quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Jogo: "Dentro-fora"

Existe um jogo, uma atividade, talvez o leitor/a já o tenha visto ou mesmo participado dele. Chama-se “Dentro-fora”. Para se jogar, é feito um círculo no chão com giz. É escolhido, em rodízio, um dirigente, que dá as ordens. Os outros participantes saltam para dentro ou para fora do círculo, de acordo com as ordens do dirigente. Na medida em que o tempo passa, as ordens podem ser dadas de forma mais rápida e, quanto maior a rapidez e modificações nas sequências das ordens, mais difícil será acertarem. Quem erra sai da roda e quem fica por último é o vencedor.

Trata-se de um jogo evidentemente, uma boa atividade para aquecimento do grupo. Como todo jogo, este também tem suas aproximações com a vida do cotidiano; uma vez que permite a apreensão de sensações que podem ajudar na percepção de aspectos importantes relacionados à personalidade de cada um, de suas maneiras próprias de interagir com os outros, com as coisas e com as situações emergentes.

Neste jogo são várias pessoas que participam, interagindo umas com as outras e com o espaço físico e temporal. Cada uma com o seu próprio ritmo e suas características individuais, o que possibilita competitividade. Decorre daí o afloramento de sentimentos de insatisfação/frustração, quando se perde e de satisfação/euforia quando se ganha.

Aqueles que mais se envolvem com o jogo têm maior chance de acertar, discriminando a ordem e realizando-a imediatamente. Os que estiverem menos envolvidos, dispersos ou inibidos, terão menor chance de se manterem no jogo até o seu final.

Se o dirigente usa uma mesma sequência para dar as ordens e, de repente, rompe essa sequência, é comum que um número maior de pessoas erre. Se o dirigente apressa o ritmo em que dá as ordens, isso cria maior dificuldade para distinguirem o sentido delas e dos espaços, dentro ou fora, que elas representam.

No dia a dia, nem sempre é tão fácil discriminar o que é “nosso” – de dentro – do que é “dos outros” – de fora. Ainda mais quando se considera que esses sentimentos são bastante fluidos, variando de situação para situação. Às vezes o que é “nosso” é aquilo que sentimos como mais íntimo, não incluindo mais ninguém além de nós mesmos. Outras vezes, “nosso” – de dentro – é a família, as pessoas de casa, da escola, da igreja. Outras vezes, ainda, é toda a torcida do time de nossa preferência, os brasileiros quando joga a seleção ou a nação inteira como quando esta participou, em esmagadora maioria, na campanha pelas “Diretas já”.

A sensação que temos, quando não conseguimos discriminar o que é “nosso” do que é ”dos outros”, o que está dentro do que está fora é uma sensação de confusão e de insegurança, muito desconfortável. Nesses momentos é preciso um mínimo de calma e de atenção e, pouco a pouco, ir recolocando coisa a coisa em seu devido lugar. Assim a sensação vai se transformando, devolvendo aos indivíduos o sentido da estabilidade e de segurança pessoal e de segurança coletiva.  

Postado por José Morelli

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