quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Narciso

A lenda de Narciso conta de um jovem, que nunca tinha visto seu próprio rosto. Um dia, indo tomar água, viu sua imagem refletida, como num espelho, nas águas cristalinas de um lago. Ficou tão impressionado com sua beleza, que enamorou-se de si mesmo. Não querendo mais deixar de contemplar-se, permaneceu ali, olhando-se sem parar... Acabou caindo na água e afogou-se. Foi transformado, então, numa flor, que passou a ser chamada com seu nome: Flor de Narciso. Narcisismo é a tendência da pessoa de enamorar-se de seu próprio eu. O narcisista não para de olhar para si, nem de pensar e de falar de si.

Narciso foi atraído por sua beleza física. Outras qualidades que não a da beleza corporal, podem atrair o narcisista, fascinando-o e absorvendo-o em suas atenções. Quando a tendência narcísica é tão intensa, que a pessoa se torna incapaz de prestar atenção nos outros, mantendo-se exclusivamente voltada para si, aquilo que é uma qualidade passa a se constituir em um defeito perigoso, capaz de prejudicá-la em seu  desenvolvimento e expansão.

Todos, sem exceção, trazemos em nós uma certa dose de narcisismo. É interessante observar como esta nossa característica narcísica se manifesta em muitas de nossas conversas, principalmente, naquelas em que, por algum motivo, competimos com outras pessoas. A preocupação de aparecer mais do que o outro, dificulta prestar atenção no outro e no que ele diz. Enquanto o outro fala,  ficamos  preparando o que vamos falar depois. O diálogo vira monólogo. Terminada a conversa, vamos os dois embora, sem termos conseguido acrescentar nada àquilo que já sabíamos.

O jovem Narciso foi transformado numa flor. Por mais bonita que seja, uma flor não passa de uma simples flor, um vegetal. A libido, o desejo, desde que capaz de voltar-se para o ego do outro e não só para o próprio ego, amplia-se somando-se e multiplicando-se em seus relacionamentos. Foi o que não aconteceu com Narciso e é o que não acontece com os narcisistas. A qualidade transforma-se na razão de ser do fechamento, num círculo estreito de uma vida que não consegue ser mais do que restringida  em si mesma, vegetativa apenas.

Postado por José Morelli

 

 

 

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