terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Maria e a mulher

 MARIA, filha de Joaquim e de Ana, nasceu menina, com corpo e alma de mulher, constituindo-se como pessoa do sexo feminino. Foi assim que Ela cresceu e se desenvolveu, tendo, em sua juventude, concebido e dado à luz JESUS, o Filho de Deus feito homem. O nome EVA significa “mãe de todos os viventes”. Maria é a nova EVA. Do alto de sua cruz, Jesus anunciou-Lhe e ao mundo que Ela, além de ter sido sua mãe, era também mãe de todos os seres humanos, os já nascidos e os que viriam a nascer da mulher.

O batismo é o sinal desta nova consciência. Toda mulher, por sua capacidade física e espiritual de gerar filhos para o mundo e para Deus, traz em si dimensão semelhante à de Maria por sua maternidade divina, Jesus ressuscitado, elevado junto ao Pai e ao Espírito Santo, é o primogênito e representante de todos os seus irmãos menores. Nele, a salvação já está plenamente realizada. Pela adesão a essa fé, cada ser humano passa a participar conscientemente da Família de Deus na Terra, constituindo-se como Igreja, Comunidade dos Filhos de Deus.

Segundo a definição bíblica, Deus é Amor. Jesus é o Amor de Deus feito gente. A vida é verdadeiramente vida, quando existe amor. Todo ser humano, independentemente do sexo, idade, cor, condição social, já é capaz de amar e de fazer o bem, suscitando esta mesma chama de esperança no coração de seus irmãos, dando-lhes alento e coragem para viverem a vida mais plena e intensamente.

Neste sentido, a capacidade geradora de Vida, que é Amor, não é só da mulher, mas de todo ser humano, seja ele do sexo masculino ou feminino. Dessa forma, homens e mulheres se assemelham a Maria, em sua missão de gerar a vida de Deus em cada coração humano, em todo tempo e lugar.

Olhar cada mulher como Maria é dimensioná-la sob a ótica da fé, respeitando a dignidade que lhe é própria. A mulher que, por sua vez, se olha e se reconhece em sua semelhança com Maria, valoriza-se e se impõe em seu valor por seus gestos e intenções. 

Postado por José Morelli

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

"Venha a nós o Vosso Reino"

Os dez mandamentos da Lei de Deus se resumem, apenas, em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e Amar ao próximo como a si mesmo.

Deus é origem de todo o Bem. Fora d’Ele, o amor não existe. Ignorar este fato é negar a Verdade/Realidade, em seus fundamentos.

Quanto ao amor ao próximo, a sua medida é o amor para consigo mesmo. Portanto; quem não se ama, simplesmente, não tem parâmetro para amar o outro/a. Juízos destorcidos quanto à própria realidade causam ruídos perigosos no exercício do amor fraterno, indispensável à construção do Reino de Deus no mundo, no qual todos somos filhos e filhas de Deus, fraternos entre nós.

Se o pano de fundo de nosso palco interior for amedrontador aos nossos próprios olhos, se vivemos dominados por ideias negativas quanto ao quem somos e como somos, teremos imensa dificuldade de aceitar-nos e de querer-nos bem. Consequentemente, teremos dificuldade de dosar o amor para com o outro/a. Viveremos inseguros e medrosos, vulneráveis a constantes sentimentos de culpa e de menos valia.

O Amor de Deus para conosco, por mais evidente que se apresente nos Evangelhos, não nos será entendido e percebido em toda sua grandeza e profundidade: uma visão ampla que inclui a realidade em seu todo, desde os micros organismos até os astros e estrelas mais longínquos e ainda não vistos mesmo, com o uso das tecnologias mais avançadas existentes, no presente estágio de desenvolvimento em que nos encontramos.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

UM PROJETO DE FUTURO PARA A IGREJA DO ROSÁRIO DA PENHA

 Princípios que norteiam este projeto:

  1. Fazer com que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Penha espelhe, com maior brilho e nitidez, os significados que possui, passando a iluminar como um candeeiro que se encontra sobre a mesa e não debaixo dela, transformando-se num ícone de valores humanos e espirituais, encontrados em sua longa história bem como na daqueles que a vivenciaram, juntamente com ela;
  2. Devolver ao patrimônio os sentidos de cada uma de suas partes, a fim de que estas se tornem expressivas de suas importâncias como espaços de fé e religiosidade, de afirmação e dignidade e de caridade/sociabilidade;
  3. Equipar a Igreja com os meios que lhe permitam sustentabilidade e que estes sejam condizentes com os conteúdos que a mesma representa na fé e religiosidade, na cultura e na história própria, do bairro e da cidade de São Paulo.
  4. Integrar a Igreja do Rosário no contexto da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, na qual existem duas outras importantes igrejas: a Basílica de Nossa Senhora da Penha e o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, cada uma delas com sua missão própria;
  5. Buscando fundamentos no histórico da Igreja do Rosário, discernir qual a missão que lhe corresponde nos dias de hoje, principalmente junto aos afro descendentes.

 

Alguns fundamentos históricos que credenciam a Igreja do Rosário como um ícone de raro valor no contexto da cidade e mesmo do Brasil:

  1. A Irmandade que a construiu já existia no ano de 1755 e a seu respeito são encontradas informações relevantes no Livro de assentamento de Irmãos, existente no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.
  2. No dia 16 de junho de 1802 foi feito o pedido de ereção oficial da Igreja junto ao bispo pela Irmandade dos Homens Pretos.
  3. Em 1909/1910, os padres redentoristas fizeram uma reforma na Igreja do Rosário, envolvendo a taipa com tijolos e acrescentando-lhe partes; porém retirando-lhe algumas características originais e dando-lhe uma nova torre e modificando-lhe a parte fronteiriça.
  4. No dia 4 de maio de 1982, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – CONDEPHAAT decretou o tombamento da Igreja do Rosário da Penha.
  5. A Igreja do Rosário é, dentre outras que existiram no passado, a única na cidade que ainda permanece em pé e que foi construída por Irmandade Negra, em tempos em que ainda vigorava o regime de escravidão no Brasil.  

 

A área total da Igreja em sua parte interna é de, aproximadamente, 350 metros quadrados. Destes, 162 são ocupados pelo antigo presbitério, nave e átrio (espaço religioso), a antiga sacristia com a cozinha e os banheiros ocupam juntos um total de 100 metros quadrados. A ala do lado oposto da torre que, no passado, foi acrescida à construção original para servir como sala dos milagres, ocupa 63 metros quadrados. Por fim, o espaço ocupado pelo coro é de 25 metros quadrados. O lugar ocupado pela Igreja em área central do bairro é privilegiadíssimo. O Largo do Rosário é um espaço público arborizado e com excelente espaço, tradicionalmente utilizado para feiras e eventos artístico-culturais e religiosos.

O acervo fotográfico da Penha, coletado e organizado pelo Sr. Hedimir Linguitte, deve estar voltando para a Igreja do Rosário muito em breve. O prazo para devolução estava previsto para o último dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Esse acervo fotográfico parece harmonizar-se com o sentido que o patrimônio histórico da Igreja representa junto ao bairro. Daí a necessidade de se refletir sobre a melhor maneira de como colocá-lo à disposição do público.

A reforma feita na Igreja por Monsenhor Calazans deu-lhe nova vida. As comemorações de aniversário da Igreja a partir do bicentenário em 2002 também têm contribuído para que a mesma se torne mais expressiva em seus sentidos e missão. Por outro lado, pelo fato de a Igreja e o Largo se encontrarem desprotegidos de qualquer grade, seu entorno é ocupado por moradores de rua em horários do dia e da noite. Vários destes se dedicam à coleta e venda de produtos para reciclagem, não tendo o cuidado que deviam de recolher o que sobra, além das roupas que lavam e estendem para que sejam secas. Além disso, por não disporem de outro lugar principalmente durante a noite, usam os espaços próximos contíguos à Igreja para fazerem suas necessidades fisiológicas.  

Outro aspecto que deve ser acrescentado aqui é o da atenção que deve ser dada a algumas partes em que a ação dos cupins se apresenta como ameaçadora da estrutura do prédio, exigindo certa urgência na verificação desse processo de deteriorização.

