dr. Edmur Queiroz cedeu o Governo grande número de caixões para adultos e crianças, os quais foram depositados no Salão São Geraldo e autorizou o vigário a utilizar-se de todos os meios de condução para o transporte dos cadáveres ao cemitério. Em rasgo de humanidade mais vezes visitaram os hospitais o Sr. Presidente do Estado Dr. Altino Arantes, o exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano D. Duarte Leopoldo e Silva, o Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho consolando os doentes e procurando suavizar-lhes os sofrimentos. As despesas foram cobertas pelo exmo Sr. Arcebispo. Para adjutório foram dados os seguintes donativos: PP. Redentoristas 200#000, Pia União das Filhas de Maria 100#000, Dr. Hildebrando Cintra 100#000, Sr. Antonio Nietto 100#000; D. Carolina Queiros 80#000; por intermédio das Irmãs Vicentinas 50#000; por intermédio do vigário 50#000; D. Jandira Duarte Soares 50#000; Cel. Jeremias Sodré 20#000; diversos 20#000; Durante o tempo da epidemia, isto é do dia 20 de Outubro até o dia 1º. de Dezembro foram visitadas 1.328 famílias, socorridos 2.913 enfermos em domicílio, visitados 3.313 enfermos, socorridos nos postos 2240 doentes, hospitalizados 185. Foram feitas 1.158 visitas médicas, distribuídos 149 vales de gêneros, 1.225 vales de carne, 690 vales de medicamentos, 1050 pratos de sopa. Foram ouvidas 185 confissões, feitos casamentos, administradas 79 unções. O total das despesas pelo Sr. Arcebispo foi de 12:220#800.

A par desses esforços muitas preces públicas foram feitas para a cessação do terrível flagelo; nos três primeiros dias da semana cantava-se a ladainha de todos os santos, saindo a procissão da Matriz até a Igreja do Rosário, onde se fazia uma pequena reza em louvor de São Sebastião. As pessoas que não estavam de todo ocupadas com enfermos compareciam às procissões com toda a regularidade; muitas comunhões gerais foram feitas nessa intenção. Aos esforços humanos uniu Deus sua graça, pois de quase quatro mil gripados morreram noventa e três. Existem ainda alguns casos de recaída.

 

Conforme a ordem do exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano houve na Penha solene Te Deum de ação de graças pela cessação do duplo flagelo da guerra e da epidemia. Antes do Te Deum fiz uma alocução apropriada ao ato. Em seguida foi dada a benção do Santíssimo”.

 

Em sua missão de Padroeira da Cidade de São Paulo, Nossa Senhora da Penha quer ter consigo seus devotos. Estes, arregaçando as mangas, precisam se colocar a serviço da cidade e daqueles que, nela, mais precisam.

Postado por José Morelli

                 

          

"Diga-me com quem andas,..."

 

                                                                                           A sabedoria popular consagrou esse ditado e, embora                                                                                                                                                                                                                      sejam identificadas honrosas exceções, ele tem como ser comprovado inúmeras vezes. Dentre todos e todas as pessoas a quem essa afirmação se aplica e no sentido positivo é a São José, esposo de Maria e pai adotivo do Menino Jesus.

Os evangelhos falam relativamente pouco a respeito desse personagem, que recebeu de Deus a missão de estar à frente e de responsabilizar-se pela manutenção e segurança de sua pequena-grande família, acompanhando-a em momentos fundamentais de sua trajetória terrena. O adjetivo com o qual o escritor bíblico o qualifica é o de que se tratava de “um homem justo”.

No capítulo primeiro de seu evangelho, Mateus insere a genealogia de José, uma forma de liga-lo à história do povo judeu a começar de Abraão, Isaac e Jacó, passando por Davi e Salomão e chegando ao seu bisavô Eleazar, ao seu avô Matan e a seu pai Jacó, através do qual José veio ao mundo. O evangelista conclui dizendo que, de José, esposo de Maria, nasceu Jesus, chamado o Cristo. Mateus não omitiu que foi da mulher de Urias, Betsabé, que nasceu seu filho Salomão. A apresentação da genealogia de José por Mateus mostra a descendência de José da casa de Davi e, ao mesmo tempo, mostra a inserção de Jesus no povo judeu que, embora predileto no chamado à salvação, não deixava de ser um povo pecador e carente da misericórdia divina.

Na sequência dos fatos, o evangelista Lucas, em seu capítulo primeiro, versículos 26 e 27, narra a passagem em que “o anjo Gabriel foi mandado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi. A Virgem se chamava Maria”.

Voltando a Mateus, capítulo primeiro, versículos 19 e 20, o evangelista diz que o esposo de Maria, “sendo um homem justo e não querendo acusa-la, resolveu separar-se ocultamente dela. Ele já havia tomado essa resolução, quando um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de tomar contigo Maria, tua esposa, porque o que foi gerado nela vem do Espírito Santo”.

É interessante notar que, para Maria, o anjo não aparece como em sonho e, no entanto, nas diversas vezes em que ele aparece a José é sempre na forma de sonho.    Talvez, com isso, os escritores bíblicos quisessem assinalar a proximidade de José a todos nós, seres humanos e comuns mortais. José sabia interpretar as vontades de Deus nos acontecimentos corriqueiros de sua vida.

Ainda no capítulo primeiro, versículos 24 e 25, Mateus relata que “José fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor: tomou consigo sua esposa. Mas ele não teve relações com ela até quando deu à luz um filho a quem deu o nome de Jesus”.

No capítulo segundo, do versículo 4º. ao 7º., falando do recenseamento ordenado pelo imperador Cesar Augusto, o evangelista Mateus diz que: ”Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a cidade de Davi, que é chamada Belém, na Judeia – porque era da linhagem de Davi – para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, quando estavam lá, chegou o tempo em que ela devia dar à luz. Ela teve seu filho primogênito, enrolou-o em faixas, e o colocou numa manjedoura, porque não tinham lugar na estalagem”.

No versículo 13 do mesmo capítulo, Mateus explica que “Depois que os magos partiram um anjo apareceu em sonho a José dizendo: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e foge para o Egito. Permanece lá até eu te avisar, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, de noite, e retirou-se em direção ao Egito”. Nos versículos 19 a 22, Mateus continua a contar que “Depois da morte de Herodes, eis que um anjo aparece em sonho a José, no Egito. E lhe diz: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque morreram os que haviam tramado contra a vida do menino. Ele se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, e reentrou na terra de Israel. Mas ouviu falar que Arquelau reinava na Judeia, tendo sucedido a seu pai Herodes, e ficou com medo de ir para lá. Avisado por Deus em sonho, retirou-se para a região da Galileia”.

No relato em que Lucas descreve, no versículo 21 do capítulo segundo, a ida de Jesus ao templo para ser circuncidado, os nomes nem de José nem de Maria são mencionados.

A última menção a José, sem citar o seu nome, é feita por Lucas no capítulo segundo, versículo 41 e seguintes: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram, como de costume, para a festa. Depois que passaram os dias da festa, ao voltarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem... Depois de três dias eles o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam estavam assombrados com sua sabedoria e suas respostas. Quando o viram, ficaram comovidos e sua mãe lhe disse: “Meu filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura!”

Marcos e João nada falam a respeito de José. A narrativa desses dois evangelistas partem do momento em que Jesus, já adulto, inicia sua vida pública levando aos seus conterrâneos e contemporâneos sua mensagem por palavras e ações.

Transparece nos textos de Mateus e de Lucas, acima citados, a personalidade inspiradora de José. Neles não consta frase alguma que tenha saído de sua boca. No entanto, pelas atitudes descritas, ressalta a figura cativante de um homem justo em suas intenções e posicionamentos, seja como esposo ou pai dedicado, seja como cidadão, sintonizado nos acontecimentos que exigiam prontidão nas decisões frente a inúmeros desafios que teve de enfrentar.

Na Carta Apostólica “Patris corde (Com coração de Pai)” - escrita pelo Papa Francisco, já dentro deste período de pandemia em que vive a humanidade, e a partir do entendimento que a comunidade cristã formatou em seu imaginário a respeito deste santo, nos mais de dois mil anos de história da Igreja, o período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021 foi instituído como ano dedicado a São José. Por meio desta carta, o Papa nos convida a voltarmos nossos pensamentos para este santo, invocado como pai e intercessor dos necessitados, dos exilados e dos moribundos que, em vida, e na convivência diária com sua esposa Maria e seu filho Jesus, soube responder com fidelidade a todos os chamados que Deus lhe fez em vida.

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

Postado por José Morelli

Casa Morelli de Bolsas Ltda

 Entre o passado e o futuro se insere o presente. E é, a partir deste, que podemos nos voltar seja para o que já aconteceu como para o que ainda vem pela frente. Nesta semana, fomos convidados pela sobrinha Cláudia para a comemoração do aniversário da Loja. Desde que foi aberta pelo papai, no ano de 1937, já se completaram 79 anos corridos. No mesmo espaço geográfico em que ainda se encontra hoje, no número 23 da então Rua da Penha, hoje Avenida Penha de França, Giuseppe Morelli – Seu Pepino - iniciou seus serviços como alfaiate que era. A ele, passados dois anos, veio somar mamãe, Maria Morelli - mais conhecida pelo apelido de Mimi -, com quem ele se casara no dia 1º. de julho de 1939.

