Diz-se que “contra fatos não há argumento”. Se
algo aconteceu de verdade por que então contestá-lo? Quanto à versão do fato, no entanto, já não se é
possível dizer o mesmo. Muitas são as interpretações ou entendimentos que podem
se depreender de um mesmo acontecido. Daí o lembrete deixado pelas expressões
existentes na língua portuguesa: “Cada caso é um caso” ou de “Cada
cabeça uma sentença”. No sentido de ressaltar o que não se pode nem se deve
esquecer, aqui vai o axioma que assinala ser: “o essencial invisível aos olhos”.
Olhares e mentes funcionam como filtros, enquanto deixam passar umas partes
impedem de que outras passem. Uma notícia, pela ênfase com que são expressas as
palavras que a compõe, reflete o entendimento do apresentador ou o que ele quer
transmitir do fato. Se intenciona dar-lhe uma conotação positiva ou negativa
basta que junte à notícia uma leve expressão da voz ou do rosto.
Fatos acontecem a todo instante. Indivíduos e sociedade
convivem com eles, sendo bombardeados por todos os lados. O tempo, a
experiência de vida, tem a capacidade de ensiná-los a conviverem melhor com os
acontecimentos. Cada indivíduo possui sua consciência como norma próxima que o
ajuda a escolher o entendimento de tudo o que lhe acontece. A consciência de
cada um precisa ser reconhecida em sua importância. O mesmo vale para a
consciência coletiva. Existe certa hierarquia com relação às consciências. Quem
não valoriza a própria não terá capacidade de reconhecer a consciência dos
outros ou do coletivo. A verdade e o bem estão presentes nas partes e no todo.
Precisam ser reconhecidas e internalizadas assim.
A história mostra que o mundo sempre apresentou divisões.
Não foram poucos os que tentaram construir impérios que dominassem todos os povos,
religiões que unissem a todos numa única fé. Nenhuma dessas tentativas surtiram
o efeito esperado. Os seres humanos tiveram e têm que aprender a conviver com
as diferenças. Tiveram e têm que evoluir na razão e na emoção.
Para consegui-lo precisam se apoiar sobre alguma base, de
valor pessoal, de confiança em si e de confiança no outro também. Parece
contraditório, mas não é. O aprendizado de um leva ao aprendizado do outro,
numa espécie de círculo virtuoso. Só vivendo é que se pode experimentar o crescimento,
o desenvolvimento, o prazer e a grandeza de viver e de conviver. O imediato, o
dia a dia concorre para esse aprendizado. Os acontecimentos, os fatos com suas
versões se constituem como matéria prima da construção das personalidades de
cada indivíduo e dos grupos sociais em que se compõem.
Postado por José Morelli
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