Toda boa doceira sabe reconhecer
o ponto em que a massa se torna consistente; isto é, com a condição ideal para
que o doce corresponda ao esperado. A boa qualidade de uma massa depende de
que, nela, não falte nenhum ingrediente, de acordo com as medidas indicadas na
receita.
Se pensarmos bem, também nós, em
nossa maneira de apresentar-nos perante aos demais, devemos ter consistência, sentindo-nos
como tal e percebendo que os outros também nos reconhecem da forma como nos
julgamos que somos, com aqueles valores (ingredientes), que fazem parte de
nossa personalidade.
Se dissermos sempre “sim”,
incapazes de dizer “não” aos outros é natural que não nos vejam com
consistência (sinceridade/veracidade/coragem). Corremos o risco de sermos
mal-entendidos em nossas melhores intenções. Ficamos como que escancarados em
nosso direito de privacidade. À semelhança de uma casa abandonada, de qualquer
lado ou forma que os outros dela se aproximassem, poderiam entrar e fazer o que
bem entendessem como intrusos cheios de direitos e sem nenhuma responsabilidade; nela fariam pic-nic com os amigos e, depois, iriam embora, deixando-a toda suja
e destruída.
Cada um deve cuidar de sua
própria consistência. Quando uma pessoa que, por encontrar-se afetivamente
carente e negligenciando sua autoestima submete-se a imposições que contrariam
seus próprios pensamentos e sentimentos, a probabilidade de que será apenas
usada e não conseguirá complementar-se em sua afetividade é o mais provável que
venha a acontecer.
O medo de receber “não” dos
outros desencoraja de dizê-lo antes que os outros o digam. O sentimento de que
os outros não sejam suficientemente fortes e capazes de suportar um “não”, por
menor que este represente; além de revelar falta de confiança na capacidade dos
outros, não deixa de ser um deslocamento da própria fragilidade e insegurança,
atribuindo-o aos outros com mais facilidade do que a si mesmo.
Uma pessoa não se confunde com os
bens materiais que possui. Julgar o outro apenas por suas condições financeiras
é não entendê-lo em sua totalidade. Enquanto o outro não é visto ou reconhecido
também em suas qualidades morais e espirituais, quem o vê assim também se
mantém fechado à sua capacidade de ver o outro com maior amplitude a realidade.
A massa do bolo não atinge seu melhor ponto de consistência.
Postado por José Morelli
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