Com o surgimento das grandes confecções de roupas feitas, a alfaiataria foi dando espaço ao comércio de bolsas, malas, cintos, chapéus, camisas, gravatas e outros acessórios masculinos e femininos. Os filhos: Francisco Paulo; José e Joaquim, Maria Ignês, Mario Bruno e Carlos Antonio, todos tiveram seu aprendizado profissional nos balcões de atendimento aos fregueses. A interação com o bairro se intensificou em tempos áureos das grandes festas religiosas da Penha.

No final da década de setenta, o Quim – Joaquim -, já casado com a Ione e tendo seus três filhos ainda crianças: Tarcísio, Cláudia e Cassiano, mudou-se para a casa onde todos havíamos passado a infância e a adolescência e assumiu a administração da Loja. Marcou história, por um bom período, a contribuição dada pela Elaine e a figura da Dona Hilda que, com alegria contagiante, granjeou muitas e boas amizades. E a loja foi se especializando na venda de malas de viagem, pastas, lancheiras e mochilas escolares.

Em 97, a Ione passou a responsabilizar-se pela loja com admirável força e competência. Manteve essa peteca no ar até passa-la à responsabilidade da filha Cláudia, juntamente com seu esposo Omar, que lhe dá retaguarda. Nestes últimos anos, o site da loja tornou-a acessível a um número bem maior de interessados pelos serviços que atende. Em toda essa trajetória histórica não se pode deixar de mencionar os inumeráveis fornecedores e a fundamental parceria de tantas colaboradoras e funcionárias.

Depois de ter participado da vida de tantas e tantas gerações de pais e de alunos das escolas que ocupam as áreas centrais da Penha e com um novo visual, mais moderno e dinâmico, a Loja se encontra de cara nova, pronta para atender às demandas que o futuro lhe reserva. Parabéns Claudinha pela oportunidade de comemorar com você tão importante acontecimento para a nossa família e para a nossa Penha.  

Postado por José Morelli

 

 

 

A Basílica da Penha vista em seu interior

 O acesso às três grandes portas principais, talhadas na madeira de alto a baixo com expressivas figuras, se dá através de um espaçoso Ádrio.  De um lado e de outro desse Ádrio, fixadas nas paredes, se encontram duas placas comemorativas: a primeira, da passagem de Dom Pedro I pela Penha, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil e, a segunda, comemorativa da elevação da matriz da Penha, pelo Papa João Paulo II, à categoria de Basílica Menor.

Entre as portas principais e a Nave, propriamente dita, há um espaço através do qual se pode ter acesso à secretaria da igreja e a dependências destinadas a outras prestações de serviços. Portas de vidro, com molas, decoradas cada uma com a figura de um dos doze apóstolos de Jesus, resguardam o recinto da Nave dos ruídos que possam vir da área externa do templo. Simbolicamente, essas figuras representam os guardiões do recinto destinado ao culto e à oração, pessoal e comunitária, de fiéis e devotos.

Na parte superior desta passagem de vidro, um grande vitral, ocupando toda a extensão da entrada, traz a representação estilizada de uma das históricas procissões (translados), nas quais a imagem de Nossa Senhora da Penha, era levada à Catedral da Sé. Toda vez que a cidade sofria alguma situação de flagelo: surtos de doenças graves ou secas prolongadas, as autoridades solicitavam ao bispo o envio da imagem ao centro, onde os paulistanos de todos os recantos pudessem dirigir preces especiais Àquela que é, popularmente, considerada a Padroeira da Cidade.

A cúpula central é sustentada por quatro colunas (na base, cada uma dessas colunas se subdivide em duas). Essas quatro colunas são encimadas pelas figuras dos quatro evangelistas: Marcos; Lucas; João e Mateus. Os evangelhos anunciam JESUS, o JOVEM DE NAZARÉ que, com suas palavras e atitudes é CAMINHO, VERDADE E VIDA – LUZ que ilumina toda humanidade.

O nicho, que é visto no centro do presbitério, abriga a Imagem de Nossa Senhora da Penha, também talhada na madeira e em estilo que se aproxima ao barroco. A chegada dessa imagem, em meados do século XVI, deu origem à primeira capela, cuja presença documentada demarca, também, a fundação do bairro que leva o nome de sua padroeira.

Partindo da cúpula, a basílica da penha possui três lances: o primeiro, que conduz à entrada principal e, dois outros, que conduzem às portas laterais. Esses também podem ser considerados como dois braços de uma cruz (naves laterais). Na extremidade do braço da direita, encontra-se um presépio. Sobre esse presépio estão representados, em pintura, os cinco mistérios gozosos do rosário. As pinturas representando os cinco mistérios luminosos se encontram na extremidade da nave central, abaixo do espaço destinado ao coro. Na parede, que faz fundo às imagens do Calvário, representativas de Jesus crucificado, Maria, o Apóstolo João e Maria Madalena, podem ser vistas as pinturas dos cinco mistérios dolorosos. Por fim, na cúpula menor que se encontra sobre o nicho da imagem de Nossa Senhora da Penha, a pintura de Maria sendo elevada ao céu, sintetiza as mensagens contidas nos cinco mistérios gloriosos.

Os vitrais que filtram a luz solar, na parte superior das paredes da basílica, todos eles trazem representações de Nossa Senhora, em seus múltiplos títulos. Esses títulos surgiram da presença histórica de Nossa Senhora nesses dois mil anos de cristianismo. No mundo inteiro, Nossa Senhora deu demonstração de que não abandona seus filhos. Assim como Jesus, Ela também permanece presente junto à humanidade, mediando o Amor de Deus-Pai, com solicitude de Mãe Carinhosa, em todos os tempos e lugares.

Os itens, assinalados neste texto, foram apresentados aos jovens que, vindo para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, no dia 21 de julho próximo passado, visitaram o Santuário Eucarístico e a nossa Basílica. Eram aproximadamente 100 jovens, vindos da Guatemala e da República de El Salvador. Além de terem se expressado através de alguns cânticos, os visitantes passaram diante da imagem de Nossa Senhora, a fim de que levassem consigo as suas bênçãos.  

Postado por José Morelli

Seringueiras da Betari

De acordo com informações recebidas de um antigo morador do final da rua, as duas seringueiras foram plantadas, há 40 anos atrás, por seu falecido pai, Sr. João, juntamente com outras árvores que se encontram na mesma área verde. Suas raízes e copa são bastante grandes. Porém, chamou a atenção o tamanho diminuto das folhas, diferente do que acontecia em anos anteriores, quando estas eram bem maiores tornando a copa mais densa e bonita. Talvez uma boa poda ou um melhor tratamento de suas raízes possa ajudá-la a recuperar as forças. A subprefeitura penha conta com profissionais experientes, capazes de diagnosticar a causa desse problema das nossas seringueiras. Acredito que elas estejam pedindo ajuda. Não podemos abandoná-las à própria sorte!

A Penha, como bairro não planejado, possui pouquíssimas áreas verdes. São raros os espaços públicos e particulares ocupados por árvores e vegetação. O pouco que restou não pode deixar de ser preservado e cuidado.  A boa qualidade de vida exige interação dos indivíduos com o meio à sua volta. A permeabilidade do solo ajuda no combate às enchentes e na diminuição da temperatura ambiente.  

A ação da natureza e a ação humana. Os arquitetos se esmeram em criar formas sugestivas e belas que adornem os prédios feitos de concreto armado. A natureza, por sua vez, possui em suas formas, uma variedade infinita de simetrias e assimetrias, capazes de encher os olhos dos minimamente atentos. Da visão, as imagens chegam à mente e à alma. A beleza extasia, encanta. Pessoas felizes se tornam produtivas, no sentido positivo.

Da interação com o meio, indivíduo e natureza se constroem mutuamente. A diversidade com que a vida se apresenta permite trocas que enriquecem uns e outros. A saúde tem direções. Saber eleger as melhores direções da saúde é uma sabedoria de vida. Aprimoramo-nos enquanto gente ao cuidarmos de nossos pedaços de chão, sejam eles de cimento ou de terra.

Nossa imagem mental da pessoa do jardineiro o constrói como alguém atento e sensível, harmonioso com a terra e com as plantas. É natural que, da harmonia com a natureza, o jardineiro estenda esse seu aprendizado também para com os seus semelhantes, tornando-se mais humano, em consonância com a sua própria natureza de gente. 