 

Propostas de como viabilizar esse futuro à Igreja do Rosário

  1. Destinar as diversas partes internas da Igreja da seguinte forma: a ala do lado que se opõe à da torre seja toda ela destinada à missão social, conforme sempre coube à mesma cumpri-la desde seus primeiros anos de existência, oferecendo aos negros escravos ou não um lugar onde enterrassem seus mortos; a parte central ser toda ela destinada ao culto religioso, sendo recuperado o presbitério e refeito o altar mor; quanto à parte em que se encontra a torre, esta servir à missão cultural e histórica da Igreja, com bons sanitários para atender aos visitantes, espaços para exposições e consultas históricas, lanchonete com café, de modo que ajude em sua sustentabilidade.
  2. Estudar maneiras de como fazer bom uso do espaço externo ao lado da ala a ser utilizada para a missão social da Igreja. Se a subprefeitura da Penha autorizar o uso, seja ele para que as Irmãs da Comunidade do Caminho o ocupe como espaço de recreação das irmãs e atividades sociais com os moradores de rua. Também poderia verificar a possibilidade de utilização do lugar para uma floricultura, cuja parceria permitisse melhor sustentabilidade à Igreja.
  3. Verificar junto à Subprefeitura as maneiras de como poderiam ser colocadas grades de proteção à Igreja e ao Largo. Elaboração de um projeto nesse sentido de tal forma que não ficasse prejudicada a visibilidade da Igreja, pelo contrário, valorizando-a ainda mais em sua estética.
  4. Refazer o antigo presbitério com o altar mor e os altares laterais.
  5. Estudar maneiras de como iluminar melhor a Igreja, valorizando-a em seu visual interno.
  6. Equipar a Igreja com meios que ajudem na disponibilização de seu espaço destinado à cultura e à história, a fim de que visitantes e alunos de escolas e universidades possam ter contato com a história relacionada à Igreja dos Homens Pretos e à história do bairro.
  7. Assegurar-se, ao serem estabelecidas eventuais parcerias para realização deste projeto, que a Igreja do Rosário da Penha se mantenha em suas atividades como Igreja, fazendo com que o patrimônio histórico se mantenha vivo e não congelado, podendo continuar, integralmente, em sua trajetória histórica de acordo com a missão que lhe é própria.

 

                                                                                                        São Paulo, 28 de outubro de 2010

Postado por José Morelli

 

 

 

 

    

 

 

 

 

 

 

Fazendo jus ao nome de PENHA

 Penha é pedra, penhasco, lugar alto (de onde se pode ver longe e ser visto também). “Não se acende uma candeia para coloca-la debaixo da mesa. Ao contrário, coloca-se em lugar visível e, assim, ilumina-se a todos os que estão na casa!” (Mt. 5,15).

Poucos anos depois da chegada dos Padres Redentoristas aqui em nosso bairro paulistano da Penha de França, no ano de 1905, o arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva pediu a eles que procurassem um lugar adequado, no qual, em futuro próximo, seria erguido um novo templo dedicado Àquela que, por escolha popular, era e é considerada Padroeira da cidade de São Paulo.

Quando, em 1934, já não havia mais condições de a Antiga Matriz da Penha, por suas diminutas dimensões e precariedade de suas taipas, acolher aos inumeráveis peregrinos que a ela vinham todos os fins de semana e pelo fato de os padres ainda não terem encontrado um terreno próximo ao centro do bairro, que atendesse ao desejo de Dom Duarte, preferiu-se fazer uma profunda reforma que remodelasse e ampliasse o Velho Santuário, ali mesmo onde se encontrava, no topo da ladeira Coronel Rodovalho.

Assim aconteceu. Durante a execução da reforma, a Igreja do Rosário substituiu a Matriz por, aproximadamente, seis meses - (de 1º. de julho de 1934 a 2 de fevereiro de 1935).  Nesse período, a Igreja construída pelos escravizados negros, membros da antiga Irmandade que aqui existia, cumpriu o papel de sede paroquial em todas as suas funções.

Muitas negociações foram necessárias para a aquisição da área que, hoje, é ocupada pela Basílica de Nossa Senhora da Penha. Esta, mesmo não estando edificada em lugares tão proeminentes como os das Igrejas da Penha, na cidade de Vitória no Espírito Santo, e a do Rio de Janeiro com seus 365 degraus, ainda assim pode ver e ser vista desde lugares variados e distantes: Vila Matilde, Tatuapé, Belém, Guarulhos.

Depois de tantos anos de construção, a Basílica finalmente se apresenta concluída tanto em sua parte interna como externa. O Bairro e a Cidade, na necessidade de dinamizar seus espaços, cresceu horizontal e verticalmente. Hoje, as torres de prédios fazem sombra umas às outras, diminuindo-lhes a capacidade de visão das paisagens em seus entornos.

Seguindo essa mesma lógica, Monsenhor Calazans decidiu dar visibilidade à imagem de Nossa Senhora da Penha em seu altar da Basílica. Ordenando que lhe fosse retirado o manto, permitiu que a imagem passasse a ser vista e apreciada em sua originalidade. O artista que a entalhou na madeira, deu-lhe feições delicadas e expressivas. A simplicidade de suas vestes e de todo o conjunto, permite que a sintamos mais despojada e próxima de cada um de nós.

Em nossa Basílica, a decoração de vários de seus vitrais nos transmite uma lição catequética de grande importância. Em trinta e seis deles estão representados ícones de Nossa Senhora, cada um com seu respectivo título. “Todas as gerações (em todo o mundo) me chamarão bem-aventurada”. Os vinte e um séculos de cristianismo tem mostrado que a Mãe de Jesus tem  presença constante na vida da Igreja e do Povo de Deus. Cada lugar, cada povo tem sua experiência histórica dessa presença. Nossa Basílica da Penha compartilha todas essas histórias, para que nossas mentes sejam sempre abertas e amplas a todo conhecimento. 

Postado por José Morelli

Penha de França: estamos apagando 350 velinhas em sua homenagem

 Como nos conta o eminente historiador penhense, Dr. Sylvio Bomtempi, em seu livro intitulado “Penha Histórica”, o documento mais antigo em que é citada a primitiva igreja de Nossa Senhora da Penha traz a data de 11 de fevereiro de 1667. Portanto, neste ano de 2017 estamos comemorando 350 anos de existência histórica de nosso querido bairro. Nossas histórias pessoais se entrelaçaram e se entrelaçam com essa história maior que nos contextualiza a todos.

Com a presença da capela, na qual já se encontrava a imagem de Nossa Senhora da Penha, sua vista passou a compor a paisagem do lugar. À meia encosta da colina, esta podia ser visualizada das localidades mais distantes. Seu nome passou a identificar também o seu entorno que não demorou de ser ocupado por outras moradias. Dada sua localização, este naturalmente foi escolhido para servir de pouso aos viajantes que saiam ou iam ao núcleo central da Vila de São Paulo de Piratininga.

No livro acima citado, o Dr. Bomtempi demonstra claramente que o fundador da Penha é o Padre Jacinto Nunes de Siqueira. A ele devemos a promoção e a continuidade da igreja e de suas atividades. Faz parte da biografia deste padre uma graça que ele recebeu ao pedir a Nossa Senhora da Penha que o salvasse de um afogamento quando, à cavalo, atravessava um dos rios da região após uma torrencial chuva.

Como havia acontecido em Lisboa – Portugal - quando esta cidade sofreu grande destruição em consequência de um terremoto e em outros lugares por razões de graves acontecimentos, Nossa Senhora sob o título de Penha de França também passou a ser popularmente reconhecida como Padroeira da cidade de São Paulo e de seus moradores. Não foram poucas as vezes que a população paulistana promoveu a ida da imagem à Sé Catedral, a fim de implorar-lhe proteção especial frente a graves problemas.

Neste mês de setembro, estamos sendo convidados a prestar nossa homenagem à Penha. Não seria fácil manter 350 velinhas acesas até que as pudéssemos apaga-las todos juntos. No entanto, nada nos impede que, no pensamento e no coração, não o façamos com grande alegria... Parabéns Penha! Que venham os próximos 350 anos com ainda maior glória e bênçãos!

Postado por José Morelli

Patrimônios culturais da Região Leste

 Neste sábado, dia 06 de dezembro de 2014, a partir das 9h30, no Centro Cultural da Penha, situado no Largo do Rosário, número 20, será realizado o III Seminário sobre Patrimônios Culturais da Região Leste da Cidade de São Paulo.

