terça-feira, 9 de outubro de 2018

Pano de fundo do palco interior

O pano de fundo do palco, nos teatros, se complementa com os bastidores, cujos espaços intermediários servem à entrada e saída de cena dos personagens. Desde que nossos olhos passaram a captar imagens, nossos ouvidos a perceber a diferenciação dos sons, nosso nariz e boca a se darem conta, respectivamente, dos cheiros e dos sabores, nosso tato passou a atinar para as diferenciações entre as sensações percebidas na pele, passamos a armazenar referências que povoam nosso imaginário, subsidiando a tudo aquilo que pensamos e entendemos.   

Através de nosso palco interior antecipamo-nos aos acontecimentos. Nele representamos a nós mesmos, juntamente com os demais personagens, com os quais imaginamos que iremos contracenar nos múltiplos papéis que desempenhamos em nosso dia a dia. Preparamo-nos para o que vamos fazer dispondo-nos interiormente. O professor, ao preparar suas aulas, já imagina como seus alunos irão responder aos estímulos que deseja utilizar em suas estratégias de ensinamento. O pano de fundo desse palco interior do professor pode ser permeado de otimismo ou de pessimismo. A coloração e a luminosidade das imagens impressas no fundo desse palco podem servir ao encorajamento ou ao desânimo do professor. As consequências desse pano de fundo se refletem no aprendizado dos alunos.

Cada profissão sobrevive a partir do palco interior que cada profissional carrega em seus referenciais. Quando a mídia faz uso excessivo das notícias policiais para ganhar audiência, os referenciais dos profissionais dessa área transparecem nas notícias. O olhar aguçado para discernimento de quem é mocinho e de quem é bandido vai sendo repassado aos destinatários das notícias, contaminando suas mentes. Da mesma forma, os agentes religiosos que se utilizam dos canais de televisão para, ininterruptamente, transmitirem suas mensagens, repassam subliminarmente o pano de fundo de seus juízos e julgamentos.

O pano de fundo de nosso palco interior se reflete em nosso modo de falar, de olhar, de nos posicionarmos frente às situações. Ele pode ser pleno da luz do sol, como pode ser carregado de nuvens escuras e ameaçadoras. Ele pode ser alegre como uma paisagem florida ou tristonho como um muro cinzento e sem vida.

Postado por José Morelli

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