Postado por José Morelli

Sem comentários

Eram três e meia da madrugada do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. De repente, um ruído estridente de moto-serra rompeu o silêncio, despertando do sono alguns dos moradores da Rua Betari, cujas casas eram mais próximas do local de onde vinha o ruído. Levantando da cama, ainda confuso, fui até janela. Dali pude ver uma Fiorino branca, estacionada junto à calçada, no lado oposto de onde se encontrava a árvore que, por alguma razão ainda desconhecida e à semelhança do Mártir da Independência, havia sido condenada à morte. As portas traseiras da Fiorino e a do lado da calçada permaneciam abertas. Um homem, ao seu lado, gesticulava pedindo para que o outro se apressasse na execução da sentença. O barulho era assustador... algum visinho poderia estar ligando para a polícia, era preciso fazer o serviço o mais rápido possível. Logo a árvore tombou, fazendo romper alguns fios que provocaram faíscas. O executor correu para o veículo que o esperava e entrou pela parte de traz, deixando as portas abertas. O outro sentou-se ao volante, deu a partida e saiu velozmente. Várias pessoas vieram à rua e, um tanto assustadas diante da árvore que jazia no chão, mostravam-se chocadas e surpreendidas com a audácia daqueles que haviam praticado tal delito.

Quando o dia clareou mais pessoas vieram para ver o que havia acontecido. A obstrução da calçada e de metade da via limitava a passagem dos veículos. Alguém comentou que outra árvore, mais acima, também havia sido cortada. Devido ao porte maior e a presença de mais fios à sua volta, esta não foi derrubada. Apenas a condenaram, serrando-lhe pouco mais da metade de seu tronco. Tudo executado de acordo com um inteligente plano. Um destacamento do corpo de bombeiros veio examinar as condições da árvore, para verificar se poderia ou não ser poupada. Veio também a Eletropaulo para recuperar a rede elétrica danificada. Algumas fotos foram tiradas. Ninguém, no entanto, conseguiu anotar o número da chapa da Fiorino branca. Os funcionários da subprefeitura passaram o resto do dia para, com o devido cuidado, derrubarem a árvore que ainda não havia sido derrubada, cortarem os galhos das duas e os recolherem no caminhão. No lugar delas, ficou apenas um vazio.

Postado por José Morelli

  

Procissão rima com reflexão

 Hoje, 30 de setembro de 2005, antes que termine o mês em que os penhenses festejam o seu bairro, juntamente com sua Padroeira e da cidade de São Paulo, NOSSA SENHORA DA PENHA, gostaria de registrar alguns pensamentos que me vieram à mente, despertados pelo que vi e senti enquanto participava da procissão do dia 8. Neste ano, a organização dessa parte das festividades ficou à cargo de dois segmentos da sociedade civil do bairro: a Distrital Penha da Associação Comercial e o Viva-Penha, além do apoio indispensável das lideranças da paróquia e dos fiéis devotos de Nossa Senhora, que prestigiaram o acontecimento, seguindo uma tradição que ainda persiste apesar das dificuldades da chamada vida moderna.

A procissão estava marcada para sair da basílica às 20 horas. Antes, com início às 19 horas, haveria a tradicional missa celebrada pelo bispo diocesano Dom Fernando Legal. Nos anos anteriores, essa missa acontecia sempre depois da procissão. Como já era de se esperar, a cerimônia se alongou além do horário previsto. Só por volta das 21 horas é que a procissão foi se formando e dando início ao seu ritual, expressão da fé e da oração dos que ali se encontravam para dela participar.

A Penha é São Paulo, a maior metrópole da América Latina. Não são poucos os obstáculos quando um evento ocupa as ruas dessa cidade dificultando o fluir do trânsito, direito de tantos de chegarem a seus destinos. Porém, é próprio de toda regra admitir exceções. Desta forma, neste ano, o trajeto restaurou o antigo costume de a procissão percorrer as ruas mais centrais da Penha, área representativa do bairro em seu todo, apesar de ocupada, em sua maior parte, por lojas e agências bancárias. Mais do que em outras, a cidade de São Paulo é palco de longas procissões: filas de pessoas em hospitais, bancos, repartições públicas, postos do INSS; filas intermináveis de carros parados ou em marcha lenta em quilômetros e quilômetros de congestionamentos, oportunidades de as pessoas refletirem um pouco na vida, em meio a tantos corres-corres.  A procissão religiosa é carregada de significados. O fiel intui que se trata de um ato rico de sentido, capaz de melhorá-lo em seus relacionamentos: consigo mesmo, com o próximo, com e meio ambiente em que vive e com Deus. Nela, todos se igualam, um não é maior do que o outro. Todos descem ao nível das ruas e caminham pisando no mesmo chão e se dirigindo para um mesmo lugar. Uma oportunidade de se despojarem de si mesmos, de suas posições hierárquicas e de se colocarem uns perante aos outros como simples seres humanos mortais. Numa sociedade que incita ao individualismo, a procissão é um apelo à união e à busca em conjunto de objetivos e destinos comuns. “Quando duas ou mais pessoas se reúnem em meu nome, Eu estou no meio delas”... assim diz Jesus no Evangelho. O valor de uma procissão é a de um sacramental. Cada um vive o que faz na intensidade de sua fé. O que vale são as intenções íntimas. Se são de enganar, de se mostrar perante aos outros estão na contramão do que deve ser. Participar da procissão é testemunhar o próprio pensamento e sentimento, é mostrar-se sem medos ou vergonha de expor-se aos juízos dos outros, é reconhecer-se na própria dignidade e necessidade.

 

A procissão da Festa de Nossa Senhora da Penha, deste ano, teve à sua frente uma banda, composta de jovens pertencentes a uma escola municipal, especialmente convidada. Em seguida, vinham um carro de som, crianças vestidas de anjos e um cortejo de seminaristas, padres e o vigário Monsenhor Calazans, acompanhando o bispo.  Atrás do cortejo clerical, vinha o carro-andor com a imagem da Padroeira. Ao povo em geral coube ocupar o lugar após a imagem. O carro que devia acompanhar o povo e ajudá-lo no entoar dos cânticos e nas orações quebrou-se na última hora e, assim, mais uma vez, o povo ficou desprovido do que lhe era devido. Da forma como podia, este tentava remediar, através da iniciativa de pequenos grupos, que ora rezava alguma dezena do terço ora cantava algum cântico ou dava vivas à Nossa Senhora. O que transparecia era a compenetração e a seriedade com que todos ali se encontravam. Alguns traziam nas mãos velas acesas que, protegidas do vento por finas folhas de papelão branco, deixavam transparecer a luz que reluzia de suas cintilantes chamas.

Em vários pontos do trajeto da procissão, grandes quantidades de bexigas azuis enchidas com gás foram colocadas a uma certa altura, dentro de volumosos sacos, confeccionados em tecido fino e transparente. Quando o carro-andor passava debaixo deles, estes eram rompidos e as bexigas subiam, à semelhança das orações que eram feitas por todos. Alguns dos moradores de casas no caminho da procissão ornaram suas sacadas ou janelas com colchas, flores e velas acesas, a fim de saudar a passagem do cortejo e da imagem da padroeira, estabelecendo-se um elo entre os moradores do bairro, suas casas e Aquela que lhes representa a proteção de Deus na Terra. Este é mais um dos sentidos das procissões, que é o de marcar os diversos lugares com a constante presença do sagrado: ruas e praças, escolas, teatro, bibliotecas, fórum, lojas, indústrias, bancos, casas de moradia, prédios de apartamentos, shopping, locais de lazer e de esportes, posto de saúde, consultórios médicos, hospital, correio e outros lugares onde a população reside, trabalha, estuda, se diverte, cuida e ama, respondendo aos desafios que tem de enfrentar todos os dias o ano inteiro.

 Ao final, quando a procissão adentrava na rua Santo Afonso e se aproximava da basílica, o cortejo foi recepcionado com o início da queima de fogos, uma apoteose de estrondos, luzes e cores, que causou-me grande sobressalto, primeiro, impressionando-me os meus tímpanos e, logo em seguida, as minhas retinas que olhavam para o alto. Meus pensamentos se voltaram para os anos passados de minha infância, na década de 1950/60. Os padres redentoristas da província de São Paulo já completavam 50 anos de Penha e de Brasil. Nesse meio século de permanência, eles haviam conseguido grandes progressos: seminários menores em Aparecida, Goiás e no Rio Grande do Sul, noviciado em Pindamonhangaba, seminário maior em Tietê. Houve anos em que o número de sacerdotes ordenados eram 14/15 novos padres. O curso de pastoral desses recém-ordenados era aqui na Penha, um reforço a mais para o vigário que podia contar com toda essa ajuda no atendimento, tanto da paróquia como dos romeiros e visitantes, que para aqui vinham. Com relação à infra-estrutura para o bom funcionamento de todas as atividades pastorais, a reforma da matriz já estava totalmente concluída, o cinema São Geraldo também, oferecendo amplas salas para algumas das associações nelas se reunirem. A igreja do Rosário também colaborava com o seu espaço. Havia outras casas mais antigas, que abrigavam a Pia União, a Liga Católica e outros grupos. O Colégio São Vicente com o trabalho das irmãs e  participação de seus alunos e alunas também contribuíam. Com toda essa força, o nome de Nossa Senhora da Penha se difundia na cidade e o santuário atendia às demandas dos paroquianos e dos fiéis vindos de outros lugares, principalmente, nas ocasiões das festas de setembro.

