Há quem mendigue esmola e essa é a forma mais apropriada para o uso do verbo mendigar. Em sua postura, o mendigo como que suplica ajuda alheia. Essa e outras posturas, próprias de quem mendiga, é que identificam também o indivíduo carente de afeto. O juízo que o mesmo faz de si se associa a um sentimento de vazio interior, sôfrego de ser preenchido com alguma migalha de carinho ou de atenção. Neste caso, o verbo mendigar é utilizado em sentido figurativo.
Quem é carente de
afeto é dominado por uma sensação de angústia que o perturba e o faz agir com
alguma inadequação, como se costuma dizer: metendo os pés pelas mãos. Essa
inadequação, muitas vezes, provoca reação contrária daqueles que são por ele (ou
por ela) assediados. A afetividade é, antes de tudo, humana: é carência de
gente e não de coisas.
A título de
exemplo, lembro aqui os versos da música “Teresinha de Jesus”, na versão de Chico
Buarque. Eles dizem assim: “O primeiro me chegou como quem vem do florista:
trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista. Me contou suas
viagens e as vantagens que ele tinha. Me mostrou o seu relógio; me chamava de
rainha. Me encontrou tão desarmada, que tocou meu coração, mas não me negava
nada e, assustada eu disse “não”.
O segundo me
chegou como quem chega do bar; trouxe um litro de aguardente tão amargo de
tragar. Indagou o meu passado e cheirou minha comida, vasculhou minha gaveta;
me chamava de perdida. Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração, mas
não me entregava nada e, assustada, eu disse “não”.
O terceiro me
chegou como quem chega do nada; ele não me trouxe nada (só a si mesmo o que não
seria pouco), também nada perguntou. Mal sei como ele se chama, mas entendo o
que ele quer! se deitou na minha cama e me chama de mulher. Foi chegando
sorrateiro e antes que eu dissesse não, se instalou como um posseiro dentro do
meu coração”.
Postado por José Morelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário