segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Deletar

A tecla “delete”, do computador, tem enorme serventia. Para quem se utilizava das antigas máquinas de escrever manuais, quanta dificuldade para corrigir qualquer letra ou palavra escrita de forma errada. Os corretores de papel e as tintas corretoras, além do trabalho que exigiam, nunca deixavam o texto sem alguma rasura. Hoje, com o auxílio da tecla delete, as correções podem ser feitas com grande facilidade: vai-se e volta-se mil vezes no texto para a construção final de um paragrafo, como este que estou acabando de escrever.

Deletar vem do verbo latino “delere”, que significa “destruir”, “matar”... Quanto poder tem o mero acionar de uma simples tecla! Isso me faz lembrar aquelas cenas de filmes históricos da Roma Antiga, em que o imperador se atribuía poder de decisão de vida ou de morte daqueles que lutavam nas arenas dos grandes circos, existentes nas maiores cidades do Império. Com apenas um gesto de mão com o polegar voltado para cima, ele decidia pela salvação da vida do lutador; se, por outro lado e pela razão que lhe aprouvesse, ele orientasse o polegar para baixo, sua decisão significava a morte do contendor.

O verbo deletar vem se tornando cada vez mais presente na linguagem corrente da sociedade. O uso das tecnologias de comunicação ampliou as possibilidades de envios e recebimentos de mensagens escritas. Com facilidade, estas podem ser acolhidas ou descartadas. A tecla delete dá esse poder de descarte. Pouco a pouco, essa prática na virtualidade nos vai condicionando a uma insensibilidade cada vez maior para decidirmos pela exclusão deste ou daquele, disto ou daquilo. Hoje, administramos uma profusão incrível de informações que nos chegam num tempo insuficiente para acolhê-las todas de uma só vez. Daí, não ter como não selecioná-las instantaneamente, mediante o acionar da tecla delete.

Porém, nas relações efetivas que mantemos pessoalmente, uns com os outros, essa facilidade do descarte não pode se dar sem que tenhamos cuidados especiais. As consequências imediatas de nossas tomadas de atitudes, nos relacionamentos interpessoais diretos, não são iguais às de nossas tomadas de atitudes nos relacionamentos mediados por tecnologias. A vida real exige muito mais responsabilidade da parte dos interlocutores.

Postado por José Morelli

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