Com tudo isso não deveria me admirar que essas festividades do passado, desde as novenas solenes às missas e procissão ocorressem com tanto brilho e atraíssem um número tão grande de pessoas. Recordo-me do coral com orquestra, da iluminação no interior da igreja e nas ruas, das novenas, dos pregadores missionários, dos dragões da independência que abriam as procissões com seus clarins, das bandas da força pública, da guarda civil ou da aeronáutica, que se revezavam de ano para ano, dos carros andores ornamentados pelas irmãs vicentinas, do som da Rádio Azul, da banda de música mantida pela paróquia... O ontem e o hoje se juntam em meus pensamentos, volto a olhar o movimento das pessoas, que já começam a se dispersar. Procissão rima com reflexão que, por sua vez, rima também com conversão.

 Postado por José Morelli

Penha de França

 As expressividades foram muitas. Cada uma delas representativa de valores importantes que assinalaram as direções percorridas nesses mais de três séculos e meio de existência. Não são poucos os nomes pelos quais são chamados nossos rios e ribeirões (Aricanduva, Guaiaúna, Tiquatira...) bem como um número significativo de ruas (Aracati, Umbó, Paracanã, Betari...), que testemunham a presença de índios, num período que antecede à nossa história. Depois deles, tivemos aqui ricas famílias (portuguesas em sua maior parte) possuidoras de grandes extensões de terras, doadas pela coroa portuguesa na forma de sesmarias.

No livro, escrito por mim, cujo título consta na introdução desta matéria “Penha de França – Expressões do Rosário”, registro acontecimentos e personalidades que fizeram parte da herança europeia nos primórdios da Penha: o Padre Jacinto Nunes de Siqueira, construtor da primeira capela e, por isso, considerado fundador do bairro; o Padre Antonio Benedito de Camargo e o antigo casario onde viveu e, no qual, pernoitou Dom Pedro I em sua passagem pela Penha, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil; o Coronel Antonio Prost Rodovalho e seu Palacete outrora construído na rua que leva o seu nome; a senhora Maria Carlota de Melo Franco e sua imponente mansão, no lugar em que hoje se encontra o Posto de Saúde da Penha, na Praça Nossa Senhora da Penha e outros.

Para fazê-las produzir, os proprietários de terras além da mão de obra dos indígenas, contaram também com o trabalho duro de escravizados africanos. Embora o protagonismo destes não tenha merecido o devido registro na história oficial, através das narrativas do livro “Expressões do Rosário” busquei fazer justiça ao legado deixado pelos membros da Antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França, construtora da Igreja de Nossa Senhora do Rosário (patrimônio tombado pelos órgãos de preservação histórica do município e do estado), num tempo em que ainda imperava o regime de escravidão no Brasil. O livro, além de versar sobre o bairro, também conta a história da presença dos africanos e seus descendentes até os dias de hoje.

Postado por José Morelli

Penha de França -1822-2022

 Na próxima quarta-feira, o bairro da Penha de França estará comemorando 200 anos de um acontecimento histórico muito especial. Foi no final da tarde do dia 24 de agosto de 1822 que a Comitiva do Príncipe Regente, Dom Pedro de Alcântara, estando a caminho da Vila de São Paulo de Piratininga, chegou à então Freguesia da Penha. Aqui ele pernoitou num casarão próximo à antiga matriz, local onde se encontra hoje a Agência do Banco do Brasil.

Ainda no dia 24, Dom Pedro instalou o Paço Imperial para que pudesse assinar e, em seguida, encaminhar através de mensageiros, alguns documentos oficiais, dentre os quais ordens às autoridades da Vila para que prendessem algumas pessoas, inimigos políticos, que muito provavelmente iriam preparar manifestações contrárias à sua presença. O pernoite na Penha era estratégico tendo em vista a distância de poucas léguas entre esta e a Vila se São Paulo.

Com as forças renovadas, na manhã do dia seguinte, 25 de agosto, Dom Pedro e Comitiva participaram da missa na Igreja matriz de Nossa Senhora da Penha. Terminada a cerimônia religiosa, o grupo se despediu e seguiu viagem.

Terminada sua estadia na Vila de Piratininga, a Comitiva rumou para Santos lá permanecendo por algum tempo. Ao voltar para o Planalto, passando pelas margens do Córrego Ipiranga, Dom Pedro recebeu os mensageiros que traziam notícias enviadas da Corte. As imposições de Portugal obrigaram que fosse tomada uma atitude drástica pelo Príncipe Dom Pedro. Rebelando-se, ele declarou: “Independência ou Morte”, a partir daquele dia, sete de setembro de 1822, o Brasil rompeu definitivamente a dependência que o ligava a Portugal.

Ao voltar para o Rio de Janeiro, a Comitiva tomou outro caminho, deixando de passar por aqui. Só fico pensando como as imagens dessas cenas entraram pelas retinas dos olhos de tantas pessoas que as presenciaram. Certamente, ficaram gravadas de forma significativa por longo tempo, principalmente, associando-as ao desfecho que teve essa viagem histórica, ocorridas em lugares tão próximos ao nosso.

Postado por José Morelli

"Onde sopram todos os ventos"

Este era o motivo, segundo depoimento do antigo pároco da Penha, Padre António Benedito de Camargo, de a então Freguesia da Penha de França, ser freqüentemente procurada por tantas pessoas adoecidas, que aqui vinham em busca de bons ares que a curassem de suas enfermidades. Ventos capazes de promover, tanto a saúde do corpo como a saúde do espírito.

Bafejados por tais ventos, os negros que nas imediações viviam, constituídos como membros de uma irmandade, no ano de 1802, solicitaram do bispo autorização para construírem uma igreja, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, um lugar onde pudessem praticar suas devoções, além de enterrar dignamente seus mortos, o que os faria se sentirem um pouco menos segregados pela comunidade.

Voltando no tempo, aos primórdios do cristianismo, percebemos que este, nos seus três primeiros séculos de existência, sofreu grandes perseguições da parte dos imperadores romanos. Na arena do Coliseu, os mesmos ofereciam ao povo pão e circo, espetáculos de atrocidades nos quais milhares de cristãos eram jogados para serem devorados por tigres e leões. Depois veio o período, inaugurado pelo Imperador Constantino, em que o cristianismo passou a ser religião oficial do Império Romano. A Igreja Católica se desenvolveu e se expandiu em todas as direções e até aos extremos mais longínquos. Com a descoberta da bússola e o aprimoramento das embarcações vieram os grandes descobrimentos e a ampliação dos comércios. A invenção da imprensa, o protestantismo, e a disseminação das idéias liberais fizeram com que a sociedade fosse se tornando cada vez mais ciosa de seus direitos de liberdade de expressão religiosa. Mais tarde, Garibaldi promoveu a unificação da Itália e a Igreja perdeu os Estados Pontifícios. O Papa convocou o Concílio Vaticano I para poder tomar pé da situação e garantir à Igreja os meios de manter-se em condições de garantir-se em sua sustentabilidade. A instituição das Irmandades dava aos leigos poder sobre as igrejas por elas construídas e administradas. Associações religiosas “modernas” surgiram, estruturadas de maneira a servirem melhor aos objetivos de centralizar o poder nas mãos do clero.

No Brasil, o número de padres seculares era pequeno. Poucos eram também os sacerdotes religiosos, uma vez que, tanto em Portugal como no Brasil, o número destes havia diminuído muito por conta das proibições impostas por Pombal. Nesse contexto, vieram da Holanda e da Alemanha missionários redentoristas para assumirem a evangelização em vários estados brasileiros. O objetivo deles era, também, de retirar o poder que as irmandades tinham sobre as igrejas por elas construídas e administradas.

Trazidos por esses ventos, os redentoristas chegaram à Penha no ano de 1.905. O vigário Padre Antonio Benedito já era bastante idoso. Foi ele que deu posse ao novo pároco. Uma equipe de padres o auxiliava no atendimento da paróquia, que naquela época se estendia até Mogi das Cruzes. Iniciaram suas obras com fervor missionário. Logo os frutos de todo esse empenho começaram a aparecer. Em 20 de Julho de 1.909, a Velha Matriz foi elevada à condição de Santuário Mariano. Com o aumento do número de fiéis que vinham à Penha de todos os cantos da cidade, era urgente que a Igreja passasse por uma profunda reforma e ampliação. Como primeiro passo, os padres redentoristas iniciaram uma reforma com ampliação na Igreja do Rosário, para que esta pudesse substituir a matriz, enquanto fosse reformada.

Quando chegou o ano de 1934 e foi iniciada a reforma do Santuário, os padres redentoristas precisavam reorganizar o uso da Igreja do Rosário. A paróquia já possuía várias associações religiosas para leigos. Não sabemos como a Irmandade dos Homens Pretos se encontrava naqueles tempos. O fato é que, a pedido do vigário na época, Padre Oscar Chagas Azeredo, que era um dos primeiros redentoristas brasileiro, foi feita solicitação ao arcebispo metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva para que autorizasse a fundação e ereção canônica da Irmandade de São Benedito em forma de Associação, de acordo com os estatutos que deviam ser por ele aprovados.

