domingo, 11 de fevereiro de 2024

"Ius sperniandi"

 O “direito de espernear, de reclamar, de botar a boca no trombone” (como se costuma dizer). Quando o estômago está vazio e com fome, ele ronca e incomoda até o ponto de que alguma providência seja tomada, no sentido de atendê-lo em sua necessidade. Da mesma forma, qualquer dor física é como um grito de alerta, que chama a atenção para alguma urgência que, no corpo, precisa ser reconhecida e atendida. O bebê literalmente chora e esperneia quando sente uma cólica digestiva aguda, por conta do processo de adaptabilidade aos novos tipos de alimentos que passa a ingerir.

Nos grupos familiares sempre alguma desatenção acontece. Quem se habitua ser sempre pronto e solícito, transmite aos outros que é forte e não precisa de ajuda de ninguém. Mas, como não existe quem seja assim tão auto-suficiente sempre, há momentos em que também precisa de ajuda e apoio daqueles que dele receberam tantos cuidados e atenções. Não é raro que, nesses momentos, precise despertar-lhes a atenção de alguma forma ruidosa (esperneando), a fim de que o percebam e se mobilizem para o ajudarem e apoiarem.

Nas relações de trabalho também acontece de algumas pessoas precisarem não se deixar esquecer pelos outros, dando demonstrações de que existem e estão presentes. Entra ano, sai ano e, por cumprirem com competência suas atribuições, estas não são lembradas e reconhecidas pelo que fazem. Se, por decisão explícita, não se manifestam, pode acontecer de que o corpo destas resolva reclamar, através da manifestação de algum problema físico que as faça adoecer e as obrigue a faltar no emprego.

Nas relações políticas entre grupos sociais sempre acontecem situações de injustiças. Nesses casos, o direito de reclamar, de espernear, é extensivo a todos indistintamente. Há aqueles que se fazem representar junto aos poderes constituídos e há aqueles que não possuem representantes junto aos mesmos. Um outro dito popular diz: “quem não chora, não mama”. Uma sociedade bem constituída garante, a todos, os direitos que são de todos. A vida tem suas leis e estas, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde, encontram maneiras de se mostrarem, no sentido de restabelecerem a justiça, o equilíbrio entre as partes e a saúde psicológica e física.       

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