Poucos falam a
seu respeito, o que não significa que ela não tenha existido ou acontecido
efetivamente. A escrita das palavras, é verdade, chegou-nos com os portugueses
em mil e quinhentos. No entanto, os indígenas brasileiros nos deixaram
registros de suas passagens, através da cultura com que formatavam seu modus
vivendi, dos sons emitidos na linguagem com que se comunicavam, nos nomes que
davam aos lugares e aos objetos que utilizavam e em tudo o que faziam: ao caçar;
ao pescar; ao plantar suas roças; ao construir as ocas que lhes serviam de
moradia; ao esculpir, dos troncos das árvores, as canoas que os transportavam
pelos rios e ribeirões da região; ao realizar os rituais e danças que animavam e
davam sentido às suas vidas.
Em janeiro de
2004, a folha de São Paulo publicou matéria sobre o encontro de objetos
indígenas no centro da Penha. Arqueólogos da Prefeitura de São Paulo coletaram
esse material para estudos e elucidação de nossa pré-história. Enquanto a
arqueologia vai aprofundando suas pesquisas, nós, comuns mortais, vamos
convivendo com nomes de alguns de nossos logradouros, que nos remetem àqueles
povos indígenas, antecessores de importante parcela de nossa população, nossa conterrânea
e contemporânea.
Campos de Ururaí era o
nome dado às terras que iam desde a Penha até São Miguel Paulista. Com esse
mesmo nome, também, era chamada a tribo da Confederação dos Guaianás, que teve
como um de seus principais chefes o cacique Piquerobí. Anhembi era o nome com que os indígenas chamavam o nosso Rio Grande
ou Rio Tietê. Segundo o Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena,
de Clovis Chiaradia, o significado atribuído ao vocábulo Anhembi é o de rio das
perdizes. Aricanduva tem o
sentido de lugar em que são encontradas palmeiras da variedade airy. Irapucará é o mesmo que abelha
ruidosa ou sobrancelhas. Umbó é um vocábulo indígena do Amazonas
cujo significado é intestinos. Paracanã é o nome de um grupo indígena
do Pará. Guaiaúna é o mesmo que caranguejo preto. Tuapé
é, também, um vocábulo indígena do Amazonas e significa céu. Aracati tem o sentido de vento da maresia ou ar impregnado de mau cheiro.
Como sabemos, alguns desses nomes são de ruas, outros de ribeirões de nossa região e adjacências. Alguns deles se encontram, em parte, canalizados e já não podem ser vistos e reconhecidos, em todos os lugares por onde se localizam ou perfazem seus percursos.
Postado por José Morelli
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