Uma leitura um pouco mais atenta desses estatutos revela a forma ardilosa como foram tratados os membros da Antiga Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França. O primeiro ponto a observar é o fato de a Associação ter sido instalada na Matriz de Nossa Senhora da Penha e não na Igreja do Rosário. Com isso, foi ignorado de que os negros já tinham essa Igreja e não precisavam de outra. O Regulamento não leva em consideração a importância de Nossa Senhora do Rosário e de sua história junto aos negros, desde os tempos em que se encontravam na África.  Mais adiante, o texto dá a entender que uma Igreja dedicada a São Benedito seria construída para a nova Irmandade-Associação, coisa que nunca veio a acontecer até os dias de hoje. “Enquanto não se construir a igreja de São Benedito, a sede da Associação será a Igreja do Rosário, nas horas não tomadas por outras associações de combinação com o Vigário” (pág. 5). Essa afirmação mostra que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário já não era mais considerada como pertencente à Irmandade dos Negros. O Estatuto autoriza apenas que seja feita anualmente uma festa em honra de São Benedito. Mais uma vez, Nossa Senhora do Rosário é deixada à parte. No Cap. 4º, que trata dos Direitos dos Associados. o Art. 17 diz: “Todo associado falecido tem o direito a três missas que, por conta da Associação, serão mandadas celebrar para sufragar a sua alma. Essas missas serão de 7º. Dia, mês e ano”. Porém, no versículo 2º. Vem a ressalva: “Enquanto o estado financeiro da Associação não for desafogado, o associado só tem direito a uma missa após o falecimento”.

 Os ventos vêm e vão. A Irmandade de São Benedito teve seu espaço durante trinta/quarenta anos. Nunca pode gozar de todo prestígio que merecia. A Igreja sempre se manteve na condição de Capela, subordinada à Matriz de Nossa Senhora da Penha. Se as festas em honra do padroeiro conseguiam seu espaço de realização era por conta de algumas pessoas que, com grande devoção, as organizava anualmente. Em 1946 a festa foi comemorada no dia 26 de julho.

A chama acesa foi atingida por novos ventos. A impressão que se deu foi de que ela tinha sido totalmente apagada. Mas, não foi o que exatamente acontecera. O futuro reservava a chegada de ventos mais promissores do nunca. O elo quebrado voltaria a se reconstituir.  

Postado por José Morelli

 

 

  

O lugar e sua história

Desde que a vida humana foi iniciada aqui na Terra, à semelhança de um novelo, ela vem desenrolando seu fio ininterruptamente, até chegar a cada um de nós. Relacionados a essa mesma vida, alguns fatos têm sido registrados por escrito, outros não. O surgimento da comunicação escrita determina a separação entre pré-história e história.  

O espaço geográfico ocupado pelo bairro da Penha de França que, nesta semana, vem sendo homenageado por paulistanos e penhenses, teve também sua pré-história. Aqui, recentemente, foram encontradas peças e utensílios de tribos indígenas que, desde tempos imemoriais, ocuparam estas mesmas terras, deixando sinais de suas presenças. Com a vinda dos colonizadores portugueses para cá, iniciou-se a história propriamente dita. A partir desse período, foram encontrados os primeiros registros escritos de alguns fatos, considerados relevantes, principalmente documentos oficiais relacionados a posses de terras.  

A vida humana é histórica. Ela é a consciência do que acontece. A escrita é apenas um código a mais de linguagem e de entendimento. Saber ler e dimensionar outras mensagens, expressas por meio de peças e utensílios, permite perceber a presença de vidas humanas, tão verdadeiras e densas quanto as nossas. A memória oral dos índios brasileiros é extraordinária. Os conhecimentos que eles conseguiram acumular das capacidades curativas, encontradas principalmente nas plantas, eram transmitidos boca a boca, de geração para geração. A cultura indígena deixou importantes sinais em nosso bairro, basta observar alguns nomes de ruas tais como: Paracanã, Jaborandi, Betari e outras.

Precisamos de algum espaço onde possamos pisar com nossos pés. Temos escolhido este espaço geográfico, chamado Penha de França, para que nos sirva de apoio, mesmo que seja para que, dele, apenas possamos nos dirigir para outros lugares.  Aqui temos nosso habitat. Com os daqui compartilhamos nosso tempo, nossos cuidados e afazeres diários. Constituímo-nos como comunidade. Gostemos ou não, temos entre nós muito em comum.

A Festa do bairro deve ser de todos. Aliás, a festa é das pessoas para as pessoas. A Penha, hoje, somos nós. Somos a consciência deste lugar e de sua história. Se apagarmos esta nossa consciência, tudo o que aqui existe perderá seu sentido, perderá sua razão de existência e de continuidade histórica. Perderemos, também, o sentido de nós mesmos. O fio do novelo de nossa consciência se romperá. Viraremos, simplesmente, meros robôs.  

Postado por José Morelli 

Novena de Nossa Senhora da Penha

Como cristãos e devotos de Nossa Senhora da Penha, nosso olhar é capaz de ver e de reconhecer a vida e tudo o que ela encerra como um grande presente que recebemos de Deus. Por isso, na novena deste ano, vamos refletir e agradecer, de maneira especial:

-          o dom da cidade de São Paulo, que comemora 450 anos de sua fundação;

-          o dom do bairro da Penha, de onde se difunde a devoção à Nossa Senhora como padroeira desta cidade, na comemoração de seus 337 anos de existência;

-          o dom da Diocese de São Miguel Paulista, cuja instalação e posse de seu primeiro bispo diocesano, na pessoa de Dom Fernando Legal, está comemorando 15 anos.

 

O dom da cidade de São Paulo

A história de São Paulo de Piratininga teve início em 25 de janeiro de 1.554, com a construção do Colégio dos jesuítas, pelos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. Como era costume dos colonizadores portugueses, na época, o nome dado ao colégio foi o do santo do dia que, de acordo com o calendário litúrgico, comemorava a Conversão de São Paulo no caminho de Damasco. Tendo se convertido ao cristianismo, São Paulo tornou-se o apóstolo que mais se dedicou à pregação do Evangelho aos não-judeus, conhecidos também como gentios. José de Anchieta empenhou toda sua vida em catequizar os índios; por isso é chamado de apóstolo do Brasil.

Portugueses, índios e religiosos passaram a conviver nos campos de Piratininga, construindo suas choupanas ou casas e dedicando-se ao que era necessário num lugar ainda com tudo por fazer, no sentido de atender aos padrões de vida exigidos por seus novos habitantes. As matas com seus animais pequenos e grandes convidavam à caça. Os rios caudalosos, limpos e cheios de variados peixes instigavam à pesca. A terra fértil servia ao cultivo de hortaliças, raízes e outras plantas, cujos frutos serviam à alimentação de pessoas e de animais domésticos. A vida transcorria laboriosa. Índios e portugueses aprendiam e ensinavam uns aos outros. Quem melhor do que os índios para conhecer os segredos destas terras virgens e a melhor maneira de com elas se harmonizar?... Quanto aos colonizadores, seu espírito era mais presunçoso, julgavam-se superiores e com direitos sobre tudo o que poderia se transformar em dinheiro, coisa que não era conhecida pelos indígenas e não fazia parte de sua cultura. No entanto estes pareciam ser mais felizes do que os europeus  recém-chegados ao povoado.

A sede de riquezas dos colonizadores os levava a agirem de forma violenta, principalmente contra os que ousassem atravessar-lhes o caminho. Inevitáveis se tornaram os conflitos envolvendo portugueses e índios. Com o passar do tempo foram surgindo postos avançados, como as aldeias de Santo Amaro, de São Miguel de Ururaí e outras que pudessem servir de defesa aos moradores da Vila de São Paulo, protegendo-a de ataques de outras tribos indígenas.

Os rios se constituíram como caminhos para se adentrar no interior do Continente. Os campos de Piratininga eram banhados por vários deles: Tamanduateí, Anhangabaú, Pinheiros e o mais famoso, Rio Grande ou Anhembí, que hoje é chamado de Tietê.

450 anos se passaram desde sua fundação. O pequeno povoado cresceu, cresceu muito. O número de seus habitantes se multiplicou a cada nova geração. Hoje, São Paulo é a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. Mesmo com tantos problemas e dificuldades, a cidade de São Paulo se constitui como um dom para todos os que nela vivem e participam de seus bens.

 

O dom do bairro da Penha

Quando os bandeirantes subiam o Anhembí em direção à sua nascente, passando pela foz do Aricanduva, costeavam as terras onde se formaria o povoado e a futura Freguesia da Penha de França. Muitos deles namoravam essas terras e aspiravam obter do rei de Portugal o direito de possuí-las. Essas terras doadas eram chamadas de sesmarias. Ao referir-se a esse período, o historiador Dr. Sylvio Bomtempi chama-o de fase de descortinamento.