Na edição da semana passada, o assunto abordado nesta coluna foi a respeito do Antigo Ramal Ferroviário da Penha. O texto dizia que sinais, dessa antiga via férrea, ainda subsistem. Tais sinais podem servir ao resgate histórico de momentos significativos da memória do Bairro da Penha de França e da Região Leste.

O Grupo intitulado URURAY (nome com que eram chamados os Campos da Região Leste: da Penha até São Miguel Paulista) é que promove o Seminário, acima referido. A discussão a respeito dos patrimônios culturais se insere no contexto do desenvolvimento sustentável da cidade. A discussão visa “a criação de políticas públicas de educação e desenvolvimento urbano e social que tornem efetivos nossos espaços culturais em seus respectivos territórios, uma vez que esses espaços, além de apresentarem-se em estado de deterioração, ou são invisíveis para a maioria da população ou são vistos como espaços de impedimento do desenvolvimento econômico. Trata-se de locais com potencialidades turísticas, educacionais e culturais imprescindíveis para a construção e fortalecimento da identidade dos territórios que ocupam, além de serem núcleos com potencial de desenvolvimento social e de geração de emprego e renda para a comunidade.”

A participação, neste Seminário, é uma forma concreta da população da Região Leste demonstrar seu interesse pelo desenvolvimento sustentável e inteligente de tudo aquilo que realmente tem valor e deve servir como legado às gerações futuras. É importante repetir que, quando foi da ocupação de áreas nobres da Penha para a construção dos piscinões, entre as estações Penha e Vila Matilde, nosso bairro abriu mão de toda aquela área. Será que a Penha e toda Região Leste não merece investimentos que as façam mais valorizadas em suas peculiaridades e originalidades?! Venha você também participar! Não esqueça! O Seminário terá início às 9h30.

Postado por José Morelli

Nossa Senhora da Penha e a Cidade de São Paulo

 O documento mais antigo em que consta registro da presença da primitiva igreja de Nossa Senhora da Penha é datado de 11 de fevereiro de 1667. A existência desta igreja serve como referência da fundação do bairro; por isso, neste ano de 2013, a Penha estará comemorando 346 anos de história.

No contexto da cidade de São Paulo, o desenvolvimento do bairro da Penha, comparado ao dos demais bairros paulistanos, se deu marcado por um importante diferencial, que o influenciou sobremaneira até os anos 50-60 do século passado. A população católica da cidade, que era percentualmente maior do que nos dias de hoje, alimentava a crença de que Maria, a Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Penha, atendia aos pedidos em favor da cidade e de seus habitantes. Toda vez que ocorriam secas prolongadas ou epidemias graves era a Ela que os católicos recorriam. Popularmente, Nossa Senhora da Penha foi passando a ser considerada a padroeira solícita da cidade e da população paulistana. Nos últimos anos, o bairro penhense perdeu seu caráter de intensa religiosidade, deixando de apresentar aquele diferencial que antes o distinguia no âmbito geral da cidade.

Durante mais de dois séculos de história, quando a cidade era assolada por dificuldades, não foram poucas as vezes que a imagem de Nossa Senhora da Penha foi levada em procissão até a Sé Catedral, no intuito de facilitar ao povo da cidade a oportunidade de manifestar fé e esperança em sua poderosa intercessão. Quando a imagem permanecia no bairro, eram os paulistanos dos quatro cantos da cidade que acorriam a seu Santuário.

No ano de 1906, vieram para a Penha os missionários redentoristas. A presença destes representou um grande impulso à inspiração de que Maria é atenta às necessidades do povo, considerado em sua pessoalidade e em sua coletividade. “Em princípios de dezembro de 1918, por ocasião da pandemia de gripe espanhola provocada nos campos de batalha da primeira grande guerra mundial, o vigário da Penha, Padre Oscar Chagas de Azeredo, registrou no Livro do Tombo da Paróquia, apontamentos de um relatório encaminhado ao exmo. Sr. Arcebispo sobre os trabalhos realizados na Penha no sentido de combater esse terrível mal.

A epidemia que nas últimas sete semanas encheu de luto a Capital paulista, não poupou o pacato distrito da Penha; uma campanha, porém, de trabalhos e dedicação enfrentou energicamente o mal. Sob os auspícios do exmo. Sr. D. Duarte, Arcebispo Metropolitano, tratou-se de organizar, em boa hora, o serviço que requeria a maior energia e a maior calma. À medida que os casos se iam aumentando, cresciam os cuidados e o desvelo por parte das autoridades e do povo da Penha. Desapareceu toda a distinção de nacionalidade, de classes e de crenças...” O relato conclui dizendo que, “aos esforços humanos uniu Deus sua graça, pois de quase quatro mil gripados morreram noventa e três”.

 

Em sua missão de Padroeira da Cidade de São Paulo, Nossa Senhora da Penha quer ter consigo seus devotos. Estes, arregaçando as mangas, precisam se colocar a serviço da cidade e daqueles que, nela, mais precisam. Quem sabe este não poderia ser um novo modelo a ser instituído como pastoral no Santuário de Nossa Senhora da Penha, mediante a formação de um fórum permanente de cuidados pela cidade, forma paradigmática que assinalasse para novos valores, necessários à construção de uma sociedade mais fraterna e justa.

Postado por José Morelli

 

Nossa Senhora da Penha de França: expressividade da Fé

 Diferentemente das localidades em que se encontram igrejas de Nossa Senhora da Penha, seja no Rio de Janeiro seja na cidade de Vitória, no Espírito Santo, cujas topografias se caracterizam como cumes de montanhas, a da cidade de São Paulo se encontra a meia encosta da colina, como costumava dizer o eminente historiador penhense, de saudosa memória, Dr. Sylvio Bomtempi. A fim de deixar um registro, de próprio punho, sobre a Penha dos primeiros anos do século passado, o Padre António Benedito de Camargo, vigário da paróquia por longos 55 anos, consignou no Livro do Tombo, em 25 de agosto de 1905, o seguinte:

“edificada sobre um alto, num descampado inteiramente plano, onde sopram todos os ventos, que fazem trazer a população isente de moléstias. É esta procurada continuamente por convalescentes, espécie de sanatório onde têm eles saído sãos, robustos, cheios de vida. É raro, por isso, aparecer entre os habitantes daqui moléstias de caráter grave”.

Dada a posição em que se encontrava e se encontra o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, voltado para o centro da cidade,  o arcebispo de São Paulo, à época, Dom Duarte Leopoldo e Silva, insistia junto aos padres redentoristas de que o lugar onde seria construído o novo santuário (hoje basílica) deveria permitir que o mesmo fosse visível à cidade e que, deste, a cidade pudesse ser vista e protegida pelo olhar atento de Nossa Senhora. 

Para melhor aquilatar o tipo de experiência dos que vinham para as antigas festas da Penha, vale recordar a descrição da festa em 1918, contada no romance “Menino Felipe – Primeira Viagem”, de Afonso Schmidt:

“Os trens partiam superlotados da Estação Norte. Pela estrada de rodagem da Penha, formavam-se cortejos de carroças cobertas de ramos verdes, enfeitadas de bandeirolas de papel de seda. Quando chegavam à subida do santuário, os romeiros deixavam os veículos à porta das vendas (próximo à passagem do Aricanduva), botavam um feixe de capim diante dos burros e galgavam a ladeira, à pé, conduzindo grossas velas de cera... A estação encontrava-se a meio quilometro de distância, num corte praticado na colina, à chegada de cada trem, era uma algazarra. Roceiros vendiam canas, batata doce assada, cuias de garapa e tigelinhas de quentão. Depois, os grupos se punham a caminho da igreja. Ouviam-se queixas de violão, risadas finas de bandolins. Os romeiros caminhavam devagar, colhendo flores dos arbustos que pendiam dos barrancos. Havia gente que parava para contar caso. Ou para tirar o calçado, que lhe espremia os pés. Quando chegamos ao largo da igreja foi um deslumbramento”...

