sábado, 15 de março de 2014

Natureza e Tempo

Somos a mistura de natureza e tempo.  Somos a soma dos dias que vivemos, desde aquele primeiro em que despontamos como mais novo habitante deste planeta, até este dia em que nos encontramos vivendo hoje. Somos manhã, tarde e noite: começo, meio e fim. Somos claridade, discernimento, consciência. A temporalidade além de nos ser oportunidade de existir também nos assusta com sua imprevisibilidade futura. Natureza vem de nascimento, palavra de gênero feminino. Para promover novas vidas, a natureza precisa do concurso do tempo. Tempo é palavra de gênero masculino.

Através da maternidade, a mulher apropria-se de si mesma como mãe e como filha que foi e que ainda é. Por sua projeção no filho ou filha, tem-se de volta, recupera-se como filha, redescobrindo-se. Soma estas duas vivências. Percebe-se e sente-se detentora daquele mesmo poder que, antes, via e percebia em sua mãe. A natureza é mãe permanentemente. O tempo é fluido, passageiro. Porém, é somente com sua colaboração, que a natureza se atualiza em sua função/missão de geradora de novas vidas. O tempo pode ser assemelhado ao pai. - Natureza e tempo: companheiros, contingentes,... relacionam-se incessantemente rumo a direções imprevisíveis.

A sabedoria do compartilhar da transitoriedade, da temporalidade, do termo final. O saber usufruir da vida enquanto ela é. O tempo é como uma flecha que, tendo sido disparada, tende a seguir o seu próprio curso.  Movimento é vida, transformação ininterrupta e constante. No tempo, a vida se esvai inexoravelmente. Nossa consciência busca sempre novos sentidos para tudo o que vivencia e percebe. Sentido de poder, de segurança, de superação dos limites. As diferenças, ora são percebidas e sentidas como gratificantes, ora como ameaçadoras e sofridas. Homem e mulher - pai e mãe - natureza e tempo - poder e submissão (poder-submisso e submissão-poderosa): alternâncias de ilusões.

Natureza e tempo, na sucessão: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos... A arte de transmitir vida. Pai e mãe unidos pelo mesmo objetivo. O cultivo da sensibilidade para consigo e para com o outro. A superação do egoísmo. O legado de cada um: a posteridade. A semente remanescente do fruto: semente-natureza, que se anula, dando oportunidade ao surgimento de nova vida. O jogo de um poder que se desdobra em identificações e contra-identificações, como imagens indefinidamente refletidas e multiplicadas em dois espelhos colocados um de frente para o outro.  

Por José Morelli

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