quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Nó em pingo d'água

Nem as mais férteis das imaginações não conseguem explicar como “dar nó em pingo d’água”. No entanto, é comum ouvirmos pessoas utilizarem-se desta expressão, quando descrevem situações por que passaram ou estão passando. A sobrevivência de uma família, cuja renda é de apenas um salário mínimo por mês, pode muito bem ser expressa dessa forma. Viver com tão pouco é como desafiar a lei da natureza. O pingo d’água, em sua forma líquida, não é passível de ser manipulado, a ponto de receber o formato de um nó. Só mesmo como fantasia idealizada isso seria possível. Quanto ao salário mínimo, mesmo com a valorização que teve nesses últimos anos, ainda não cumprem seu papel de suprir as necessidades de uma família por menor que seja. Só a insensibilidade de quem nunca passou por dificuldades é que não entende esse óbvio.

Superar dificuldades quase que insuperáveis: este é o sentido desta expressão do nosso idioma. De várias maneiras pode-se chegar a tal feito. Fundamental é de que o agente desta proeza tenha muita determinação e força de vontade. É preciso também que tenha bastante Inteligência e criatividade, quer na escolha dos meios que utiliza, quer na maneira como dispõe deles. O mérito é de quem não foge dos problemas e enfrenta seus desafios até suplantá-los completamente.

A expressão fala de uma sensação. Quem diz: “dei nó em pingo d’água”, manifesta-se em seus sentimentos. Pode sentir-se capaz, mágico, herói. Pode querer chamar a atenção dos outros sobre seu esforço e sua capacidade. Pode, ainda, querer reclamar pela falta de colaboração, de apoio ou de reconhecimento. 

Resistir às frustrações, suportar opressão e descaso são capacidades humanas que exigem muita força interior. Reivindicar, fazer-se respeitar, cobrar das autoridades constituídas e do sistema são, também, qualidades a serem praticadas por quem se reconhece capaz e merecedor de respeito da própria dignidade humana.

A cidadania pede que a coragem e a criatividade, na busca do bem, sejam praticadas também de maneira coletiva. Não apenas individual ou familiarmente precisamos “dar nós em pingos d’água”. Pensando de forma mais ampla, precisamos ser fortes e criativos para enfrentar nossos problemas comuns, problemas que nos atingem como sociedade. Não é justo que desperdicemos, jogando no lixo, tais capacidades!

Postado por José Morelli

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