 Tais experiências, relacionadas aos lugares altos, aparecem inúmeras vezes tanto no Antigo como no Novo Testamento da Bíblia de maneira sempre muito significativa. Já no primeiro livro, capítulo 8º do Gênesis, referindo-se à história de Noé e de sua arca, o autor sagrado escreve o seguinte:

“E no sétimo mês, no décimo sétimo dia do mês, a arca pousou sobre as montanhas de Ararat. As águas continuaram a baixar até o décimo mês e, no primeiro dia do décimo mês apareceram os cumes dos montes”. (Gen. 8:4-5)

Nesse mesmo livro encontra-se o relato sobre a Torre de Babel, no qual conta que Javé confundiu as línguas dos que a construíam, a fim de não chegarem a concretizar o ambicioso intento. Em resposta, Javé desce e aplica um castigo àquele povo, a fim de que este entendesse que não deveria fechar-se em si mesmo; mas manter-se aberto a outros povos:

 

 

 

“Vamos construir uma torre cujo cimo atinja os céus! Tornemo-nos famosos e não nos dispersemos pela terra toda... (em resposta, Javé diz) Eia, pois! Desçamos lá mesmo e confundamos-lhes a língua, para que ninguém mais compreenda a fala do outro!“ (Gen. 11: 4 e 7). Babel significa confusão.

Outra passagem atribuída ao patriarca Abraão, mostra como Deus jogou duro com ele. Tendo-lhe prometido que teria uma descendência maior do que as areias do mar, pede-lhe que ofereça em sacrifício seu filho único. Com o intuito de prova-lo, Deus o chama:

“Abraão! Abraão!”. “Eis-me aqui, respondeu-lhe. E Deus continuou: “Toma teu filho, teu único filho, que tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá e lá oferecê-lo-ás em holocausto sobre um dos montes que te indicarei” (Gen. 22:1-2)

Abraão fez tudo como lhe foi pedido; porém, quando estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar o filho, o Anjo do Senhor lhe apareceu e disse:

“Não levantes tua mão contra o menino e não faças mal algum! Agora sei que verdadeiramente temes a Deus, pois não me recusaste teu filho, teu filho único” (Gen. 22: 12)

No livro do Êxodo, Moisés vive a experiência de encontro com Deus desta vez no alto do monte Horeb:

“Moisés apascentava as ovelhas de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Tendo conduzido o rebanho para o outro lado do deserto, chegou à montanha de Deus, o Horeb... Então, no meio da sarça, Deus o chamou: “Moisés! Moisés!” E ele respondeu:  “Aqui estou!” Não te aproximes daqui. Tira as tuas sandálias, porque o lugar em que estás é uma terra santa” (Êxodo 3: 4e5).

Foi ainda nesse mesmo lugar que Deus revelou a Moisés qual o seu nome:

“Mas se eles perguntarem o seu nome? Que é que vou responder-lhes?”. Deus disse a Moisés: “Eu Sou Aquele que Sou” (Javé).  (Êxodo 3:13-14)

Em outro momento, no monte Sinai, Deus entregou a Moisés as duas tábuas da lei, na qual haviam sido gravados os dez mandamentos:

“Moisés subiu para ir ter com Deus. Do alto da montanha, Javé o chamou dizendo: “Assim falarás à casa de Jacó: ... E agora se ouvirdes com atenção a minha voz, e observardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade exclusiva, escolhida dentre todos os povos; pois toda a terra é minha. E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” (Êxodo 19: 3-4e5).

Tendo sido informada, pelo Anjo, que sua prima Isabel se encontrava no sexto mês de gravidez, Maria apressou-se para ir ao seu encontro. O evangelista São Lucas assim escreve:

“Maria se dirigiu a toda pressa para a região montanhosa, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seio dela e ficou cheia do Espírito Santo. Então, exclamou em voz alta: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu seio! De onde me vem a felicidade de que a mãe do meu Senhor venha me visitar?”  (Lucas 1: 39 a 43).

 

 

 

 

No sentido de preparar seus discípulos, para os acontecimentos que iriam se abater sobre Jesus, sua paixão e morte de cruz, Ele transfigurou-se diante deles no alto do monte Tabor. Assim descreve o evangelista Mateus como isto aconteceu:

“Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou a um lugar à parte sobre um alto monte. Transfigurou-se diante deles: seu rosto brilhava como o sol e sua roupa tornou-se branca como a luz. Então lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com ele. Pedro interveio, dizendo a Jesus: “Senhor, como é bom estarmos aqui! Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os envolveu, enquanto dela saía uma voz que dizia: “Este é meu Filho bem amado no qual encontro toda minha satisfação. Ouvi-o”. (Mateus 17: 1-5)

Da mesma forma como Moisés recebeu, no monte Sinai, as tábuas da lei gravadas com os dez mandamentos, Jesus também sobe a um monte, para dali promulgar as bem-aventuranças, que se constituem como aprimoramento da lei mosaica:

“Jesus subiu ao monte. Quando sentou, seus discípulos chegaram para perto dele. Tomou a palavra e ensinava-os assim: “Felizes os pobres em espírito, porque a eles pertence o reino dos céus. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os mansos e humildes, porque herdarão a terra da promessa. Felizes os famintos e sedentos da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque serão tratados com misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os promotores da paz. Porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque a eles pertence o reino dos céus...” (Mateus 5:1-11).

Condenado à morte de cruz, Jesus levou-a sobre os ombros até o monte Calvário. Do alto de sua cruz, Ele nos deixou como herança Maria, sua própria Mãe:

“Perto da cruz de Jesus, estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena. E Jesus, vendo sua mãe e perto dela o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho!” Em seguida, disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe!” E desde aquela hora o discípulo a recebeu aos seus cuidados”. (João 19: 25-27).

De maneira semelhante à experiência de fé, vivenciada pelos romeiros que subiam a ladeira da Penha, rumo ao antigo santuário, caminhando “devagar, colhendo flores dos arbustos que pendiam dos barrancos”, como foi descrito acima no livro de Afonso Schmidt; nos dias atuais, também, experiência parecida pode ser vivenciada pelos componentes dos grupos que vêm participar das visitas monitoradas à Penha. Ao subirem as escadas que levam ao alto da torre da Basílica, outros tipos de flores podem ir colhendo dos arbustos, até chegarem ao amplo terraço, localizado no mesmo andar onde se encontram os cinco sinos que compõem o carrilhão. Desse lugar visualizam a cidade se descortinando, no horizonte: “um deslumbramento”.

Postado por José Morelli

 

Irmandade do Rosário

 Consta da história que, o Padre Jacinto Nunes de Siqueira que havia mandado construir a primitiva Igreja de Nossa Senhora da Penha, em data anterior a 11 de fevereiro de 1667, deixou-lhe em testamento vários bens em terras, bois e vacas, bem como escravos índios e negros. Dentre estes, o negro Felipe e sua esposa e filhos. Eles se destinavam ao cuidado da Igreja afim de que esta pudesse se manter e prosperar em sua missão junto ao povo de toda região.

Não consta da história da Penha que existisse qualquer discriminação quanto à entrada na Igreja e na participação de negros escravizados nas cerimônias. A proximidade em que viviam da Igreja deve ter ajudado esses negros a tomarem a iniciativa de formarem uma Irmandade. Foi então que, quando do surgimento da Irmandade dos Homens Pretos já em 1755 e a construção da Igreja por ela promovida, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, esta não surgisse com o intuito de separar mas de somar e de agregar a todos sem qualquer distinção.

Desde seus primeiros anos, o Rosário vivenciou sua missão de ser testemunha histórica da solidariedade no sofrimento, proporcionando um lugar digno onde os negros pudessem enterrar seus mortos. Em toda sua existência de mais de 200 anos, a Igreja do Rosário da Penha tem servido à sua missão de caridade no atendimento a necessidades sociais do povo.

Esta Igreja que, no dia 19 de setembro acolheu o Padre Henúbio, como responsável pela missão de conduzir suas manifestações religiosas e culturais, tem muito a agradecer a seus idealizadores e construtores já falecidos e por todos os que ainda vivem e têm cooperado para que esta Igreja permaneça ativa em suas funções, cumprindo sua missão própria e expressando sua fé e religiosidade, agregando a todos independentemente de suas diferenças culturais: Monsenhor Calazans que promoveu sua reforma em 2001, a família Casemiro, dona Zezé Machado e a todos que colaboraram na restauração das festas desde 2002, quando da celebração dos 200 anos, o Carlos Coelho, Mestre Matusalém e outros merecem nossa gratidão e um lugar especial em nossos pedidos e intenções.

