domingo, 27 de novembro de 2016

Densidade emocional

Captamos com a nossa percepção a densidade de um sorriso que nos é dirigido, de uma palavra que nos é dita e com força ou leveza chega ao nosso ouvido, da imagem visual de um olhar denso seja ele de aprovação ou de censura, de um gesto carregado de agressividade, sem expressão alguma ou pleno de amabilidade, de um movimento corporal agressivo ou sutilmente delicado expresso através de algum gênero de dança.

Antes mesmo de a criança entender o sentido das palavras, ela já é capaz de captar a densidade emocional que costuma acompanha-las. Mais do que os significados próprios a essas palavras, fala mais alto à criança a densidade com que elas são expressas. O adulto que se encontra inseguro em sua intenção de reprender uma criança não é capaz de impor-se tendo em vista a pouca intensidade emocional com que se expressa. A densidade emocional revela a verdade do comunicador, em sua integralidade.

As palavras em si mesmas possuem suas próprias densidades quanto aos seus significados. Há situações em que o indivíduo tem ao seu dispor vocábulos diferenciados com mais ou menos força de expressão. Se este entende que a situação exige comedimento, ele procura utilizar-se de palavras bem polidas ou de sentido pouco contundente e agressivo. Se este entende que precisa rasgar o verbo, como se diz, sua escolha já recai em termos mais agressivos e até mesmo chulos ou ofensivos. 

A literatura expressa, através das palavras, a densidade emocional da vida humana. Apenas para citar um exemplo, nestes últimos dias ouvimos, mais uma vez, relatada a passagem em que a mulher adúltera foi levada para que fosse apedrejada, como mandava a lei. Os fariseus a apresentaram a Jesus a fim de o testarem, reafirmando o que o legislador Moisés havia determinado. “Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra!” Um a um todos acusadores foram jogando ao chão as pedras que tinham nas mãos e se retirando. Só ficaram Jesus e a mulher (Misericórdia e Mísera). “Ninguém te condenou?” perguntou Jesus à pecadora. “Ninguém!” respondeu a mulher. “Eu também te perdoo, vai e não peques mais!” –Imagine a densidade da emoção vivenciada por cada um daqueles que protagonizaram esse momento surpreendente, relatado com tamanha simplicidade e objetividade!

Postado por José Morelli 

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