Para poder ajudar é preciso
acreditar. Se não acreditamos na capacidade do outro e de sua boa vontade para
vencer as próprias dificuldades e problemas, de se superar em seus limites,
consideramos sua mudança um caso perdido e nada podemos fazer, de maneira
eficaz, para que o mesmo se modifique. Nossa “compreensão”, quando não
acreditamos no outro, não apostando em seu potencial é o mesmo que acomodação e
cumplicidade.
Acontece, às vezes, que é
justamente aquele que está necessitando da ajuda, quem mais faz para destruir a
crença dos que o querem ajudar. Através de vários meios, procura destruir toda
esperança e todo propósito de quem nele bota alguma fé: são queixas, acusações,
chantagens, cenas dramáticas ou histéricas, somatizações, como ânsia de vômito,
dor de cabeça, disfunções intestinais ou outros distúrbios psicossomáticos.
O acreditar incomoda. Incomoda
por que exige que o outro se desacomode. E é isso que lhe é difícil fazer. Fica
mais fácil jogar sobre quem ainda tem alguma esperança, que não o compreende,
que não conhece o tamanho de suas dificuldades. Assim, vai se desculpando e
procurando alguém que lhe passe a mão na
cabeça, aceitando-o em sua incapacidade. Essa aceitação não o ajuda, apenas
facilita sua permanência com seus problemas, enquanto o tempo vai passando e as
oportunidades de viver com mais qualidade também.
A função do psicoterapeuta é
acreditar nas capacidades do paciente, de superar suas dificuldades. É evidente
que existe limite nessa crença. Em contrapartida, o paciente também precisa ter
confiança no psicoterapeuta. Assim, com essa mútua crença, o paciente vai
superando sua resistência em acreditar em si mesmo e em colocar suas
capacidades em ação.
Marido e mulher, pais e filhos
também podem e devem acreditar uns nos outros para que possam se ajudar
mutuamente. Certa dose de cumplicidade faz parte do equilíbrio nos
relacionamentos. O acreditar, no entanto, nunca pode ser dispensado, seja nos
relacionamentos mantidos entre pessoas, seja nos mantidos entre grupos sociais.
Os embates entre patrões e empregados (greves ou outros) são instrumentos
legítimos de reivindicações que, além de permitirem a medição de força entre as
partes, manifestam também a crença de ambas na continuidade de seus
relacionamentos e parcerias. O viver humano exige um constante ato de fé.
Por José Morelli
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