quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Ganância X Moderação

Ganância não se contrapõe à moderação. O que se contrapõe à ganância é o desinteresse ou desapego de tudo aquilo que se constitui como indispensável à vida humana (material e imaterialmente considerada). Enquanto a ganância se refere à avidez por ganho lucrativo (lícito ou ilícito), a moderação se refere à vontade humana de permitir, a si e aos outros, o que é basicamente necessário à própria vivência e realização da maior parte das pessoas. 

O mundo é objetivamente o que é sem tirar nem por. No estágio atual de desenvolvimento econômico e de livre concorrência, ele vive impasses dramáticos. Vulgarmente falando, poderíamos até dizer que: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.  Para saciar a voracidade do “Minotauro” (figura mitológica com cabeça e cauda de touro num corpo de homem), o Rei Minos, da ilha de Creta na Grécia, enviava anualmente ao labirinto, por ele construído, jovens atenienses (sete rapazes e sete moças), a fim de que ali servissem à saciedade do Minotauro. Esse fatalismo, no entanto, não é compartilhado por todos. Há quem ainda consiga ver alguma luz no fundo desse túnel.

O editorialista da “Revista Página 22”, em sua edição de nov/dez de 2015, comenta a respeito do economista alemão Ernest Schumacher, cujo trabalho foi traduzido no Brasil como “O Negócio é Ser Pequeno”. Diz ele que o livro contesta a “idolatria do gigantismo”, defendendo que se leve a tecnologia de volta à escala humana e que a economia não deve visar o lucro, mas sim atividades que estejam de acordo com os valores considerados importantes pelas pessoas e sejam condizentes com os recursos naturais disponíveis.

Em sua conclusão, o editorial da revista assinala que o sistema econômico agigantado delapidou o capital natural além da conta e não foi capaz de distribuir de forma equânime as riquezas geradas, adotar as inovações cada vez mais necessárias, respeitando os limites do ambiente e fazendo sentido para todos e não, apenas, para poucos que se deixam levar mais pela ganância do que pela moderação; mesmo que isso signifique o estabelecimento de uma exclusão de parcelas significativas da humanidade.       

Postado por José Morelli       
                                                                                                                                                                        

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