quinta-feira, 18 de outubro de 2018

"Fio da meada"

Encontrar o “fio da meada” é uma expressão de nossa língua portuguesa. Vi, no dicionário, que “meada” significa “porção de fios dobrados, emaranhados”. Quem já passou pela experiência de ter de desmanchar um emaranhado de fios, sentiu a importância de encontrar a ponta, a fim de tornar a tarefa menos demorada. Desde que a tenha identificado, não que o trabalho deixe de apresentar dificuldade, mas passa a render e a ter uma razão de continuidade e de progressão: com princípio, meio e fim.

Desmanchar um emaranhado de fios é um processo a ser realizado em etapas. Respeitar a sequência natural dessas etapas, contendo-se na própria ansiedade, é um fator indispensável para que a ação seja realizada de maneira mais eficaz. A voz do povo alerta que “a pressa é inimiga da perfeição”. De fato, a pressa dificulta os indivíduos de entrarem em contato com aquilo que estão fazendo. A sintonia do olhar com o objeto de sua ação, a boa coordenação dos movimentos das mãos... Essas e outras condições se tornam mais difíceis pela falta de certo controle da emoção.

Um emaranhado de fios pode muito bem servir de comparação para muitas situações da vida, no dia a dia. Embora nenhuma comparação seja perfeita em sua capacidade de esgotar toda a realidade, ainda assim não deixa de ajudar tanto na expressão das ideias, através da linguagem, como no exercício dos próprios desempenhos, mediante atitudes concretas, que envolvam o corpo, forçando-o a mobilizar-se e a mexer-se adequadamente.

Pensando no que foi exposto até aqui, talvez se possa dizer que o corpo é a ponta do fio da meada. Encontrando-a no corpo, fica mais fácil “desenrolar” o problema, no que ele tem de mais oculto ou profundo. Neste caso, as partes do corpo envolvidas poderiam ser entendidas como “terminais”, assim como os dos computadores, ligados às centrais de informações e de dados.

A profundidade ou complexidade da vida humana, no entanto, não pode resumir-se a noções mecanicistas. Embora certas ideias e metodologias possam ajudar na solução de problemas de ordem psicológica, não conseguem esgotar o que é necessário para o desvendamento mais completo de suas causas e natureza. Na mão dupla dos caminhos, o sentido oposto representado pelo inconsciente e seus meandros completa os recursos disponíveis, constituindo-se num imenso arsenal, dinâmico e incomensurável, a disposição dos profissionais, que se dedicam a esse estudo e à busca de solução de problemas existenciais dos seres humanos.  

Postado por José Morelli

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