quarta-feira, 14 de março de 2012

Chão

Dos estudos da antropologia, aprende-se que os antepassados do homem deixaram de viver sobre árvores e passaram a viver no chão. A partir daí, o macaco-homem foi, gradativamente, perdendo sua habilidade de agarrar-se e de dar impulsos com os braços e com as mãos e passando a desenvolver suas pernas, ganhando mais habilidade de se locomover pisando o solo terreno.

Com o aprendizado de lascar a pedra e a descoberta do fogo, sua vida se tornou mais segura, frente aos outros animais, que o tinham como presa fácil de ser capturada e devorada. Desalojando ursos e outros bichos de suas cavernas, passou a morar nelas, transformando-as em sua nova habitação e lugar onde seus filhotes e fêmeas podiam permaner, dia e noite, melhor protegidos do frio, da chuva e de outras agressões da natureza.

Depois vieram as casas construídas de pedra ou de madeira e recorbertas de palha. Com tudo isso, o chão foi se constituindo como o lugar ideal para o homem, lugar onde ele se sentia o dono do pedaço, seguro de que dali ninguém o tiraria.

O tempo foi passando... a raça humana foi evoluindo em seus pensamentos e nos meios de preservar-se. Assim, o número de humanos foi aumentando, crescendo em largas proporções. Aldeias foram se transformando em cidades. Casas térreas foram ganhando mais andares. Técnicas e arte se aliaram para a edificação de grandes castelos, igrejas, torres... O homem conseguiu desenvolver uma grande capacidade de planejar e fabricar muitas coisas, para o seu bem estar e conforto, criando inventos que fizeram crescer o domínio do homem sobre a terra, o ar e as profundezas dos oceanos. Por outro lado, com esta sua mesma capacidade, o homem desenvolveu também armas e outros meios de destruição.

Os maiores predadores dos humanos passaram a ser os próprios humanos. Em sua mente e em seu sentimento o chão voltou a ser percebido e sentido como perigoso e inseguro da mesma forma como o foi para os primatas do homem. Nas mentes e nos corações passaram a se desenvolver duas culturas antagônicas: a da paz e a da violência. Ambas se desenvolvem mediante o aprendizado.

As crianças são sensíveis a uma ou a outra dessas duas culturas. Talvez seja em função de todo esse histórico que, nos desenhos infantis, algumas crianças venham preferindo fazer as figuras voando, soltas no ar, sem que o chão lhes sirvam como base, uma forma de retornarem à segurança do alto das árvores.

Por José Morelli

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