Postado por José Morelli

 

100 anos de reconhecimento oficial como santuário

 

 

                                                     “Bendito seja o Santuário em que achei consolação

                                                      Meu Bom Jesus, o teu sacrário, deu-me a paz do coração”.

 

Foi no dia 20 de julho de 1909 que os redentoristas tiveram a confirmação, da parte de Dom Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo, que a Igreja de Nossa Senhora da Penha se constituía como um Santuário Mariano na Capital Paulista.

                                                                                            SANTUÁRIO                       

                                                De Igreja a

                                                           De Capela a Igreja

                         De Ermida a Capela

 

Por toda uma história já vivida desde os primórdios, não havia dúvidas de que a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França se constituía como um Santuário. A população católica da cidade de São Paulo já o havia elevado a essa condição. À autoridade eclesiástica só restava a alternativa de ratificar o que o povo, através de atitudes concretas, já havia estabelecido. Retomando a história, revemos alguns dos acontecimentos que fizeram parte da vida do Santuário até os dias atuais:

 

Em data anterior a 11 de fevereiro de 1667, a primitiva Capela de Nossa Senhora da Penha, mandada construir pelo Padre Jacinto Nunes de Siqueira tendo um curral ao seu lado, já se constituía como passagem de tropeiros e viajantes que iam ou vinham da Vila de São Paulo de Piratininga.

 

Quando a cidade de São Paulo sofria com epidemias ou secas, a Imagem de Nossa Senhora da Penha era levada à Catedral da Sé para que os fiéis fizessem preces especiais à Mãe de Jesus que intercedesse junto a Deus a fim de que protegesse a cidade e seus habitantes de todos os males.

Em retribuição a essas visitas da imagem, em setembro, quando aconteciam as festas em honra da Nossa Senhora da Penha, era a vez de os moradores dos quatro cantos da cidade virem ao Santuário da Padroeira para pedirem e agradecerem as graças recebidas.

 

O Príncipe Dom Pedro de Alcântara passando pela Penha de França, no dia 24 de agosto de 1822, instalou aqui o Paço Imperial assinando documentos que seriam enviados à Vila de São Paulo. No dia seguinte assistiu a uma missa na Igreja de Nossa Senhora da Penha. Alguns dias depois, a 7 de setembro, proclamou a Independência do Brasil às margens do riacho Ipiranga.

 

 

Quando da Revolução de 1924, o presidente do Estado de São Paulo Dr. Carlos de Campos veio se refugiar no bairro da Penha, instalando-se no prédio da delegacia que, na época, ocupava um sobrado localizado no Largo do Rosário, mais propriamente na Rua do Asilo. Bairros operários como o Brás e a Mooca sofreram violentos bombardeios. Em várias ruas na Penha foram cavadas trincheiras e o número de soldados bastante numeroso. Muitas famílias, com medo, deixaram suas casas e foram buscar refúgio em regiões mais seguras como a do Cangaíba e outras. Um acontecimento que poucos sabem, encontra-se narrado no Livro das Crônicas do Convento dos Redentoristas, Os padres, temerosos de que alguma bomba caísse sobre a igreja e destruísse a imagem de Nossa Senhora (talhada em madeira), colocaram-na em um barril, fizeram um buraco no quintal do convento e a enterraram ali, deixando-a até que a situação se normalizasse. Felizmente nenhuma bomba foi lançada sobre a Penha. O vigário, que era o Padre Antão Jorge, teve um papel heróico intermediando as informações entre o comando da revolução e o povo penhense que passava por graves necessidades. 

 

No começo da década de 80, uma das paredes laterais do Santuário de Nossa Senhora da Penha desabou por causa de infiltrações. As autoridades do município e da Igreja entenderam que a torre corria o risco de desabar. De comum acordo, decidiram que esta seria demolida. Em troca pelo terreno, a Igreja receberia da Prefeitura um outro em uma região mais distante da Zona Leste. A população do Bairro e da Região não aceitou essa decisão. Unida em torno desse objetivo, conseguiu impedir que a Igreja fosse demolida, podendo agora comemorar os seus cem anos de oficialização como Santuário. Dê uma passadinha lá e veja como ele está bonito. Seria uma grande perda se os penhenses não o tivessem defendido.

Postado por José Morelli

sábado, 24 de agosto de 2024

Não só de festas vivia a Penha do Passado

 Em princípios de dezembro de 1918, por ocasião da pandemia de gripe espanhola provocada nos campos de batalha da primeira grande guerra mundial, o vigário da Penha, Padre Oscar Chagas de Azeredo, registrou no Livro do Tombo da Paróquia, apontamentos de um relatório encaminhado ao exmo. Sr. Arcebispo sobre os trabalhos realizados na Penha no sentido de combater esse terrível mal:

A epidemia que nas últimas sete semanas encheu de luto a Capital paulista, não poupou o pacato distrito da Penha; uma campanha porém de trabalhos e dedicação enfrentou energicamente o mal. Sob os auspícios do exmo. Sr. D. Duarte, Arcebispo Metropolitano, tratou-se de organizar, em boa hora, o serviço que requeria a maior energia e a maior calma. À medida que os casos se iam aumentando, cresciam os cuidados e o desvelo por parte das autoridades e do povo da Penha. Desapareceu toda a distinção de nacionalidade, de classes e de crenças. Graças aos esforços do Monsenhor Silveira Barradas, instalou-se à rua da Penha, em um dos salões, generosamente cedido pelo Major Ângelo Zanchi digníssimo chefe político, o Posto Português de Socorros, que durante todo o tempo em que reinou a epidemia, prestou relevantíssimos serviços aos doentes tanto em medicamentos com em gêneros (alimentícios). Desde o dia 31 de outubro, em que se abriu o posto, prestavam abnegados serviços os senhores Drs. Brandão, Januário Baptista, Cresciuma Paranhos e os doutorandos Heitor Valery Antonio di Paiva Foz e Augusto de Figueiredo, aos quais se uniram abnegadamente diversas outras pessoas, nomeadamente D. Sara Costa, D. Vicentina Camargo do Amaral, D. Maria Barradas de Lara e D. Carolina Queiroz. O Posto dispunha de um automóvel, de que se serviam os médicos nas suas visitas domiciliares; achava-se aberto das 8 às 19 horas recebendo a todos com amabilidade e servindo-os com presteza. O movimento do Posto era contínuo sendo muitíssimas as visitas médicas e as pessoas socorridas em medicamentos e gêneros. Arrostando as dificuldades dos dias chuvosos, subiam e desciam os médicos, com a exma. S. Sara, ladeira de difícil trânsito, ziguezagueando muitas vezes o Tietê. Isso arrancou a gratidão dos moradores das margens do rio, os quais em homenagem à Dona Sara, que a tudo dava vida por seu temperamento sempre risonho, deram a um de seus postos o nome de “Posto de D. Sara”. Em benefício dos enfermos despendeu o Posto nada menos de 10:000#000. Grata a todos esses serviços a população da Penha no dia 24 de novembro, em que foi fechado o posto, organizou uma festinha modesta mas cordial em homenagem ao exmo Sr. Presidente da Câmara, apresentando em seguida um ofício de agradecimento assinado por todas as pessoas de destaque da Penha. Como, porém, entre os doentes, muitos havia que não poderiam receber em casa o tratamento necessário por falta de recursos pela gravidade do mal, o exmo Sr. Arcebispo obteve  do governo as chaves do grupo escolar (hoje “Santos Dumont”) e incumbiu aos Srs. Padres Redentoristas de instalar lá um hospital provisório para os homens; as Irmãs Vicentinas, a pedido do Sr. Arcebispo, cederam o seu Colégio, que ficou servindo de hospital provisório para as mulheres. Como era de esperar não tardaram os enfermos em serem transportados para lá com todo o cuidado em um automóvel, gentilmente cedido, para esse fim, pela repartição de águas por intermédio do Sr. Cândido Motta, que a isto foi instado por D. Vicentina Camargo do Amaral. O hospital provisório dos homens esteve sob a direção médica do doutorando Ulysses da Silva, mais tarde substituído pelo doutorando Armando de Campos, os quais além da medicação hospitalar não recusaram visitas a muitos enfermos, que os chamavam às suas habi

