Umas vezes, meu medo se me apresenta escancarado, outras vezes, sutilmente incômodo, roubando-me a paz de meu espírito. Eu e meu medo nos apresentamos como se fôssemos uma coisa só. Não sou capaz de distingui-lo entre quem sou eu e quem é ele, percebendo-o distinto de mim. Se não me predispuser a me voltar para dentro de mim e descobrir meus próprios segredos, não conseguirei avançar na busca pessoal de maior harmonia com o ser real que sou e com a realidade que existe à minha volta.
Meu medo se
constitui de afigurar-me perdendo o controle de mim mesmo, como se um tapete
fosse puxado debaixo de meus pés, tirando-me o equilíbrio e a sensação de
encontrar-me seguro. Sobrevem-me a dificuldade de reconhecer-me em mim, por não
perceber-me correspondendo às expectativas que insisto em alimentar quanto ao
quem sou e como sou. Sonho em ser o que não consigo ser plenamente. Em vão, os
super-heróis da infância, em mim introjetados, não conseguiram iludir-me quanto
aos poderes que percebo não se encontrarem ao meu alcance. Constantemente,
contraio novas dívidas para comigo mesmo. Camadas sobre camadas vão se formando,
no meu psíquico e em meu físico, na tentativa de manter-me racionalmente
justificado perante minha consciência. Injustificavelmente, escondo-me por trás
de minhas fantasias narcísicas. Tal um domquixotezinho que vai tentando se
enganar, inventando-se mil estórias.
No contraponto
do diálogo comigo mesmo, vou ouvindo o máximo que posso, juntando informações.
Tento desmistificar-me, despojar-me de minhas expectativas. Comparo-me com
pessoas, coisas e até mesmo instituições e nas interações que estabelecem.
Permito-me vasculhar por dentro e por fora. Viajo em devaneios. Permito-me
perscrutar minhas sensações com muita atenção. Honestamente, vou me reconhecendo
no que me é íntimo. Percebo-me no que sou de verdade e não no que desejaria
ser. Não sou mais nem menos do que um simples mortal, ser humano, gente de
carne e osso, com apenas certo grau de consciência de mim mesmo e do que
gravita à minha volta.
O impacto com a
realidade externa não deixa de me ser assustador e desestabilizador dos
pensamentos e das emoções. Só pouco a pouco e com determinação é possível assimila-lo.
Para enfrentar a realidade que me é externa, preciso de que meu eu se perceba e
se reconheça em seu próprio medo – sem medo do medo, entendendo-o em suas
razões de ser e assimilando-o no que for possível.
Postado por José Morelli
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