quinta-feira, 5 de julho de 2012

“A raposa e a uvas”

Caminhando debaixo de belas e atraentes parreiras, carregadas de apetitosas uvas, a raposa se rendeu a seus encantos, não resistindo ao impulso de saboreá-las. Começou pois a dar saltos e mais saltos, tentando alcançá-las. No entanto, todos os seus esforços não obtiveram efeito algum. Exausta, não teve outra saída senão desistir de seu intento. Ao afastar-se, conversou consigo mesma, dizendo: "não faz mal que não tenha conseguido alcançá-las, uma vez que as uvas se encontravam verdes, verdes e azedas!" Dessa forma, a raposa acalmou o seu espírito, poupando-se de sofrer duplamente: primeiro, por não ter podido usufruir das uvas, que antes lhe tinham parecido tão saborosas; segundo, pela sensação de fracasso por não ter sido capaz de alcançá-las.

Esta conhecida fábula de Esopo se constitui como um dos mais expressivos exemplos do que vem a ser o mecanismo de defesa, chamado de racionalização. Racionalizar é o mesmo que encontrar razões, justificativas ou explicações que possam fazer convencer do contrário do que a realidade está mostrando, com o intuito de poupar-se de sofrimentos maiores.

Ninguém gosta de sofrer frustrações. A necessidade de ver concretizadas suas expectativas, leva as pessoas a esperarem muito das coisas, dos outros e de si mesmas. A utilização do mecanismo de racionalização é muito mais frequente do que se pode imaginar. Todos os dias, são muitas as situações que o mobilizam. Dependendo da resistência, da capacidade da pessoa de suportar frustrações, esta terá mais ou menos a tendência de utilizá-lo, com o objetivo de se auto-preservar em sua integridade física e/ou psicológica.

Mentir para si mesmo pode ser mais fácil do que mentir para o outro. Quando se tem muito interesse sobre alguma coisa, o risco de se desvirtuar o pensamento é maior. Desconfiar da própria percepção e do próprio juízo, solicitando o parecer de uma outra pessoa, pode ser uma forma de se proteger contra a própria arbitrariedade.

Na medida em que as pessoas amadurecem, tornando-se adultas e responsáveis, aumentam também a própria capacidade de se verem sem medos e sem receios de se decepcionarem consigo mesmas. Ficam menos necessitadas de fazerem uso de mecanismos de racionalização, tornando-se mais verdadeiras consigo mesmas e com os outros.

Por José Morelli

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