quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Acreditar

Para poder ajudar é preciso acreditar. Se não acreditamos na capacidade do outro e de sua boa vontade para vencer as próprias dificuldades e problemas, de se superar em seus limites, consideramos sua mudança um caso perdido e nada podemos fazer, de maneira eficaz, para que o mesmo se modifique. Nossa “compreensão”, quando não acreditamos no outro, não apostando em seu potencial é o mesmo que acomodação e cumplicidade.

Acontece, às vezes, que é justamente aquele que está necessitando da ajuda, quem mais faz para destruir a crença dos que o querem ajudar. Através de vários meios, procura destruir toda esperança e todo propósito de quem nele bota alguma fé: são queixas, acusações, chantagens, cenas dramáticas ou histéricas, somatizações, como ânsia de vômito, dor de cabeça, disfunções intestinais ou outros distúrbios psicossomáticos.  

O acreditar incomoda. Incomoda por que exige que o outro se desacomode. E é isso que lhe é difícil fazer. Fica mais fácil jogar sobre quem ainda tem alguma esperança, que não o compreende, que não conhece o tamanho de suas dificuldades. Assim, vai se desculpando e procurando alguém que lhe passe a mão na cabeça, aceitando-o em sua incapacidade. Essa aceitação não o ajuda, apenas facilita sua permanência com seus problemas, enquanto o tempo vai passando e as oportunidades de viver com mais qualidade também.

A função do psicoterapeuta é acreditar nas capacidades do paciente, de superar suas dificuldades. É evidente que existe limite nessa crença. Em contrapartida, o paciente também precisa ter confiança no psicoterapeuta. Assim, com essa mútua crença, o paciente vai superando sua resistência em acreditar em si mesmo e em colocar suas capacidades em ação.

Marido e mulher, pais e filhos também podem e devem acreditar uns nos outros para que possam se ajudar mutuamente. Certa dose de cumplicidade faz parte do equilíbrio nos relacionamentos. O acreditar, no entanto, nunca pode ser dispensado, seja nos relacionamentos mantidos entre pessoas, seja nos mantidos entre grupos sociais. Os embates entre patrões e empregados (greves ou outros) são instrumentos legítimos de reivindicações que, além de permitirem a medição de força entre as partes, manifestam também a crença de ambas na continuidade de seus relacionamentos e parcerias. O viver humano exige um constante ato de fé.

Por José Morelli 

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