Ganância não se contrapõe à
moderação. O que se contrapõe à ganância é o desinteresse ou desapego de tudo
aquilo que se constitui como indispensável à vida humana (material e
imaterialmente considerada). Enquanto a ganância se refere à avidez por ganho
lucrativo (lícito ou ilícito), a moderação se refere à vontade humana de permitir,
a si e aos outros, o que é basicamente necessário à própria vivência e realização
da maior parte das pessoas.
O mundo é objetivamente o que é
sem tirar nem por. No estágio atual de desenvolvimento econômico e de livre
concorrência, ele vive impasses dramáticos. Vulgarmente falando, poderíamos até
dizer que: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Para saciar a voracidade do “Minotauro”
(figura mitológica com cabeça e cauda de touro num corpo de homem), o Rei
Minos, da ilha de Creta na Grécia, enviava anualmente ao labirinto, por ele
construído, jovens atenienses (sete rapazes e sete moças), a fim de que ali servissem
à saciedade do Minotauro. Esse fatalismo, no entanto, não é compartilhado por
todos. Há quem ainda consiga ver alguma luz no fundo desse túnel.
O editorialista da “Revista
Página 22”, em sua edição de nov/dez de 2015, comenta a respeito do economista
alemão Ernest Schumacher, cujo trabalho foi traduzido no Brasil como “O Negócio
é Ser Pequeno”. Diz ele que o livro contesta a “idolatria do gigantismo”,
defendendo que se leve a tecnologia de volta à escala humana e que a economia
não deve visar o lucro, mas sim atividades que estejam de acordo com os valores
considerados importantes pelas pessoas e sejam condizentes com os recursos
naturais disponíveis.
Em sua conclusão, o editorial da
revista assinala que o sistema econômico agigantado delapidou o capital natural
além da conta e não foi capaz de distribuir de forma equânime as riquezas
geradas, adotar as inovações cada vez mais necessárias, respeitando os limites
do ambiente e fazendo sentido para todos e não, apenas, para poucos que se
deixam levar mais pela ganância do que pela moderação; mesmo que isso signifique
o estabelecimento de uma exclusão de parcelas significativas da humanidade.
Postado por José Morelli
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