Nem as mais férteis das imaginações não conseguem explicar como “dar nó em pingo d’água”. No entanto, é comum ouvirmos pessoas utilizarem-se desta expressão, quando descrevem situações por que passaram ou estão passando. A sobrevivência de uma família, cuja renda é de apenas um salário mínimo por mês, pode muito bem ser expressa dessa forma. Viver com tão pouco é como desafiar a lei da natureza. O pingo d’água, em sua forma líquida, não é passível de ser manipulado, a ponto de receber o formato de um nó. Só mesmo como fantasia idealizada isso seria possível. Quanto ao salário mínimo, mesmo com a valorização que teve nesses últimos anos, ainda não cumprem seu papel de suprir as necessidades de uma família por menor que seja. Só a insensibilidade de quem nunca passou por dificuldades é que não entende esse óbvio.
Superar
dificuldades quase que insuperáveis: este é o sentido desta expressão do nosso
idioma. De várias maneiras pode-se chegar a tal feito. Fundamental é de que o
agente desta proeza tenha muita determinação e força de vontade. É preciso
também que tenha bastante Inteligência e criatividade, quer na escolha dos
meios que utiliza, quer na maneira como dispõe deles. O mérito é de quem não
foge dos problemas e enfrenta seus desafios até suplantá-los completamente.
A expressão fala
de uma sensação. Quem diz: “dei nó em pingo d’água”, manifesta-se em seus
sentimentos. Pode sentir-se capaz, mágico, herói. Pode querer chamar a atenção
dos outros sobre seu esforço e sua capacidade. Pode, ainda, querer reclamar
pela falta de colaboração, de apoio ou de reconhecimento.
Resistir às
frustrações, suportar opressão e descaso são capacidades humanas que exigem
muita força interior. Reivindicar, fazer-se respeitar, cobrar das autoridades
constituídas e do sistema são, também, qualidades a serem praticadas por quem
se reconhece capaz e merecedor de respeito da própria dignidade humana.
A cidadania pede que a coragem e a criatividade, na busca do bem, sejam praticadas também de maneira coletiva. Não apenas individual ou familiarmente precisamos “dar nós em pingos d’água”. Pensando de forma mais ampla, precisamos ser fortes e criativos para enfrentar nossos problemas comuns, problemas que nos atingem como sociedade. Não é justo que desperdicemos, jogando no lixo, tais capacidades!
Postado por José Morelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário