sábado, 9 de dezembro de 2017

Crucial

No dicionário do Silveira Bueno, encontramos as seguintes definições da palavra crucial: “que tem a forma de cruz”; “angustiante”; “mortificador”. Para identificar o momento mais difícil e decisivo de uma tarefa ou de um empreendimento, costumamos chamá-lo de crucial. Uma espécie de encruzilhada, em que as dificuldades como que “nos acuam num canto de  parede”, deixando-nos num “impasse”, numa “dúvida cruel”, “num quase beco sem saída”. Não sabemos se continuamos adiante ou se modificamos nossa trajetória, seguindo por outro caminho.

A cruz, no universo mental de nossa cultura judaico cristã, é carregada de significados. A cruz, por seu formato e, mais, pela utilização que teve no passado histórico e que ainda tem em nossos dias, permite-nos que lhe atribuamos uma série de referências. Se a imaginamos sobre o chão, suas direções podem indicar os quatro pontos cardeais: norte/sul; leste/oeste. Se a imaginamos erguida, suas direções podem apontar, verticalmente, para cima e para baixo (apontando para o mais alto dos céus e para as profundezas da terra) e, horizontalmente, para a direita e para a esquerda (simbolizando o tempo em seu passado e em seu futuro). O ponto em que as duas linhas se cruzam é, exatamente, aquele que caracteriza a cruz por sua condição de confluência/convergência: o momento presente.

“Angustiante”: é o segundo sinônimo que o dicionário apresenta. A possibilidade de abandonar o caminho já percorrido, só existe se surgir um novo caminho, que pode levar a lugares diferentes. Abandonar um e seguir outro é, quase sempre, angustiante. Sempre se perde alguma coisa, quando deixamos o certo pelo incerto, o conhecido pelo duvidoso. A perspectiva de outros ganhos ainda não parece garantida. A vontade de dar uma guinada para outra direção entra em conflito com a insegurança de vir a perder mais do que ganhar.

“Mortificador”: (de morte) – toda escolha implica em ganhos e perdas. Ganhar é o mesmo que viver e perder é o mesmo que morrer. A existência de mais um caminho e a possibilidade de escolhê-lo é liberdade efetiva. No entanto, escolher implica sofrimento. Bem que gostaríamos de poder querer e ter tudo. Porém, a experiência e a sabedoria popular, desde a muito, nos alertam para o risco de “em tudo querermos, tudo perdermos”. Esta é a condição da vida humana: a cada passo a ser dado, um novo risco de confrontar-nos com situações imprevisíveis.

Postado por José Morelli

                       

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