sábado, 4 de agosto de 2018

Saber discutir

O teatrólogo Nelson Rodrigues dizia que “toda unanimidade é burra”. Divergir nos pensamentos é próprio da condição limitada da percepção humana. Todo cidadão adulto tem sua própria cabeça e é, com ela, que deve pensar e escolher o caminho a seguir. O viés a partir do qual cada indivíduo visualiza a realidade, nunca é idêntico àqueles que têm os outros. Uma discussão, capaz de fazer evoluir o pensamento, é aquela em que as pessoas sabem se controlar em suas emoções, argumentando em favor de seus pontos de vista e sabendo reconhecer as razões que levam os outros a conclusões diferentes.

Medo, insegurança, intenções escusas, presunção de superioridade dificultam os indivíduos de tirarem melhor proveito de suas trocas de ideias. Para se levar à frente uma sadia discussão é preciso certa maturidade emocional. Assuntos sem grande importância, que não levam a nada, não merecem ser discutidos. Assuntos importantes, porém, precisam passar pelo teste de boas conversas que ajudem a um melhor discernimento de suas razões e fundamentos.

O momento atual de crise institucionalizada, que atinge não só os países em suas organizações internas e as maneiras como estabelecem suas trocas comerciais, fortemente pressionadas pelo grande capital e por poderosas instituições globalizadas, oferece importantes questões para serem discutidas pelos políticos e pelo povo em geral, elo mais vulnerável de toda a corrente social. São justamente as diferenças de pontos de vista que tornam as discussões mais ricas. A coragem de expor os próprios pensamentos com a maior clareza e honestidade e de saber ouvir e avaliar os pensamentos dos outros é o que pode garantir, a todos, escolhas mais criteriosas e que atendam às suas necessidades básicas. Querer somente falar e não ouvir é presunção e autoritarismo, indício de imaturidade e insegurança pessoal.

Que a oportunidade que nos oferece o atual momento histórico nos ajude a aprimorar-nos na arte de saber discutir. A democracia, em sua essência, parte do pressuposto da igualdade de direitos. Mesmo que tentem “jogar areia nos olhos do povo”, o cidadão ou cidadã deve se mostrar consciente do que pensa e quer, instrumentalizando-se de tudo o que pode ajudá-lo para melhor uso de sua consciência. É da justiça que provem a paz e a harmonia entre todos e todas.

Postado por José Morelli

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