ações, por vezes, bem distantes. O hospital do Grupo foi aberto no dia 3 de Novembro e fechado aos 20 do mesmo mês; recebeu 50 doentes, dos quais faleceram 11 e foram removidos 3 para os hospitais da Capital. Por intermédio do Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, foram pelo governo fornecidos os equipamentos necessários, que faltavam mesmo depois das ofertas generosas dos padres redentoristas e de outras pessoas piedosas. Os padres redentoristas foram incumbidos dos serviços espirituais nos hospitais. Mais de uma vez os enfermos receberam solene e devotamente a sagrada comunhão, rezando em voz alta os atos de preparação e de ação de graças. A mocidade briosa da Penha ofereceu-se generosamente para o cargo de enfermeiros; entre eles destacam-se os seguintes: José Pedro Ferreira Filho, Benedito de Macedo, José Rafael da Motta, José Ferraz, Roberto Rebecchi, Aníbal Boemer da Silva, Augusto Carezzi e Francisco Pezzold, alguns dos quais adoeceram no desempenho da nobre tarefa. Junto aos enfermeiros dedicaram-se ao cuidado do hospital as senhoras D. Antonia Pedroso, D. Maria da Glória, D. Maria Schwenk, D. Mercedes Silvério e D. Áurea Bastos, que sacrificaram noites inteiras para que nada faltasse às vítimas da gripe. Não obstante ao grande temor que o povo tem geralmente aos hospitais todos mostram-se agora gratos pelo ótimo tratamento que lá receberam.

Não menos movimentado foi o hospital das mulheres instalado no Colégio das Irmãs Vicentinas (hoje “Colégio São Vivente). Dia e noite velavam esses anjos de caridade. Diretora e noviças, à cabeceira das doentes, sempre solícitas em diminuir as dores às infelizes. Quatro delas foram atingidas pela gripe, porém não houve caso grave. Esse hospital foi aberto no dia 1 de Novembro e fechado a 1 de Dezembro. A medicação das doentes foi confiada ao Dr. Benjamin dos Reis, que além das enfermas hospitalizadas, distendeu sua ação a muitas famílias que o chamavam confiadas na sua perícia médica e na sua dedicação digna dos melhores encômios.

Esse hospital provisório recebeu 78 enfermas, das quais 46 adultas e 32 crianças; faleceram sete pessoas, sendo três adultas e quatro crianças. Todas as enfermas receberam mais vezes com edificante piedade os sacramentos da Igreja, que as confortavam em suas penas.

Com o mesmo desinteresse material trabalharam incansavelmente os padres redentoristas que não só atendiam aos chamados dos doentes; de dia e de noite, mas até, iam procurando de casa em casa os enfermos para levar-lhes os socorros materiais e espirituais. Era esse quase o único meio de auxiliar famílias inteiras, muitas vezes isoladas nas olarias e nos sítios, sem terem quem delas se compadecesse. Incansável mostrou-se o R. P. Antão Jorge, acompanhando sempre os médicos às casas dos enfermos, servindo-lhes de guia nas ruas da paróquia e em particular nos cortiços quase impenetráveis em muitos lados da nossa Penha; não menos infatigáveis mostraram-se os Revmos. P. Oscar Chagas, P. José Francisco, Pelagio Sauter e Henrique Barros, percorrendo diariamente a paróquia em todas as suas direções, levando aos doentes os vales generosamente cedidos pelo exmo Sr. Arcebispo e mais ainda os confortos da Religião, de sorte que se pode afirmar com segurança não haver falecido na Penha pessoa alguma católica, atacada de gripe sem os últimos sacramentos.Com exceção de alguns espíritas, todos receberam atenciosamente o padre e o médico. A atividade dos padres estendia-se muito além dos limites da paróquia indo até os distritos do Braz e de São Bernardo. Tendo-se aumentado consideravelmente o número de gripados julgou-se necessário convidar o P. José Afonso para o serviço espiritual; ele chegou em meados de novembro e visitou abnegadamente os doentes da Penha e dos bairros do Cangaíba, Vila Sant’Ana, Ponte Grande e Maranhão. De um modo particular trabalhou na primeira semana o exmo. Mons. Barradas, vitimado infelizmente pela gripe que o prostrou no leito até a cessação da epidemia.

Junto com os padres trabalharam ainda os vicentinos, em número de nove, distribuindo vales e chamando os padres quando julgavam necessária a administração dos sacramentos; infelizmente mais da metade desses auxiliares foram atingidos pela enfermidade. Ao lado dos vicentinos, mostrou-se de uma atividade heróica a exma. D. Carolina Queiroz.

A pedido do Dr. Edmur Queiroz cedeu o Governo grande número de caixões para adultos e crianças, os quais foram depositados no Salão São Geraldo e autorizou o vigário a utilizar-se de todos os meios de condução para o transporte dos cadáveres ao cemitério. Em rasgo de humanidade mais vezes visitaram os hospitais o Sr. Presidente do Estado Dr. Altino Arantes, o exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano D. Duarte Leopoldo e Silva, o Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho consolando os doentes e procurando suavizar-lhes os sofrimentos. As despesas foram cobertas pelo exmo Sr. Arcebispo. Para adjutório foram dados os seguintes donativos: PP. Redentoristas 200#000, Pia União das Filhas de Maria 100#000, Dr. Hildebrando Cintra 100#000, Sr. Antonio Nietto 100#000; D. Carolina Queiros 80#000; por intermédio das Irmãs Vicentinas 50#000; por intermédio do vigário 50#000; D. Jandira Duarte Soares 50#000; Cel. Jeremias Sodré 20#000; diversos 20#000; Durante o tempo da epidemia, isto é do dia 20 de Outubro até o dia 1º. de Dezembro foram visitadas 1.328 famílias, socorridos 2.913 enfermos em domicílio, visitados 3.313 enfermos, socorridos nos postos 2240 doentes, hospitalizados 185. Foram feitas 1.158 visitas médicas, distribuídos 149 vales de gêneros, 1.225 vales de carne, 690 vales de medicamentos, 1050 pratos de sopa. Foram ouvidas 185 confissões, feitos casamentos, administradas 79 unções. O total das despesas pelo Sr. Arcebispo foi de 12:220#800.

A par desses esforços muitas preces públicas foram feitas para a cessação do terrível flagelo; nos três primeiros dias da semana cantava-se a ladainha de todos os santos, saindo a procissão da Matriz até a Igreja do Rosário, onde se fazia uma pequena reza em louvor de São Sebastião. As pessoas que não estavam de todo ocupadas com enfermos compareciam às procissões com toda a regularidade; muitas comunhões gerais foram feitas nessa intenção. Aos esforços humanos uniu Deus sua graça, pois de quase quatro mil gripados morreram noventa e três. Existem ainda alguns casos de recaída.

 

Conforme a ordem do exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano houve na Penha solene Te Deum de ação de graças pela cessação do duplo flagelo da guerra e da epidemia. Antes do Te Deum fiz uma alocução apropriada ao ato. Em seguida foi dada a benção do Santíssimo”.

 

Em sua missão de Padroeira da Cidade de São Paulo, Nossa Senhora da Penha quer ter consigo seus devotos. Estes, arregaçando as mangas, precisam se colocar a serviço da cidade e daqueles que, nela, mais precisam.

Postado por José Morelli

                 

          

"Diga-me com quem andas,..."

 

                                                                                           A sabedoria popular consagrou esse ditado e, embora                                                                                                                                                                                                                      sejam identificadas honrosas exceções, ele tem como ser comprovado inúmeras vezes. Dentre todos e todas as pessoas a quem essa afirmação se aplica e no sentido positivo é a São José, esposo de Maria e pai adotivo do Menino Jesus.

Os evangelhos falam relativamente pouco a respeito desse personagem, que recebeu de Deus a missão de estar à frente e de responsabilizar-se pela manutenção e segurança de sua pequena-grande família, acompanhando-a em momentos fundamentais de sua trajetória terrena. O adjetivo com o qual o escritor bíblico o qualifica é o de que se tratava de “um homem justo”.