Baseando-se em documentos históricos fidedignos, o Dr. Sylvio atesta que, em data anterior a 10 de fevereiro de 1.667 já é feita alusão à Ermida de Nossa Senhora da Penha, mandada construir pelo Padre Jacinto Nunes de Siqueira. Em torno desta e do curral que havia a seu lado, foi se formando o povoado. Com isso, o futuro bairro da Penha teve seu início, passando a entrelaçar sua história com a história de toda a cidade de São Paulo.

De maneira natural e espontânea a devoção à Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Penha, foi se desenvolvendo, atraindo muitos fiéis de todos os cantos a freqüentarem a ermida que, com o passar do tempo, foi passando por reformas e ampliações, transformando-se em capela e, depois em igreja.

Toda vez que alguma epidemia ou seca prolongada se abatia sobre a cidade, a imagem de Nossa Senhora da Penha era levada até a Sé, onde eram feitas orações especiais, pedindo proteção para todos seus habitantes. Essa prática foi se consolidando no pensamento e no coração de muitos moradores, que passaram a considerar Nossa Senhora da Penha Padroeira da cidade de São Paulo.

Se os translados da imagem da padroeira levavam a Penha e os penhenses à catedral da Sé, entrelaçando a história do bairro com a da cidade; nas ocasiões das festas do mês de setembro, eram os moradores do centro e de outros bairros que vinham à Penha, a fim de participarem das novenas, missas, procissões e outras homenagens à Nossa Senhora. São muitos os relatos de historiadores que se referem a essas tradicionais festas, desde o tempo em que o transporte dos devotos só podia ser por tração animal, até o advento do trem e, depois, no início do século XX, através dos bondes. A fé e a religiosidade do povo ajudaram o bairro em seu desenvolvimento.

Chácaras de hortaliças e flores, nas várzeas do Tietê, Aricanduva, Tiquatira  e diversos outros ribeirões menores contribuíam para abastecer a cidade, ajudando-a social e economicamente. Portos de areia, olarias, estaleiro de embarcações, localizados ao longo do Tietê, principalmente, contribuíram na expansão da cidade, fazendo-a crescer em todos os sentidos.

Neste ano de 2.004, ao completar 337 anos de existência, a participação da Penha e de sua dimensão religiosa na cidade de São Paulo é crescente. Ganham importância a Basílica, como centro da pastoral paroquial e de atendimento aos visitantes e romeiros, o Santuário Eucarístico, ligado a tantas histórias e com seu dom especial como espaço de oração e a Igreja do Rosário, construída pela antiga Irmandade dos Homens Pretos da Freguesia da Penha de França, e que já completou 202 anos de existência.

 

O dom da Diocese de São Miguel

A fundação do bairro de São Miguel ocorreu no ano de 1560 e seu fundador é o Padre José de Anchieta. Esta é a afirmação feita pelo Dr. Sylvio Bomtempi e que foi por ele demonstrada no livro “Origens Históricas de São Miguel Paulista”, publicado pela Unicsul - (Universidade Cruzeiro do Sul), em comemoração do V Centenário do Brasil e do 440º Ano de São Miguel Paulista. A capela, existente desde os primórdios do aldeamento, foi reconstruída, sofrendo ampliação. Dessa época veio-lhe a inscrição que se encontra no batente superior da porta principal: “Aos 18 de julho de 1622 S. Miguel”.

A Diocese de São Miguel Paulista foi criada pelo Papa João Paulo II, no dia 15 de março de 1989, tendo sido o seu território desmembrado da Arquidiocese de São Paulo. A instalação da nova Diocese e posse do seu primeiro Bispo Diocesano, Dom Fernando Legal, SDB, ocorreram no dia 28 de maio de 1989, às 15h00, na então Matriz de São Miguel Arcanjo, elevada ao grau e dignidade de Catedral da Igreja, no bairro de São Miguel Paulista.

Postado por José Morelli


"Nem a chuva atrapalhou!"

 Nem todo lugar, cidade ou bairro, possui uma lenda que seus primeiros habitantes tenham construído a respeito de sua origem. Nosso querido bairro da Penha de França se inclui dentre aqueles que foram aquinhoados por essa peculiaridade histórica. Contam desde tempos imemoriais que um viajante francês, passando por estas bandas e trazendo consigo uma imagem de Maria, a Mãe de Jesus, ao se encontrar a meia encosta do outeiro, resolveu fazer uma paragem a fim de descansar, tomar uma água fresca de fonte e, de quebra, contemplar a linda paisagem da planície que se descortinava desde o futuro Tatuapé até a várzea do Tamanduateí, próxima da Vila de São Paulo de Piratininga. 

Recomposto em suas energias, o viajante continuou seu caminho rumo ao leste. Só depois de ter se distanciado muito, voltou a parar mais uma vez. Foi aí que percebeu que a imagem já não se encontrava junto com seus pertences. Imediatamente, retornou ao lugar de seu último pouso em busca da imagem esquecida.

Por três vezes, o mesmo fenômeno aconteceu, motivo suficiente para que o francês entendesse que, nesse fato, havia uma mensagem embutida: Nossa Senhora escolhera o outeiro para ali estabelecer sua morada definitiva. Resolveu, então, construir no lugar uma pequena capela na qual colocou, sobre um altar, a bela imagem. A escolha fora dela e não havia o que discutir. Assim como o chamado à existência de cada um de nós foi por iniciativa de Deus Criador e não nossa, assim também, quem primeiro livremente escolheu a Penha foi Nossa Senhora e não a Penha que a escolheu, movida por puro amor ao lugar e ao povo que nele vivesse ou por ele eventualmente passasse.

Esta lenda foi inspiradora para os antigos habitantes da Penha e da cidade de São Paulo, da mesma forma como pode ser para nós que, hoje, temos a ventura de vivermos dentro dos limites deste nosso bairro que, neste ano, está comemorando 353 anos de história. Os tempos atuais são bicudos. Mais do que nunca, mínimo indispensável é que o povo se irmane em torno de pensamentos positivos e de construção de uma sociedade fraterna e interessada no melhor para todos e todas, sem distinções de classes, diferenças de gênero, de etnias ou de religiões.  Esta é a lição que estamos sendo convidados a aprender e praticar.

Postado por José Morelli

Mínimo Indispensável

 Nem todo lugar, cidade ou bairro, possui uma lenda que seus primeiros habitantes tenham construído a respeito de sua origem. Nosso querido bairro da Penha de França se inclui dentre aqueles que foram aquinhoados por essa peculiaridade histórica. Contam desde tempos imemoriais que um viajante francês, passando por estas bandas e trazendo consigo uma imagem de Maria, a Mãe de Jesus, ao se encontrar a meia encosta do outeiro, resolveu fazer uma paragem a fim de descansar, tomar uma água fresca de fonte e, de quebra, contemplar a linda paisagem da planície que se descortinava desde o futuro Tatuapé até a várzea do Tamanduateí, próxima da Vila de São Paulo de Piratininga. 

Recomposto em suas energias, o viajante continuou seu caminho rumo ao leste. Só depois de ter se distanciado muito, voltou a parar mais uma vez. Foi aí que percebeu que a imagem já não se encontrava junto com seus pertences. Imediatamente, retornou ao lugar de seu último pouso em busca da imagem esquecida.

Por três vezes, o mesmo fenômeno aconteceu, motivo suficiente para que o francês entendesse que, nesse fato, havia uma mensagem embutida: Nossa Senhora escolhera o outeiro para ali estabelecer sua morada definitiva. Resolveu, então, construir no lugar uma pequena capela na qual colocou, sobre um altar, a bela imagem. A escolha fora dela e não havia o que discutir. Assim como o chamado à existência de cada um de nós foi por iniciativa de Deus Criador e não nossa, assim também, quem primeiro livremente escolheu a Penha foi Nossa Senhora e não a Penha que a escolheu, movida por puro amor ao lugar e ao povo que nele vivesse ou por ele eventualmente passasse.

Esta lenda foi inspiradora para os antigos habitantes da Penha e da cidade de São Paulo, da mesma forma como pode ser para nós que, hoje, temos a ventura de vivermos dentro dos limites deste nosso bairro que, neste ano, está comemorando 353 anos de história. Os tempos atuais são bicudos. Mais do que nunca, mínimo indispensável é que o povo se irmane em torno de pensamentos positivos e de construção de uma sociedade fraterna e interessada no melhor para todos e todas, sem distinções de classes, diferenças de gênero, de etnias ou de religiões.  Esta é a lição que estamos sendo convidados a aprender e praticar.

Postado por José Morelli

"Minha Nossa Senhora da Penha!"

