terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Maria e a mulher

 MARIA, filha de Joaquim e de Ana, nasceu menina, com corpo e alma de mulher, constituindo-se como pessoa do sexo feminino. Foi assim que Ela cresceu e se desenvolveu, tendo, em sua juventude, concebido e dado à luz JESUS, o Filho de Deus feito homem. O nome EVA significa “mãe de todos os viventes”. Maria é a nova EVA. Do alto de sua cruz, Jesus anunciou-Lhe e ao mundo que Ela, além de ter sido sua mãe, era também mãe de todos os seres humanos, os já nascidos e os que viriam a nascer da mulher.

O batismo é o sinal desta nova consciência. Toda mulher, por sua capacidade física e espiritual de gerar filhos para o mundo e para Deus, traz em si dimensão semelhante à de Maria por sua maternidade divina, Jesus ressuscitado, elevado junto ao Pai e ao Espírito Santo, é o primogênito e representante de todos os seus irmãos menores. Nele, a salvação já está plenamente realizada. Pela adesão a essa fé, cada ser humano passa a participar conscientemente da Família de Deus na Terra, constituindo-se como Igreja, Comunidade dos Filhos de Deus.

Segundo a definição bíblica, Deus é Amor. Jesus é o Amor de Deus feito gente. A vida é verdadeiramente vida, quando existe amor. Todo ser humano, independentemente do sexo, idade, cor, condição social, já é capaz de amar e de fazer o bem, suscitando esta mesma chama de esperança no coração de seus irmãos, dando-lhes alento e coragem para viverem a vida mais plena e intensamente.

Neste sentido, a capacidade geradora de Vida, que é Amor, não é só da mulher, mas de todo ser humano, seja ele do sexo masculino ou feminino. Dessa forma, homens e mulheres se assemelham a Maria, em sua missão de gerar a vida de Deus em cada coração humano, em todo tempo e lugar.

Olhar cada mulher como Maria é dimensioná-la sob a ótica da fé, respeitando a dignidade que lhe é própria. A mulher que, por sua vez, se olha e se reconhece em sua semelhança com Maria, valoriza-se e se impõe em seu valor por seus gestos e intenções. 

Postado por José Morelli

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

"Venha a nós o Vosso Reino"

Os dez mandamentos da Lei de Deus se resumem, apenas, em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e Amar ao próximo como a si mesmo.

Deus é origem de todo o Bem. Fora d’Ele, o amor não existe. Ignorar este fato é negar a Verdade/Realidade, em seus fundamentos.

Quanto ao amor ao próximo, a sua medida é o amor para consigo mesmo. Portanto; quem não se ama, simplesmente, não tem parâmetro para amar o outro/a. Juízos destorcidos quanto à própria realidade causam ruídos perigosos no exercício do amor fraterno, indispensável à construção do Reino de Deus no mundo, no qual todos somos filhos e filhas de Deus, fraternos entre nós.

Se o pano de fundo de nosso palco interior for amedrontador aos nossos próprios olhos, se vivemos dominados por ideias negativas quanto ao quem somos e como somos, teremos imensa dificuldade de aceitar-nos e de querer-nos bem. Consequentemente, teremos dificuldade de dosar o amor para com o outro/a. Viveremos inseguros e medrosos, vulneráveis a constantes sentimentos de culpa e de menos valia.

O Amor de Deus para conosco, por mais evidente que se apresente nos Evangelhos, não nos será entendido e percebido em toda sua grandeza e profundidade: uma visão ampla que inclui a realidade em seu todo, desde os micros organismos até os astros e estrelas mais longínquos e ainda não vistos mesmo, com o uso das tecnologias mais avançadas existentes, no presente estágio de desenvolvimento em que nos encontramos.

Postado por José Morelli

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

UM PROJETO DE FUTURO PARA A IGREJA DO ROSÁRIO DA PENHA

 Princípios que norteiam este projeto:

  1. Fazer com que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Penha espelhe, com maior brilho e nitidez, os significados que possui, passando a iluminar como um candeeiro que se encontra sobre a mesa e não debaixo dela, transformando-se num ícone de valores humanos e espirituais, encontrados em sua longa história bem como na daqueles que a vivenciaram, juntamente com ela;
  2. Devolver ao patrimônio os sentidos de cada uma de suas partes, a fim de que estas se tornem expressivas de suas importâncias como espaços de fé e religiosidade, de afirmação e dignidade e de caridade/sociabilidade;
  3. Equipar a Igreja com os meios que lhe permitam sustentabilidade e que estes sejam condizentes com os conteúdos que a mesma representa na fé e religiosidade, na cultura e na história própria, do bairro e da cidade de São Paulo.
  4. Integrar a Igreja do Rosário no contexto da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, na qual existem duas outras importantes igrejas: a Basílica de Nossa Senhora da Penha e o Santuário Eucarístico de Nossa Senhora da Penha, cada uma delas com sua missão própria;
  5. Buscando fundamentos no histórico da Igreja do Rosário, discernir qual a missão que lhe corresponde nos dias de hoje, principalmente junto aos afro descendentes.

