Naquela foto, tirada em 1.911, estavam retratados: o
casal, acompanhados de suas primeiras quatro filhas, nascidas até aquela data.
Sabe-se que, depois, vieram ainda mais sete filhos homens e mais duas mulheres.
O primeiro dos homens já se encontrava em gestação. No retrato, em branco e
preto, adultos e crianças vestem-se com discrição e elegância, de acordo com o
costume da época.
Maria Cruvinel é o nome da
menininha, que se encontra de pé com a mãozinha apoiada no joelho da mãe. Hoje,
ela está com 95 anos (quando da feitura deste texto). Sua cabeça está ótima, podendo contar histórias que ouviu
ainda em sua infância sobre seus pais e seus avós. As feições dela, na foto, se
assemelham a de uma de suas bisnetas que, no momento, se distrai jogando
baralho com sua irmã mais velha. Na sala, além das visitas, se encontram ainda
a filha e a neta de dona Maria, respectivamente, avó e mãe das meninas que se
distraem brincando.
Dona Maria é incentivada pelas
visitas a relatar algumas de suas histórias. Mesmo com o pouco volume de sua
voz, todos os que se encontram na sala conseguem escutá-la. Conta de sua avó,
falando de sua coragem e de como enfrentava os problemas daqueles tempos
difíceis... quando seu marido trabalhava em garimpos no estado de Goiás, quando
os índios invadiam as terras onde moravam, tendo que irem se refugiar numa
fazenda, cujo proprietário e outros que tentaram morar nela diziam ser a casa
assombrada, quando, anos depois, vieram morar em São Sebastião do Paraíso,
tendo ficado viúva e enfrentado muitas dificuldades.
Relatou que, antes de irem para
a fazenda em Goiás, seu avô perguntou à sua avó se ela não tinha medo de ir
morar numa casa que diziam ser assombrada, ela respondeu: “não tenho medo de
nada, por que para me defender de meus inimigos invisíveis, tenho minhas boas
orações e, para me defender de meus inimigos visíveis, tenho minha arma de
fogo” (uma velha espingarda). Contou como ela desvendou o segredo do que todos
diziam ser assombração. Tratava-se de um negro fugitivo que vinha buscar
alimento dentro da casa. Sem que chegasse a conhecê-lo, alimentou-o durante 15
anos. Quando ele deixou de vir, sentiu-se liberada para mudar-se para outro
lugar onde os filhos, já em idade escolar, pudessem estudar. Histórias de
índios e de escravos fugitivos fazem com que se possa voltar para outros
tempos, com características muito diferentes das de hoje. As bisnetas também
ouvem e guardam as lembranças dessas histórias, projetando-as para o futuro.
Talvez, um dia, poderão contá-las para seus filhos, netos e até bisnetos,
estabelecendo sempre novos reencontros, geração a geração.
Postado por José Morelli
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