 Não existem dúvidas de que Nossa Senhora da Penha vem fazendo história em nosso Bairro e na Cidade de São Paulo desde que sua imagem foi trazida para cá, há mais de 340 anos. O nome “Penha de França” que foi dado ao bairro veio dela. E, como é crença de muitos, Deus fala através dos fatos, dos acontecimentos históricos e é muito importante saber interpretá-los da melhor forma. Por conta de um entendimento que foi sendo construído através de séculos, o povo cristão-católico da cidade de São Paulo elegeu Nossa Senhora da Penha como sua Padroeira, Aquela que intermediava seus pedidos quando a cidade precisava de proteção em ocasiões de graves necessidades pelas quais passava. Assim, existem registros de os paulistanos solicitarem a ida da imagem de Nossa Senhora à Sé, durante mais de dois séculos. Nas festas de oito de setembro, eram os moradores dos quatro cantos da cidade que vinham à Penha, a fim de homenagearem à Mãe do Céu, Padroeira da cidade e de seu povo.

“Minha Nossa Senhora da Penha!”... Não são poucos os que assim se expressam em algumas circunstâncias especiais de suas vidas.  Ela está presente no inconsciente coletivo de grande parte da população da cidade. A idéia de um relacionamento ininterrupto entre o céu e a terra precisa ser bem entendida. A ação de Deus costuma acontecer com a participação também do homem. É preciso que ambos concorram, respondendo e correspondendo Um com o outro (e este com seus semelhantes).

Os cidadãos participam da proteção da cidade. Organizações sociais, instituições precisam se estruturar para darem respostas aos problemas que, hoje, afligem a cidade. A realidade histórica de Maria, Mãe comum da humanidade, interagindo com seus filhos e filhas em todos os lugares do mundo, amparando-os em seus caminhos, é inspiradora de novas atitudes que ajudem na superação das dificuldades e problemas individuais, familiares e coletivo-sociais. Ajudando-nos, seremos merecedores de sermos ajudados.

Reconhecermos que Nossa Senhora da Penha é a Padroeira da Cidade de São Paulo é um discurso que precisa ser acompanhado da disposição de colaborar nessa ação protetora para a cidade. O professor Guilherme, da Unicid, sonhou com um projeto a ser realizado na Penha, que contemplava um desenvolvimento nesse sentido. Propunha ele a criação de um centro de convenções mariano aqui, que se ocupasse do cuidado pela nossa cidade, numa perspectiva de futuro. Uma idéia que deveria merecer o apoio de todos aqueles que verdadeiramente consideram Nossa Senhora da Penha Padroeira da cidade de São Paulo.  

Postado por José Morelli

Espetáculos de graça

Desde o dia 9 de fevereiro, vem sendo apresentados espetáculos de dança contemporânea no Teatro Martins Penna, no Largo do Rosário. Os artistas pertencem à Cia. Repentistas do Corpo. Até o momento, nos três últimos fins de semana, eles já presentearam aos que compareceram no teatro com três espetáculos diferentes. O primeiro se intitulou “Cordel Encorpado”, uma agradável e bem humorada viagem pelo nordeste e por sua literatura de cordel. O segundo chamou-se “Nessa Onda Que Eu Vou”. Foi a vez de passear pelo Rio de Janeiro, por suas praias e música no ritmo da Bossa Nova, com direito a percussão corporal, sapateado e música ao vivo. O terceiro, na semana passada, juntou a poesia de Carlos Drummond de Andrade ao lirismo do corpo em movimento, numa acoplagem supersensível, com uma série de efeitos tecnológicos, riquíssima em imagens cheias de inspiração. O sugestivo nome desse espetáculo foi “Corpoemas”. Nesta semana, 01 e 02 de março, sábado e domingo, às 19 horas, o título da apresentação é “Lado B”: B de brega.

As três primeiras apresentações foram ótimas. A expectativa é de que a temática da música brega deverá ser um sucesso. O público que esteve presente até agora, deu demonstrações de que gostou. Nos dias em que assisti, todos os espetáculos foram aplaudidos de pé, ao final. Como chamei atenção no título desta matéria, trata-se de espetáculos gratuitos. Uma forma de formar público para o nosso teatro. Não é apenas o centro e a zona sul que podem oferecer entretenimento de qualidade aos que residem do lado de cá da cidade. Depois da reforma, o Martins Penna se tornou ainda mais aconchegante. Os próprios artistas têm elogiado o charme com que ele se reveste. É só uma questão de incluí-lo nas possibilidades de fazer parte do nosso lazer ou do aprimoramento de nossa formação artístico-cultural.

A linguagem falada tem seus códigos. A linguagem do corpo também tem os seus. O código de barra é fichinha frente à imensa riqueza de movimentações e gestos com o corpo pode se expressar, principalmente na dança. Venha conferir. Os bailarinos são: Sérgio Rocha e Cláudia Christ. O diretor técnico e iluminador é o Ari Buccioni. Sinta-se convidado e compareça. Acredito que você vai gostar.

Postado por José Morelli 

Do lugar do cidadão

 O cidadão comum, necessariamente, não precisa ser um técnico em áreas de administração pública para poder contribuir com suas observações, levando às autoridades aquilo que percebe e que pode ajudar a cidade a oferecer uma melhor qualidade de vida a seus moradores. É desse lugar, portanto, que me sinto na obrigação de assinalar algumas constatações, mesmo que sem qualidade de rigor técnico, quanto ao que vem sendo feito no piscinão da Penha. Quem costuma passar pelo local constantemente não pode deixar de intrigar-se com o procedimento de serem retirados caminhões e caminhões de resíduos simplesmente colocando-os de um para outro dos três piscinões. A impressão é de que existe uma desorientação total do que deve ser feito, no sentido de resolver ou minimizar os problemas ali existentes. Na manhã de hoje, quarta feira, dia 10 de fevereiro, depois de dois dias praticamente sem chuva, a água não está conseguindo escoar. O mau cheiro está fortíssimo por toda a imediação. Os poucos funcionários que, com enxadas, desobstruem um dos canais de concreto, são insuficientes diante da imensa necessidade, até que venha a próxima chuva. É como um trabalho de lavar porco que absolutamente não resolve nada. Próximo da comporta do segundo piscinão, no córrego Rincão, uma das placas de cimento quebrou-se e se soltou de um dos lados. Existe acima da mesma uma tubulação com saída de água, que penetra por debaixo da laje quebrada. Se nenhuma providência for tomada, o problema poderá se agravar, talvez com conseqüências imprevisíveis.

Quem não previne, nem sempre tem condições de poder remediar. Foi o que aconteceu com as nossas “irmãs” seringueiras da Betari, que acabaram sendo derrubadas “pelo vento”, na semana passada. Quando chamado à atenção, o poder público não deu a devida atenção. Um dos funcionários encarregado da corta e retirada dos troncos atribuiu a queda à presença de cupins. Há dois anos, quando foi feita a denúncia através deste jornal, nenhuma providência foi tomada para extermínio dos cupins nem uma poda que ajudaria no fortalecimento das raízes. No lado da encosta, estas eram mais superficiais do que do outro lado em que se encontra o asfalto. Deu no que deu. Os gastos com os estragos, causados com o rompimento dos fios e a falta de energia nas imediações, por vários dias, foi bem maior do que se tivesse sido feita a prevenção. Um dos troncos, com uns trinta centímetros de diâmetro, caiu sobre o pára-brisa de um carro que passava por ali no momento da queda, na altura do câmbio. Se tivesse atingido o motorista, o acidente ganharia proporções ainda mais trágicas, podendo até ocupar manchetes de primeira página nos principais jornais da cidade.

Postado por José Morelli

 

Antigo ramal ferroviário da Penha

 Saindo da linha tronco da então denominada Estrada de Ferro do Norte - hoje Central do Brasil, na altura aonde, alguns anos depois, veio a ser edificada a Estação Guaiauna (depois chamada de Carlos de Campos), o ramal ferroviário da Penha vinha até a Estação Penha, próximo da atual Rua (ladeira) Coronel Rodovalho. Sua extensão era de 1.240 metros. Inaugurada por volta do ano de 1875, sua construção atendia à demanda da grande quantidade de romeiros que, vinda da Estação do Norte, no bairro do Brás, se dirigia à igreja e ao centro do bairro da Penha, principalmente nos meses de setembro, quando aconteciam as famosas festas em honra de Nossa Senhora da Penha, popularmente reconhecida como Padroeira da Cidade de São Paulo. O ramal e a estação foram desativados com a vinda do bonde, em 1901.

Mesmo depois da desativação da Estação Penha, parte desse ramal foi utilizada para transporte e lavagem de vagões de gado. O local em que era feita essa higienização ainda traz marcas desse passado histórico. Dele faz parte uma área ocupada por uma casa (com data de 1938) e por um terreno densamente arborizado. Trilhos e outros assessórios ainda podem ser encontrados ali. Bem próxima da Estação Penha do Metrô, na Avenida Orêncio Vidigal, toda essa área se encontra jurisdicionada pelo Ministério da Agricultura.