 

Alguns fundamentos históricos que credenciam a Igreja do Rosário como um ícone de raro valor no contexto da cidade e mesmo do Brasil:

  1. A Irmandade que a construiu já existia no ano de 1755 e a seu respeito são encontradas informações relevantes no Livro de assentamento de Irmãos, existente no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.
  2. No dia 16 de junho de 1802 foi feito o pedido de ereção oficial da Igreja junto ao bispo pela Irmandade dos Homens Pretos.
  3. Em 1909/1910, os padres redentoristas fizeram uma reforma na Igreja do Rosário, envolvendo a taipa com tijolos e acrescentando-lhe partes; porém retirando-lhe algumas características originais e dando-lhe uma nova torre e modificando-lhe a parte fronteiriça.
  4. No dia 4 de maio de 1982, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – CONDEPHAAT decretou o tombamento da Igreja do Rosário da Penha.
  5. A Igreja do Rosário é, dentre outras que existiram no passado, a única na cidade que ainda permanece em pé e que foi construída por Irmandade Negra, em tempos em que ainda vigorava o regime de escravidão no Brasil.  

 

A área total da Igreja em sua parte interna é de, aproximadamente, 350 metros quadrados. Destes, 162 são ocupados pelo antigo presbitério, nave e átrio (espaço religioso), a antiga sacristia com a cozinha e os banheiros ocupam juntos um total de 100 metros quadrados. A ala do lado oposto da torre que, no passado, foi acrescida à construção original para servir como sala dos milagres, ocupa 63 metros quadrados. Por fim, o espaço ocupado pelo coro é de 25 metros quadrados. O lugar ocupado pela Igreja em área central do bairro é privilegiadíssimo. O Largo do Rosário é um espaço público arborizado e com excelente espaço, tradicionalmente utilizado para feiras e eventos artístico-culturais e religiosos.

O acervo fotográfico da Penha, coletado e organizado pelo Sr. Hedimir Linguitte, deve estar voltando para a Igreja do Rosário muito em breve. O prazo para devolução estava previsto para o último dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Esse acervo fotográfico parece harmonizar-se com o sentido que o patrimônio histórico da Igreja representa junto ao bairro. Daí a necessidade de se refletir sobre a melhor maneira de como colocá-lo à disposição do público.

A reforma feita na Igreja por Monsenhor Calazans deu-lhe nova vida. As comemorações de aniversário da Igreja a partir do bicentenário em 2002 também têm contribuído para que a mesma se torne mais expressiva em seus sentidos e missão. Por outro lado, pelo fato de a Igreja e o Largo se encontrarem desprotegidos de qualquer grade, seu entorno é ocupado por moradores de rua em horários do dia e da noite. Vários destes se dedicam à coleta e venda de produtos para reciclagem, não tendo o cuidado que deviam de recolher o que sobra, além das roupas que lavam e estendem para que sejam secas. Além disso, por não disporem de outro lugar principalmente durante a noite, usam os espaços próximos contíguos à Igreja para fazerem suas necessidades fisiológicas.  

Outro aspecto que deve ser acrescentado aqui é o da atenção que deve ser dada a algumas partes em que a ação dos cupins se apresenta como ameaçadora da estrutura do prédio, exigindo certa urgência na verificação desse processo de deteriorização.