No capítulo primeiro de seu evangelho, Mateus insere a genealogia de José, uma forma de liga-lo à história do povo judeu a começar de Abraão, Isaac e Jacó, passando por Davi e Salomão e chegando ao seu bisavô Eleazar, ao seu avô Matan e a seu pai Jacó, através do qual José veio ao mundo. O evangelista conclui dizendo que, de José, esposo de Maria, nasceu Jesus, chamado o Cristo. Mateus não omitiu que foi da mulher de Urias, Betsabé, que nasceu seu filho Salomão. A apresentação da genealogia de José por Mateus mostra a descendência de José da casa de Davi e, ao mesmo tempo, mostra a inserção de Jesus no povo judeu que, embora predileto no chamado à salvação, não deixava de ser um povo pecador e carente da misericórdia divina.

Na sequência dos fatos, o evangelista Lucas, em seu capítulo primeiro, versículos 26 e 27, narra a passagem em que “o anjo Gabriel foi mandado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi. A Virgem se chamava Maria”.

Voltando a Mateus, capítulo primeiro, versículos 19 e 20, o evangelista diz que o esposo de Maria, “sendo um homem justo e não querendo acusa-la, resolveu separar-se ocultamente dela. Ele já havia tomado essa resolução, quando um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de tomar contigo Maria, tua esposa, porque o que foi gerado nela vem do Espírito Santo”.

É interessante notar que, para Maria, o anjo não aparece como em sonho e, no entanto, nas diversas vezes em que ele aparece a José é sempre na forma de sonho.    Talvez, com isso, os escritores bíblicos quisessem assinalar a proximidade de José a todos nós, seres humanos e comuns mortais. José sabia interpretar as vontades de Deus nos acontecimentos corriqueiros de sua vida.

Ainda no capítulo primeiro, versículos 24 e 25, Mateus relata que “José fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor: tomou consigo sua esposa. Mas ele não teve relações com ela até quando deu à luz um filho a quem deu o nome de Jesus”.

No capítulo segundo, do versículo 4º. ao 7º., falando do recenseamento ordenado pelo imperador Cesar Augusto, o evangelista Mateus diz que: ”Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, para a cidade de Davi, que é chamada Belém, na Judeia – porque era da linhagem de Davi – para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, quando estavam lá, chegou o tempo em que ela devia dar à luz. Ela teve seu filho primogênito, enrolou-o em faixas, e o colocou numa manjedoura, porque não tinham lugar na estalagem”.

No versículo 13 do mesmo capítulo, Mateus explica que “Depois que os magos partiram um anjo apareceu em sonho a José dizendo: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e foge para o Egito. Permanece lá até eu te avisar, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, de noite, e retirou-se em direção ao Egito”. Nos versículos 19 a 22, Mateus continua a contar que “Depois da morte de Herodes, eis que um anjo aparece em sonho a José, no Egito. E lhe diz: “Levanta, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque morreram os que haviam tramado contra a vida do menino. Ele se levantou, tomou consigo o menino e sua mãe, e reentrou na terra de Israel. Mas ouviu falar que Arquelau reinava na Judeia, tendo sucedido a seu pai Herodes, e ficou com medo de ir para lá. Avisado por Deus em sonho, retirou-se para a região da Galileia”.

No relato em que Lucas descreve, no versículo 21 do capítulo segundo, a ida de Jesus ao templo para ser circuncidado, os nomes nem de José nem de Maria são mencionados.

A última menção a José, sem citar o seu nome, é feita por Lucas no capítulo segundo, versículo 41 e seguintes: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram, como de costume, para a festa. Depois que passaram os dias da festa, ao voltarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que seus pais o soubessem... Depois de três dias eles o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam estavam assombrados com sua sabedoria e suas respostas. Quando o viram, ficaram comovidos e sua mãe lhe disse: “Meu filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura!”

Marcos e João nada falam a respeito de José. A narrativa desses dois evangelistas partem do momento em que Jesus, já adulto, inicia sua vida pública levando aos seus conterrâneos e contemporâneos sua mensagem por palavras e ações.

Transparece nos textos de Mateus e de Lucas, acima citados, a personalidade inspiradora de José. Neles não consta frase alguma que tenha saído de sua boca. No entanto, pelas atitudes descritas, ressalta a figura cativante de um homem justo em suas intenções e posicionamentos, seja como esposo ou pai dedicado, seja como cidadão, sintonizado nos acontecimentos que exigiam prontidão nas decisões frente a inúmeros desafios que teve de enfrentar.

Na Carta Apostólica “Patris corde (Com coração de Pai)” - escrita pelo Papa Francisco, já dentro deste período de pandemia em que vive a humanidade, e a partir do entendimento que a comunidade cristã formatou em seu imaginário a respeito deste santo, nos mais de dois mil anos de história da Igreja, o período de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021 foi instituído como ano dedicado a São José. Por meio desta carta, o Papa nos convida a voltarmos nossos pensamentos para este santo, invocado como pai e intercessor dos necessitados, dos exilados e dos moribundos que, em vida, e na convivência diária com sua esposa Maria e seu filho Jesus, soube responder com fidelidade a todos os chamados que Deus lhe fez em vida.

“Diga-me com quem andas, e eu te direi quem tu és!”

Postado por José Morelli

Casa Morelli de Bolsas Ltda

 Entre o passado e o futuro se insere o presente. E é, a partir deste, que podemos nos voltar seja para o que já aconteceu como para o que ainda vem pela frente. Nesta semana, fomos convidados pela sobrinha Cláudia para a comemoração do aniversário da Loja. Desde que foi aberta pelo papai, no ano de 1937, já se completaram 79 anos corridos. No mesmo espaço geográfico em que ainda se encontra hoje, no número 23 da então Rua da Penha, hoje Avenida Penha de França, Giuseppe Morelli – Seu Pepino - iniciou seus serviços como alfaiate que era. A ele, passados dois anos, veio somar mamãe, Maria Morelli - mais conhecida pelo apelido de Mimi -, com quem ele se casara no dia 1º. de julho de 1939.

Com o surgimento das grandes confecções de roupas feitas, a alfaiataria foi dando espaço ao comércio de bolsas, malas, cintos, chapéus, camisas, gravatas e outros acessórios masculinos e femininos. Os filhos: Francisco Paulo; José e Joaquim, Maria Ignês, Mario Bruno e Carlos Antonio, todos tiveram seu aprendizado profissional nos balcões de atendimento aos fregueses. A interação com o bairro se intensificou em tempos áureos das grandes festas religiosas da Penha.

No final da década de setenta, o Quim – Joaquim -, já casado com a Ione e tendo seus três filhos ainda crianças: Tarcísio, Cláudia e Cassiano, mudou-se para a casa onde todos havíamos passado a infância e a adolescência e assumiu a administração da Loja. Marcou história, por um bom período, a contribuição dada pela Elaine e a figura da Dona Hilda que, com alegria contagiante, granjeou muitas e boas amizades. E a loja foi se especializando na venda de malas de viagem, pastas, lancheiras e mochilas escolares.

Em 97, a Ione passou a responsabilizar-se pela loja com admirável força e competência. Manteve essa peteca no ar até passa-la à responsabilidade da filha Cláudia, juntamente com seu esposo Omar, que lhe dá retaguarda. Nestes últimos anos, o site da loja tornou-a acessível a um número bem maior de interessados pelos serviços que atende. Em toda essa trajetória histórica não se pode deixar de mencionar os inumeráveis fornecedores e a fundamental parceria de tantas colaboradoras e funcionárias.

Depois de ter participado da vida de tantas e tantas gerações de pais e de alunos das escolas que ocupam as áreas centrais da Penha e com um novo visual, mais moderno e dinâmico, a Loja se encontra de cara nova, pronta para atender às demandas que o futuro lhe reserva. Parabéns Claudinha pela oportunidade de comemorar com você tão importante acontecimento para a nossa família e para a nossa Penha.  

Postado por José Morelli

 

 

 

A Basílica da Penha vista em seu interior

 O acesso às três grandes portas principais, talhadas na madeira de alto a baixo com expressivas figuras, se dá através de um espaçoso Ádrio.  De um lado e de outro desse Ádrio, fixadas nas paredes, se encontram duas placas comemorativas: a primeira, da passagem de Dom Pedro I pela Penha, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil e, a segunda, comemorativa da elevação da matriz da Penha, pelo Papa João Paulo II, à categoria de Basílica Menor.

