Na medida em que a criança vai se
desenvolvendo e descobrindo suas capacidades, vai, também, se percebendo como
pode fazer uso das mesmas a seu favor,
no sentido de que os outros a atendam em suas necessidades ou vontades. É
importante que a criança se reconheça em si mesma, assim como é importante que
ela reconheça o outro, não como extensão, prolongamento dela, mas como alguém distinto,
separado dela.
Num primeiro momento, a criança
faz uso do choro para avisar a quem dela cuida, a fim de que possa atendê-la.
Seus primeiros movimentos faciais e corporais ajudam-na a se expressar. Com
eles, ela busca fazer-se entender, mesmo que de forma não muito clara, exigindo
esforço do outro para que possa compreendê-la. Num segundo passo de seu desenvolvimento,
a criança amadurece sua capacidade de comunicar-se através da fala.
É incrível observar como acontece
esse processo de amadurecimento da comunicação oral/verbal da criança. A visão
e a audição permitem que ela vá associando coisas e pessoas com os sons de palavras
que as representem. No arquivozinho da memória vão se somando imagens visuais e
sons diferenciados. Pouco a pouco, a partir da observação de como os mais
velhos fazem, a criança passa a desenvolver a musculatura da boca para pronunciar
vogais e sílabas.
O começo não é e não poderia ser
perfeito. Quantas vezes, a criança faz os que já passaram por essa fase rirem
da maneira como que ela consegue emitir sons, na tentativa legítima de se fazer
entender e de pronunciar as primeiras palavras. Esse processo, pouco a pouco,
vai permitindo o amadurecimento de seus mecanismos cerebrais de construção de
conceitos e de emissão de sons vocais que os representem.
Associado ao poder da fala, a
criança também ganha autonomia e poder, através de sua capacidade de se
movimentar, exercendo seu direito de ir e vir, com o concurso de suas próprias
pernas. Como lhe atrai amplos espaços, onde possa correr de um lado para o
outro!... Na condição de principezinho ou de princesinha, com todo o poder que
já sente que tem, ela vai passando a se considerar dona do pedaço, disputando poder com aqueles que, junto a ela, têm
a tarefa de educá-la e de prepará-la para a vida, uma vez que, no futuro, o
mundo não vai ser capaz de reconhecê-la, assim, tão poderosa.
Por José Morelli
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