 

Propostas de como viabilizar esse futuro à Igreja do Rosário

  1. Destinar as diversas partes internas da Igreja da seguinte forma: a ala do lado que se opõe à da torre seja toda ela destinada à missão social, conforme sempre coube à mesma cumpri-la desde seus primeiros anos de existência, oferecendo aos negros escravos ou não um lugar onde enterrassem seus mortos; a parte central ser toda ela destinada ao culto religioso, sendo recuperado o presbitério e refeito o altar mor; quanto à parte em que se encontra a torre, esta servir à missão cultural e histórica da Igreja, com bons sanitários para atender aos visitantes, espaços para exposições e consultas históricas, lanchonete com café, de modo que ajude em sua sustentabilidade.
  2. Estudar maneiras de como fazer bom uso do espaço externo ao lado da ala a ser utilizada para a missão social da Igreja. Se a subprefeitura da Penha autorizar o uso, seja ele para que as Irmãs da Comunidade do Caminho o ocupe como espaço de recreação das irmãs e atividades sociais com os moradores de rua. Também poderia verificar a possibilidade de utilização do lugar para uma floricultura, cuja parceria permitisse melhor sustentabilidade à Igreja.
  3. Verificar junto à Subprefeitura as maneiras de como poderiam ser colocadas grades de proteção à Igreja e ao Largo. Elaboração de um projeto nesse sentido de tal forma que não ficasse prejudicada a visibilidade da Igreja, pelo contrário, valorizando-a ainda mais em sua estética.
  4. Refazer o antigo presbitério com o altar mor e os altares laterais.
  5. Estudar maneiras de como iluminar melhor a Igreja, valorizando-a em seu visual interno.
  6. Equipar a Igreja com meios que ajudem na disponibilização de seu espaço destinado à cultura e à história, a fim de que visitantes e alunos de escolas e universidades possam ter contato com a história relacionada à Igreja dos Homens Pretos e à história do bairro.
  7. Assegurar-se, ao serem estabelecidas eventuais parcerias para realização deste projeto, que a Igreja do Rosário da Penha se mantenha em suas atividades como Igreja, fazendo com que o patrimônio histórico se mantenha vivo e não congelado, podendo continuar, integralmente, em sua trajetória histórica de acordo com a missão que lhe é própria.

 

                                                                                                        São Paulo, 28 de outubro de 2010

Postado por José Morelli

 

 

 

 

    

 

 

 

 

 

 

Fazendo jus ao nome de PENHA

 Penha é pedra, penhasco, lugar alto (de onde se pode ver longe e ser visto também). “Não se acende uma candeia para coloca-la debaixo da mesa. Ao contrário, coloca-se em lugar visível e, assim, ilumina-se a todos os que estão na casa!” (Mt. 5,15).

Poucos anos depois da chegada dos Padres Redentoristas aqui em nosso bairro paulistano da Penha de França, no ano de 1905, o arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva pediu a eles que procurassem um lugar adequado, no qual, em futuro próximo, seria erguido um novo templo dedicado Àquela que, por escolha popular, era e é considerada Padroeira da cidade de São Paulo.

Quando, em 1934, já não havia mais condições de a Antiga Matriz da Penha, por suas diminutas dimensões e precariedade de suas taipas, acolher aos inumeráveis peregrinos que a ela vinham todos os fins de semana e pelo fato de os padres ainda não terem encontrado um terreno próximo ao centro do bairro, que atendesse ao desejo de Dom Duarte, preferiu-se fazer uma profunda reforma que remodelasse e ampliasse o Velho Santuário, ali mesmo onde se encontrava, no topo da ladeira Coronel Rodovalho.

Assim aconteceu. Durante a execução da reforma, a Igreja do Rosário substituiu a Matriz por, aproximadamente, seis meses - (de 1º. de julho de 1934 a 2 de fevereiro de 1935).  Nesse período, a Igreja construída pelos escravizados negros, membros da antiga Irmandade que aqui existia, cumpriu o papel de sede paroquial em todas as suas funções.

Muitas negociações foram necessárias para a aquisição da área que, hoje, é ocupada pela Basílica de Nossa Senhora da Penha. Esta, mesmo não estando edificada em lugares tão proeminentes como os das Igrejas da Penha, na cidade de Vitória no Espírito Santo, e a do Rio de Janeiro com seus 365 degraus, ainda assim pode ver e ser vista desde lugares variados e distantes: Vila Matilde, Tatuapé, Belém, Guarulhos.

Depois de tantos anos de construção, a Basílica finalmente se apresenta concluída tanto em sua parte interna como externa. O Bairro e a Cidade, na necessidade de dinamizar seus espaços, cresceu horizontal e verticalmente. Hoje, as torres de prédios fazem sombra umas às outras, diminuindo-lhes a capacidade de visão das paisagens em seus entornos.

