No
dicionário do Silveira Bueno, encontramos as seguintes definições da palavra
crucial: “que tem a forma de cruz”; “angustiante”; “mortificador”. Para
identificar o momento mais difícil e decisivo de uma tarefa ou de um
empreendimento, costumamos chamá-lo de crucial. Uma espécie de encruzilhada, em
que as dificuldades como que “nos acuam num canto de parede”, deixando-nos num “impasse”, numa
“dúvida cruel”, “num quase beco sem saída”. Não sabemos se continuamos adiante
ou se modificamos nossa trajetória, seguindo por outro caminho.
A
cruz, no universo mental de nossa cultura judaico cristã, é carregada de
significados. A cruz, por seu formato e, mais, pela utilização que teve no
passado histórico e que ainda tem em nossos dias, permite-nos que lhe
atribuamos uma série de referências. Se a imaginamos sobre o chão, suas
direções podem indicar os quatro pontos cardeais: norte/sul; leste/oeste. Se a
imaginamos erguida, suas direções podem apontar, verticalmente, para cima e
para baixo (apontando para o mais alto dos céus e para as profundezas da terra)
e, horizontalmente, para a direita e para a esquerda (simbolizando o tempo em
seu passado e em seu futuro). O ponto em que as duas linhas se cruzam é,
exatamente, aquele que caracteriza a cruz por sua condição de confluência/convergência:
o momento presente.
“Angustiante”:
é o segundo sinônimo que o dicionário apresenta. A possibilidade de abandonar o
caminho já percorrido, só existe se surgir um novo caminho, que pode levar a
lugares diferentes. Abandonar um e seguir outro é, quase sempre, angustiante. Sempre
se perde alguma coisa, quando deixamos o certo pelo incerto, o conhecido pelo
duvidoso. A perspectiva de outros ganhos ainda não parece garantida. A vontade
de dar uma guinada para outra direção entra em conflito com a insegurança de vir
a perder mais do que ganhar.
“Mortificador”:
(de morte) – toda escolha implica em ganhos e perdas. Ganhar é o mesmo que viver e perder
é o mesmo que morrer. A existência de mais um caminho e a possibilidade de
escolhê-lo é liberdade efetiva. No entanto, escolher implica sofrimento. Bem
que gostaríamos de poder querer e ter tudo. Porém, a experiência e a sabedoria
popular, desde a muito, nos alertam para o risco de “em tudo querermos, tudo
perdermos”. Esta é a condição da vida humana: a cada passo a ser dado, um novo
risco de confrontar-nos com situações imprevisíveis.
Postado por José Morelli
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