terça-feira, 12 de setembro de 2017

“Não-diretividade”

Dependendo das circunstâncias e da condição emocional em que se encontram, os pais poderão adotar para com o filho ou filha, que se encontra em alguma dificuldade, não uma postura diretiva, mas um posicionamento não-diretivo. Atuam não-diretivamente os pais quando, no lugar de raciocinar e decidir pelo filho, ajudam-no a pensar e a concluir o raciocínio por si mesmo. Fazem isto através de uma atitude de quem não tem respostas prontas e mediante formulação de perguntas, que permitam ao filho a utilização dos próprios referenciais, assumindo responsabilidade sobre os caminhos que deseja seguir. Em vez de os pais se apressarem em oferecer fórmulas feitas, a não-diretividade recomenda-lhes que acreditem nas capacidades do filho. É diretivo o pai ou mãe que pensa que só ele (a) sabe o que é bom e o que é ruim. Não explica ao filho o porquê de seus princípios e valores. 
Não contribui, assim, para que o filho tire conclusões a partir do que lhe já traz em si.

O medo, a ansiedade, a falta de confiança em si e no filho são empecilhos a uma atitude facilitadora para que o mesmo adquira autonomia de pensamento e de decisão. Quem tem sempre muita pressa, quem vive com medo de que o erro não tem remédio, não o aceitando como instrumento do saber, não consegue permitir o desenvolvimento do filho, de uma forma gradativa, a partir de suas próprias vivências e experiências.

A não-diretividade não é o abandono do filho a si mesmo, na hora em que este tem que enfrentar alguma dificuldade que lhe é intransferível. Os pais não-diretivos não abdicam de suas obrigações, exigidas pelo papel que desempenham junto aos filhos. Pelo contrário, através de sua coragem, realizam de uma forma mais apropriada aquilo que a palavra “educar” significa que é o de: conduzir a partir do interior do próprio educando. 

A não-diretividade deve ser uma postura profunda e constante, que exige muita observação e muita atenção. Para ajudar o filho a pensar e saber decidir é preciso estar próximo dele, percebê-lo, contribuir com ele para que saiba situar-se em seu contexto, questioná-lo quanto ao que está pensando e sentindo, permitindo-lhe, assim, que descubra quais são os múltiplos fatores que o estão condicionando. Agir não-diretivamente é interessar-se pelo que de melhor existe no filho como uma forma de querê-lo bem em sua integralidade, de reconhecê-lo em seus lados fortes. 

A não-diretividade é uma aposta nos aspectos mais positivos do filho, mesmo que estes aspectos estejam cercados e protegidos pelo medo ou pelo comodismo. Para se saborear o gosto da castanha é preciso tirá-la de sua casca, sempre protegida com muitos espinhos. De forma parecida, algumas grandezas do espírito humano só são descobertas, quando as resistências são vencidas e os espinhos retirados, mesmo correndo risco de, eventualmente, machucar-se com algum deles.

Postado por José Morelli


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