Trata-se, portanto, de um espaço público que guarda parte da história do bairro da Penha, da Zona Leste e mesmo da Cidade de São Paulo. Somando-se a outros (poucos) patrimônios históricos do bairro que ainda restam, esse espaço merece carinho e atenção dos penhenses e das autoridades responsáveis. Já existem propostas quanto a uma dinamização de toda essa área. Não há garantias de que o espaço verde que ali se encontra esteja devidamente preservado. Quando foi da ocupação de áreas nobres próximas dali, a Penha abriu mão delas a fim de que fossem construídos os piscinões. Será que a Penha não merece investimentos que a façam valorizada, disponibilizada em seus espaços para que a população viva melhor e com mais saúde e qualidade de vida, física e psicológica? É preciso que a comunidade se mobilize e reivindique junto aos poderes públicos insistentemente, sem esmorecimentos!   

Postado por José Morelli

Acervo fotográfico da Penha

 Poucos bairros de São Paulo possuem um acervo fotográfico tão rico de imagens como o que foi organizado pelo saudoso e ilustre penhense, Sr. Hedimir Linguitte, por ocasião da comemoração dos 300 anos da Penha de França, em 1967. Muitas das fotos foram doadas generosamente por famílias do bairro o que tornou o acervo ainda mais expressivo. Depois de ter permanecido no espaço do batistério do Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, o conjunto de fotos passou a ocupar, até uns quatro anos atrás, uma sala no interior da Igreja do Rosário.

Como foi informado em edição, da época, deste jornal para conhecimento de toda comunidade, as fotos foram dali retiradas para digitalização das imagens e produção de novas cópias. Assim, os originais poderiam ser mais bem conservados e não se deteriorariam com sua exposição à luz e às intempéries.

O tempo previsto para conclusão do trabalho e retorno ao lugar de onde havia sido retirado era de um ano e meio aproximadamente. Em vista da demora, foi compreensiva a explicação, dos que se encarregaram da tarefa, de que os computadores que continham as imagens haviam sido roubados e havia a necessidade de recomeçar o trabalho mais uma vez, o que demandaria certo tempo.

Não são poucas as pessoas que se dirigem à Igreja e perguntam ao encarregado do bazar ali existente a respeito das fotos antigas. Diante da não presença destas no local, saem frustradas por não poderem revê-las ou mostra-las a parentes e amigos.

Se queremos que nossa vida presente seja valorizada em sua importância, de igual maneira também merecem valorização a vida vivida e retratada por nossos antepassados e, dos quais, proviemos, devendo-lhes a nossa própria existência. Ver e sentir os sinais deixados por eles é uma garantia de segurança, de continuidade no tempo e no espaço. Faz bem para a saúde física e mental/emocional a constatação da vida que já aconteceu e se desdobrou em fragmentos de pequenas histórias que formam uma história maior.

O Acervo Fotográfico da Penha é um patrimônio da comunidade penhense. É de seu direito que essa memória do bairro retorne o quanto antes para que seja acessível a todos os que desejam partilhar de seu conteúdo que é o passado histórico comum do grupo social, do qual todos nós penhenses, os aqui nascidos ou não, fazemos parte.  

Postado por José Morelli

Penha em evidência

 Neste domingo, dia 21 de setembro, às 8 e meia da manhã, sairemos da escadaria da basílica, levando a imagem de Nossa Senhora da Penha até o “Revelando São Paulo”, um evento que acontece anualmente no Parque da Água Branca com a finalidade de mostrar aos paulistanos a cultura popular e a religiosidade, existentes em todo o Estado. Nossa Senhora da Penha, Padroeira da Cidade de São Paulo, não poderia faltar nesse importante acontecimento!

O caminho a ser percorrido será o seguinte: da basílica, rumaremos à pé até o metrô Penha. Ali, tomamos o metro indo até a estação São Bento. Dali será um pulinho para chegarmos ao Largo do Paissandu. Na igreja, seremos abastecidos com um café e, em seguida, participamos da missa, juntamente com outros grupos que para lá também se dirigiram. Em seguida, daremos início à caminhada até o Parque da Água Branca. Uma multidão estará nos esperando para recepcionar-nos. A imagem de Nossa Senhora da Penha tem sido acolhida com extremo carinho nas duas vezes que lá estivemos nos dois últimos anos.

Carros de bois ornamentados, cavaleiros de vários lugares, grupos de congadas, moçambiques e outros estarão fazendo parte do cortejo. Neste ano, a Imagem de Nossa Senhora da Penha irá em um andor, no qual a bandeira da cidade de São Paulo significará a cidade e o povo que nela habita. A imagem se sobreporá à bandeira como que protegendo-a sob seu manto.

Quem quiser vir conosco, basta chegar à basílica, neste domingo, pouco antes das 8 e meia da manhã e com boa disposição para caminhar. Quem não puder nos acompanhar em todo trajeto, poderá nos esperar no Parque da Água Branca. A festa é ali. Além das manifestações culturais, são encontradas comidas típicas que mostram toda a riqueza da culinária paulista e de outros estados brasileiros. O evento é realizado pela Secretaria de Cultura do Estado e pela ONG  “Abaçai”. O coordenador é o Toninho Macedo.

Só nos resta torcer para que o tempo se afirme, o sol volte a brilhar e afaste para outros lugares o vento gelado destes últimos dias.  Lá estaremos representando a Penha. Vamos ajudá-la para que ganhe mais evidência. Vamos levar à cidade de São Paulo a mensagem de que Nossa Senhora da Penha é, historicamente, a Padroeira da Cidade. Quem a escolheu para essa função foi a fé popular.  

Postado por José Morelli

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Natalício de Maria

 Da palavra “natal” deriva o termo “natalício” que é o mesmo que “aniversário”: comemoração do término de um ano a mais de vida e início de um novo ano.  No dia 15 de agosto passado a tradição católica recordou a Assunção de Maria (final de sua vida terrena). Com leituras bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, a liturgia mostrou a importância desta mulher, cuja missão foi a de ser o elo humano que uniu e une Jesus à humanidade e a toda obra criada em sua grandiosidade temporal e espacial. No livro do Apocalipse de São João, Ela é descrita trajando um manto brilhante como o sol, tendo na cabeça uma coroa com dozes estrelas e sob os pés a lua. Um dragão em fúria ameaçava-lhe subtrair o filho recém-nascido. Coube-lhe o papel de protege-lo esmagando, com seus pés, a cabeça da serpente, conforme já havia sido pré-anunciado no Livro do Gênesis (Gn 3,15).

A cada ano, no dia 8 de setembro, a liturgia reinicia a contagem da história de vida de Maria a começar pela celebração de sua natividade (natalício). Nesse dia, de seu aniversário, a Penha comemora também a festa de sua padroeira: Maria, sob o título de Nossa Senhora da Penha. O documento em que consta a existência da primitiva capela da Penha é de 11 de fevereiro de 1667. Para comemorar o aniversário do bairro deveria ser escolhido um dia que melhor o pudesse representar. No mês de setembro também a Penha foi elevada à condição de Freguesia pela rainha Dona Maria I, de Portugal. Isso se deu através do documento por ela publicado no dia 15 de setembro de 1796. A convergência de tantos acontecimentos ocorridos no mês de setembro, levou ao consenso de que o dia 8 seria o mais adequado à essa comemoração. Portanto, até que não se encontre outro documento mais antigo do que esse, a Penha está comemorando 351 anos de existência histórica.

Quando o historiador, Dr. Sylvio Bomtempi, escolheu um título para seu livro sobre o bairro penhense entendeu que o nome “Penha Histórica” seria condizente com a condição de historicidade que o lugar possui, tendo em vista a quantidade de documentos disponíveis a seu respeito. Essa peculiaridade histórica do bairro se expressa também nos edifícios que lhe foram reconhecidos como patrimônios histórico-culturais pelos órgãos de preservação do município e do estado de São Paulo: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França; o Colégio Santos Dumont; O Ginásio Estadual Nossa Senhora da Penha. No início de 2018, no dia 26 de fevereiro, o Compresp decretou o tombamento do Centro Histórico da Penha. A partir de então, leis especiais regem o uso desse espaço no sentido de manter-lhe sua qualidade de bem histórico a ser preservado e desenvolvido.

A iconografia da Penha começa com a chegada da imagem de Nossa Senhora da Penha que, hoje, se encontra no altar mor da Basílica da Penha, talvez trazida para cá antes mesmo da edificação da primeira capela. Ela é entalhada na madeira e possui toda originalidade que lhe deu o artista que a confeccionou. Uma de suas características é a de trazer em seu braço esquerdo a pessoa do Menino Jesus. Essa é sua missão. Da mesma forma é a iconografia de Nossa Senhora do Rosário e da imagem de São Benedito, ambas encontradas na Igreja do Rosário. Essas três images possuem como característica comum trazerem Jesus nos braços. Os santos são a prova do Amor de Deus para com os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Os santos comprovam que a obra de Deus não fracassou e não irá fracassar nunca. Essa é a razão que temos para festejar, entendendo que a vida vale à pena e que, como diz o cancioneiro popular brasileiro: “desesperar jamais” (Ivan Lins).

Do livro por mim publicado “Penha de França – Expressões do Rosário”, em edição primorosa, vale como um presente a ser dado a quem se gosta. Aqueles que desejarem adquiri-lo poderão fazê-lo a preço de 50,00 reais, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Penha.  

Postado por José Morelli