quinta-feira, 31 de julho de 2014

O poder da criança

Na medida em que a criança vai se desenvolvendo e descobrindo suas capacidades, vai, também, se percebendo como pode fazer uso das mesmas a seu favor, no sentido de que os outros a atendam em suas necessidades ou vontades. É importante que a criança se reconheça em si mesma, assim como é importante que ela reconheça o outro, não como extensão, prolongamento dela, mas como alguém distinto, separado dela. 

Num primeiro momento, a criança faz uso do choro para avisar a quem dela cuida, a fim de que possa atendê-la. Seus primeiros movimentos faciais e corporais ajudam-na a se expressar. Com eles, ela busca fazer-se entender, mesmo que de forma não muito clara, exigindo esforço do outro para que possa compreendê-la. Num segundo passo de seu desenvolvimento, a criança amadurece sua capacidade de comunicar-se através da fala.

É incrível observar como acontece esse processo de amadurecimento da comunicação oral/verbal da criança. A visão e a audição permitem que ela vá associando coisas e pessoas com os sons de palavras que as representem. No arquivozinho da memória vão se somando imagens visuais e sons diferenciados. Pouco a pouco, a partir da observação de como os mais velhos fazem, a criança passa a desenvolver a musculatura da boca para pronunciar vogais e sílabas.

O começo não é e não poderia ser perfeito. Quantas vezes, a criança faz os que já passaram por essa fase rirem da maneira como que ela consegue emitir sons, na tentativa legítima de se fazer entender e de pronunciar as primeiras palavras. Esse processo, pouco a pouco, vai permitindo o amadurecimento de seus mecanismos cerebrais de construção de conceitos e de emissão de sons vocais que os representem.


Associado ao poder da fala, a criança também ganha autonomia e poder, através de sua capacidade de se movimentar, exercendo seu direito de ir e vir, com o concurso de suas próprias pernas. Como lhe atrai amplos espaços, onde possa correr de um lado para o outro!... Na condição de principezinho ou de princesinha, com todo o poder que já sente que tem, ela vai passando a se considerar dona do pedaço, disputando poder com aqueles que, junto a ela, têm a tarefa de educá-la e de prepará-la para a vida, uma vez que, no futuro, o mundo não vai ser capaz de reconhecê-la, assim, tão poderosa.  

Por José Morelli

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