sábado, 19 de maio de 2018

O fato e a versão do fato


Diz-se que “contra fatos não há argumento”. Se algo aconteceu de verdade por que então contestá-lo? Quanto à versão do fato, no entanto, já não se é possível dizer o mesmo. Muitas são as interpretações ou entendimentos que podem se depreender de um mesmo acontecido. Daí o lembrete deixado pelas expressões existentes na língua portuguesa: “Cada caso é um caso” ou de “Cada cabeça uma sentença”. No sentido de ressaltar o que não se pode nem se deve esquecer, aqui vai o axioma que assinala ser: “o essencial invisível aos olhos”. Olhares e mentes funcionam como filtros, enquanto deixam passar umas partes impedem de que outras passem. Uma notícia, pela ênfase com que são expressas as palavras que a compõe, reflete o entendimento do apresentador ou o que ele quer transmitir do fato. Se intenciona dar-lhe uma conotação positiva ou negativa basta que junte à notícia uma leve expressão da voz ou do rosto.  

Fatos acontecem a todo instante. Indivíduos e sociedade convivem com eles, sendo bombardeados por todos os lados. O tempo, a experiência de vida, tem a capacidade de ensiná-los a conviverem melhor com os acontecimentos. Cada indivíduo possui sua consciência como norma próxima que o ajuda a escolher o entendimento de tudo o que lhe acontece. A consciência de cada um precisa ser reconhecida em sua importância. O mesmo vale para a consciência coletiva. Existe certa hierarquia com relação às consciências. Quem não valoriza a própria não terá capacidade de reconhecer a consciência dos outros ou do coletivo. A verdade e o bem estão presentes nas partes e no todo. Precisam ser reconhecidas e internalizadas assim.

A história mostra que o mundo sempre apresentou divisões. Não foram poucos os que tentaram construir impérios que dominassem todos os povos, religiões que unissem a todos numa única fé. Nenhuma dessas tentativas surtiram o efeito esperado. Os seres humanos tiveram e têm que aprender a conviver com as diferenças. Tiveram e têm que evoluir na razão e na emoção.

Para consegui-lo precisam se apoiar sobre alguma base, de valor pessoal, de confiança em si e de confiança no outro também. Parece contraditório, mas não é. O aprendizado de um leva ao aprendizado do outro, numa espécie de círculo virtuoso. Só vivendo é que se pode experimentar o crescimento, o desenvolvimento, o prazer e a grandeza de viver e de conviver. O imediato, o dia a dia concorre para esse aprendizado. Os acontecimentos, os fatos com suas versões se constituem como matéria prima da construção das personalidades de cada indivíduo e dos grupos sociais em que se compõem.

Postado por José Morelli





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