Seguindo essa mesma lógica, Monsenhor Calazans decidiu dar visibilidade à imagem de Nossa Senhora da Penha em seu altar da Basílica. Ordenando que lhe fosse retirado o manto, permitiu que a imagem passasse a ser vista e apreciada em sua originalidade. O artista que a entalhou na madeira, deu-lhe feições delicadas e expressivas. A simplicidade de suas vestes e de todo o conjunto, permite que a sintamos mais despojada e próxima de cada um de nós.

Em nossa Basílica, a decoração de vários de seus vitrais nos transmite uma lição catequética de grande importância. Em trinta e seis deles estão representados ícones de Nossa Senhora, cada um com seu respectivo título. “Todas as gerações (em todo o mundo) me chamarão bem-aventurada”. Os vinte e um séculos de cristianismo tem mostrado que a Mãe de Jesus tem  presença constante na vida da Igreja e do Povo de Deus. Cada lugar, cada povo tem sua experiência histórica dessa presença. Nossa Basílica da Penha compartilha todas essas histórias, para que nossas mentes sejam sempre abertas e amplas a todo conhecimento. 

Postado por José Morelli

Penha de França: estamos apagando 350 velinhas em sua homenagem

 Como nos conta o eminente historiador penhense, Dr. Sylvio Bomtempi, em seu livro intitulado “Penha Histórica”, o documento mais antigo em que é citada a primitiva igreja de Nossa Senhora da Penha traz a data de 11 de fevereiro de 1667. Portanto, neste ano de 2017 estamos comemorando 350 anos de existência histórica de nosso querido bairro. Nossas histórias pessoais se entrelaçaram e se entrelaçam com essa história maior que nos contextualiza a todos.

Com a presença da capela, na qual já se encontrava a imagem de Nossa Senhora da Penha, sua vista passou a compor a paisagem do lugar. À meia encosta da colina, esta podia ser visualizada das localidades mais distantes. Seu nome passou a identificar também o seu entorno que não demorou de ser ocupado por outras moradias. Dada sua localização, este naturalmente foi escolhido para servir de pouso aos viajantes que saiam ou iam ao núcleo central da Vila de São Paulo de Piratininga.

No livro acima citado, o Dr. Bomtempi demonstra claramente que o fundador da Penha é o Padre Jacinto Nunes de Siqueira. A ele devemos a promoção e a continuidade da igreja e de suas atividades. Faz parte da biografia deste padre uma graça que ele recebeu ao pedir a Nossa Senhora da Penha que o salvasse de um afogamento quando, à cavalo, atravessava um dos rios da região após uma torrencial chuva.

Como havia acontecido em Lisboa – Portugal - quando esta cidade sofreu grande destruição em consequência de um terremoto e em outros lugares por razões de graves acontecimentos, Nossa Senhora sob o título de Penha de França também passou a ser popularmente reconhecida como Padroeira da cidade de São Paulo e de seus moradores. Não foram poucas as vezes que a população paulistana promoveu a ida da imagem à Sé Catedral, a fim de implorar-lhe proteção especial frente a graves problemas.

Neste mês de setembro, estamos sendo convidados a prestar nossa homenagem à Penha. Não seria fácil manter 350 velinhas acesas até que as pudéssemos apaga-las todos juntos. No entanto, nada nos impede que, no pensamento e no coração, não o façamos com grande alegria... Parabéns Penha! Que venham os próximos 350 anos com ainda maior glória e bênçãos!

Postado por José Morelli

Patrimônios culturais da Região Leste

 Neste sábado, dia 06 de dezembro de 2014, a partir das 9h30, no Centro Cultural da Penha, situado no Largo do Rosário, número 20, será realizado o III Seminário sobre Patrimônios Culturais da Região Leste da Cidade de São Paulo.

Na edição da semana passada, o assunto abordado nesta coluna foi a respeito do Antigo Ramal Ferroviário da Penha. O texto dizia que sinais, dessa antiga via férrea, ainda subsistem. Tais sinais podem servir ao resgate histórico de momentos significativos da memória do Bairro da Penha de França e da Região Leste.

O Grupo intitulado URURAY (nome com que eram chamados os Campos da Região Leste: da Penha até São Miguel Paulista) é que promove o Seminário, acima referido. A discussão a respeito dos patrimônios culturais se insere no contexto do desenvolvimento sustentável da cidade. A discussão visa “a criação de políticas públicas de educação e desenvolvimento urbano e social que tornem efetivos nossos espaços culturais em seus respectivos territórios, uma vez que esses espaços, além de apresentarem-se em estado de deterioração, ou são invisíveis para a maioria da população ou são vistos como espaços de impedimento do desenvolvimento econômico. Trata-se de locais com potencialidades turísticas, educacionais e culturais imprescindíveis para a construção e fortalecimento da identidade dos territórios que ocupam, além de serem núcleos com potencial de desenvolvimento social e de geração de emprego e renda para a comunidade.”