Entre as portas principais e a Nave, propriamente dita, há um espaço através do qual se pode ter acesso à secretaria da igreja e a dependências destinadas a outras prestações de serviços. Portas de vidro, com molas, decoradas cada uma com a figura de um dos doze apóstolos de Jesus, resguardam o recinto da Nave dos ruídos que possam vir da área externa do templo. Simbolicamente, essas figuras representam os guardiões do recinto destinado ao culto e à oração, pessoal e comunitária, de fiéis e devotos.

Na parte superior desta passagem de vidro, um grande vitral, ocupando toda a extensão da entrada, traz a representação estilizada de uma das históricas procissões (translados), nas quais a imagem de Nossa Senhora da Penha, era levada à Catedral da Sé. Toda vez que a cidade sofria alguma situação de flagelo: surtos de doenças graves ou secas prolongadas, as autoridades solicitavam ao bispo o envio da imagem ao centro, onde os paulistanos de todos os recantos pudessem dirigir preces especiais Àquela que é, popularmente, considerada a Padroeira da Cidade.

A cúpula central é sustentada por quatro colunas (na base, cada uma dessas colunas se subdivide em duas). Essas quatro colunas são encimadas pelas figuras dos quatro evangelistas: Marcos; Lucas; João e Mateus. Os evangelhos anunciam JESUS, o JOVEM DE NAZARÉ que, com suas palavras e atitudes é CAMINHO, VERDADE E VIDA – LUZ que ilumina toda humanidade.

O nicho, que é visto no centro do presbitério, abriga a Imagem de Nossa Senhora da Penha, também talhada na madeira e em estilo que se aproxima ao barroco. A chegada dessa imagem, em meados do século XVI, deu origem à primeira capela, cuja presença documentada demarca, também, a fundação do bairro que leva o nome de sua padroeira.

Partindo da cúpula, a basílica da penha possui três lances: o primeiro, que conduz à entrada principal e, dois outros, que conduzem às portas laterais. Esses também podem ser considerados como dois braços de uma cruz (naves laterais). Na extremidade do braço da direita, encontra-se um presépio. Sobre esse presépio estão representados, em pintura, os cinco mistérios gozosos do rosário. As pinturas representando os cinco mistérios luminosos se encontram na extremidade da nave central, abaixo do espaço destinado ao coro. Na parede, que faz fundo às imagens do Calvário, representativas de Jesus crucificado, Maria, o Apóstolo João e Maria Madalena, podem ser vistas as pinturas dos cinco mistérios dolorosos. Por fim, na cúpula menor que se encontra sobre o nicho da imagem de Nossa Senhora da Penha, a pintura de Maria sendo elevada ao céu, sintetiza as mensagens contidas nos cinco mistérios gloriosos.

Os vitrais que filtram a luz solar, na parte superior das paredes da basílica, todos eles trazem representações de Nossa Senhora, em seus múltiplos títulos. Esses títulos surgiram da presença histórica de Nossa Senhora nesses dois mil anos de cristianismo. No mundo inteiro, Nossa Senhora deu demonstração de que não abandona seus filhos. Assim como Jesus, Ela também permanece presente junto à humanidade, mediando o Amor de Deus-Pai, com solicitude de Mãe Carinhosa, em todos os tempos e lugares.

Os itens, assinalados neste texto, foram apresentados aos jovens que, vindo para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, no dia 21 de julho próximo passado, visitaram o Santuário Eucarístico e a nossa Basílica. Eram aproximadamente 100 jovens, vindos da Guatemala e da República de El Salvador. Além de terem se expressado através de alguns cânticos, os visitantes passaram diante da imagem de Nossa Senhora, a fim de que levassem consigo as suas bênçãos.  

Postado por José Morelli

Seringueiras da Betari

De acordo com informações recebidas de um antigo morador do final da rua, as duas seringueiras foram plantadas, há 40 anos atrás, por seu falecido pai, Sr. João, juntamente com outras árvores que se encontram na mesma área verde. Suas raízes e copa são bastante grandes. Porém, chamou a atenção o tamanho diminuto das folhas, diferente do que acontecia em anos anteriores, quando estas eram bem maiores tornando a copa mais densa e bonita. Talvez uma boa poda ou um melhor tratamento de suas raízes possa ajudá-la a recuperar as forças. A subprefeitura penha conta com profissionais experientes, capazes de diagnosticar a causa desse problema das nossas seringueiras. Acredito que elas estejam pedindo ajuda. Não podemos abandoná-las à própria sorte!

A Penha, como bairro não planejado, possui pouquíssimas áreas verdes. São raros os espaços públicos e particulares ocupados por árvores e vegetação. O pouco que restou não pode deixar de ser preservado e cuidado.  A boa qualidade de vida exige interação dos indivíduos com o meio à sua volta. A permeabilidade do solo ajuda no combate às enchentes e na diminuição da temperatura ambiente.  

A ação da natureza e a ação humana. Os arquitetos se esmeram em criar formas sugestivas e belas que adornem os prédios feitos de concreto armado. A natureza, por sua vez, possui em suas formas, uma variedade infinita de simetrias e assimetrias, capazes de encher os olhos dos minimamente atentos. Da visão, as imagens chegam à mente e à alma. A beleza extasia, encanta. Pessoas felizes se tornam produtivas, no sentido positivo.

Da interação com o meio, indivíduo e natureza se constroem mutuamente. A diversidade com que a vida se apresenta permite trocas que enriquecem uns e outros. A saúde tem direções. Saber eleger as melhores direções da saúde é uma sabedoria de vida. Aprimoramo-nos enquanto gente ao cuidarmos de nossos pedaços de chão, sejam eles de cimento ou de terra.

Nossa imagem mental da pessoa do jardineiro o constrói como alguém atento e sensível, harmonioso com a terra e com as plantas. É natural que, da harmonia com a natureza, o jardineiro estenda esse seu aprendizado também para com os seus semelhantes, tornando-se mais humano, em consonância com a sua própria natureza de gente. 

Postado por José Morelli

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Eram três e meia da madrugada do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. De repente, um ruído estridente de moto-serra rompeu o silêncio, despertando do sono alguns dos moradores da Rua Betari, cujas casas eram mais próximas do local de onde vinha o ruído. Levantando da cama, ainda confuso, fui até janela. Dali pude ver uma Fiorino branca, estacionada junto à calçada, no lado oposto de onde se encontrava a árvore que, por alguma razão ainda desconhecida e à semelhança do Mártir da Independência, havia sido condenada à morte. As portas traseiras da Fiorino e a do lado da calçada permaneciam abertas. Um homem, ao seu lado, gesticulava pedindo para que o outro se apressasse na execução da sentença. O barulho era assustador... algum visinho poderia estar ligando para a polícia, era preciso fazer o serviço o mais rápido possível. Logo a árvore tombou, fazendo romper alguns fios que provocaram faíscas. O executor correu para o veículo que o esperava e entrou pela parte de traz, deixando as portas abertas. O outro sentou-se ao volante, deu a partida e saiu velozmente. Várias pessoas vieram à rua e, um tanto assustadas diante da árvore que jazia no chão, mostravam-se chocadas e surpreendidas com a audácia daqueles que haviam praticado tal delito.

Quando o dia clareou mais pessoas vieram para ver o que havia acontecido. A obstrução da calçada e de metade da via limitava a passagem dos veículos. Alguém comentou que outra árvore, mais acima, também havia sido cortada. Devido ao porte maior e a presença de mais fios à sua volta, esta não foi derrubada. Apenas a condenaram, serrando-lhe pouco mais da metade de seu tronco. Tudo executado de acordo com um inteligente plano. Um destacamento do corpo de bombeiros veio examinar as condições da árvore, para verificar se poderia ou não ser poupada. Veio também a Eletropaulo para recuperar a rede elétrica danificada. Algumas fotos foram tiradas. Ninguém, no entanto, conseguiu anotar o número da chapa da Fiorino branca. Os funcionários da subprefeitura passaram o resto do dia para, com o devido cuidado, derrubarem a árvore que ainda não havia sido derrubada, cortarem os galhos das duas e os recolherem no caminhão. No lugar delas, ficou apenas um vazio.

Postado por José Morelli