terça-feira, 1 de maio de 2012

A Língua

Da mesma forma como as demais partes de nosso corpo, a língua ocupa seu devido lugar neste, formando um todo harmonioso e condizente com as suas finalidades. Além de ocupar o interior de nossa boca, ela também possui um lugar em nossa mente, como uma imagem, construída a partir de nossas experiências de vida. Por sua cor, formas, mobilidade, consistência, múltiplas funções, históricos pessoais e coletivos, a língua é associada a idéias de todos os tipos: desde as mais elevadas e construtivas até as mais perversas e devastadoras, nos planos individual e grupal. A sensibilidade desse instrumento, tão versátil, permite-lhe a percepção dos diferentes sabores dos alimentos. A memória guarda a lembrança dos gostos um dia experimentados. Mesmo tendo passado muitos anos, a recordação dessas sensações podem voltar, reavivando antigas emoções. A musculatura da língua a torna apta para atender aos comandos do cérebro. Sob as ordens deste, ela dá sua importante parcela de contribuição na emissão da voz, falada ou cantada. A língua é um instrumento a serviço da consciência individual de cada um de nós. Dela podemos fazer uso, de acordo com o que manda nossa cabeça e/ou nosso coração. Se a usamos para fins construtivos, ela poderá merecer elogios, sendo considerada, por nós e pelos outros, como “bendita”. Se, ao contrário, a usamos para fins negativos, sua consideração poderá merecer o qualificativo de “maldita”. No beijo, a língua excita o prazer. Aproximação e distanciamento. O prazer é como uma faca de dois gumes. Se buscado de forma egoísta, centrado apenas na satisfação própria, ele desconhece os direitos inerentes à mutualidade das vinculações, estabelecidas e compartilhadas. A língua é parte de um todo: corpo e mente. Juntamente com esse todo, ela tem saúde ou fica doente. A fragilidade, imposta pela doença, mostra seus sinais através do pulso ou de manifestações de queda das defesas, na língua. Uma boa digestão se reflete em sua cor avermelhada, sem a presença de manchas brancas. “Mostrar a língua” pode ser uma forma de menosprezo. A língua é uma intimidade. Ela é nobre e vil ao mesmo tempo. Ela nos representa no que somos, no que pensamos, no que fazemos, no que sentimos a respeito de nós mesmos e dos outros.

Por José Morelli

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