A participação, neste Seminário, é uma forma concreta da população da Região Leste demonstrar seu interesse pelo desenvolvimento sustentável e inteligente de tudo aquilo que realmente tem valor e deve servir como legado às gerações futuras. É importante repetir que, quando foi da ocupação de áreas nobres da Penha para a construção dos piscinões, entre as estações Penha e Vila Matilde, nosso bairro abriu mão de toda aquela área. Será que a Penha e toda Região Leste não merece investimentos que as façam mais valorizadas em suas peculiaridades e originalidades?! Venha você também participar! Não esqueça! O Seminário terá início às 9h30.

Postado por José Morelli

Nossa Senhora da Penha e a Cidade de São Paulo

 O documento mais antigo em que consta registro da presença da primitiva igreja de Nossa Senhora da Penha é datado de 11 de fevereiro de 1667. A existência desta igreja serve como referência da fundação do bairro; por isso, neste ano de 2013, a Penha estará comemorando 346 anos de história.

No contexto da cidade de São Paulo, o desenvolvimento do bairro da Penha, comparado ao dos demais bairros paulistanos, se deu marcado por um importante diferencial, que o influenciou sobremaneira até os anos 50-60 do século passado. A população católica da cidade, que era percentualmente maior do que nos dias de hoje, alimentava a crença de que Maria, a Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Penha, atendia aos pedidos em favor da cidade e de seus habitantes. Toda vez que ocorriam secas prolongadas ou epidemias graves era a Ela que os católicos recorriam. Popularmente, Nossa Senhora da Penha foi passando a ser considerada a padroeira solícita da cidade e da população paulistana. Nos últimos anos, o bairro penhense perdeu seu caráter de intensa religiosidade, deixando de apresentar aquele diferencial que antes o distinguia no âmbito geral da cidade.

Durante mais de dois séculos de história, quando a cidade era assolada por dificuldades, não foram poucas as vezes que a imagem de Nossa Senhora da Penha foi levada em procissão até a Sé Catedral, no intuito de facilitar ao povo da cidade a oportunidade de manifestar fé e esperança em sua poderosa intercessão. Quando a imagem permanecia no bairro, eram os paulistanos dos quatro cantos da cidade que acorriam a seu Santuário.

No ano de 1906, vieram para a Penha os missionários redentoristas. A presença destes representou um grande impulso à inspiração de que Maria é atenta às necessidades do povo, considerado em sua pessoalidade e em sua coletividade. “Em princípios de dezembro de 1918, por ocasião da pandemia de gripe espanhola provocada nos campos de batalha da primeira grande guerra mundial, o vigário da Penha, Padre Oscar Chagas de Azeredo, registrou no Livro do Tombo da Paróquia, apontamentos de um relatório encaminhado ao exmo. Sr. Arcebispo sobre os trabalhos realizados na Penha no sentido de combater esse terrível mal.

A epidemia que nas últimas sete semanas encheu de luto a Capital paulista, não poupou o pacato distrito da Penha; uma campanha, porém, de trabalhos e dedicação enfrentou energicamente o mal. Sob os auspícios do exmo. Sr. D. Duarte, Arcebispo Metropolitano, tratou-se de organizar, em boa hora, o serviço que requeria a maior energia e a maior calma. À medida que os casos se iam aumentando, cresciam os cuidados e o desvelo por parte das autoridades e do povo da Penha. Desapareceu toda a distinção de nacionalidade, de classes e de crenças...” O relato conclui dizendo que, “aos esforços humanos uniu Deus sua graça, pois de quase quatro mil gripados morreram noventa e três”.

 

Em sua missão de Padroeira da Cidade de São Paulo, Nossa Senhora da Penha quer ter consigo seus devotos. Estes, arregaçando as mangas, precisam se colocar a serviço da cidade e daqueles que, nela, mais precisam. Quem sabe este não poderia ser um novo modelo a ser instituído como pastoral no Santuário de Nossa Senhora da Penha, mediante a formação de um fórum permanente de cuidados pela cidade, forma paradigmática que assinalasse para novos valores, necessários à construção de uma sociedade mais fraterna e justa.

Postado por José Morelli