No colégio em que estudei, havia
uma floraria onde eram cultivadas, além de outras plantas, algumas espécies de
orquídeas. Durante as férias, uma das atividades preferidas era a de capturar
orquídeas nas matas. A experiência várias vezes repetida mostrava que: enquanto
os olhos não se adaptavam ao ambiente, as orquídeas não se permitiam serem
vistas. Era surpreendente como, depois dessa adaptação, elas iam aparecendo com
mais facilidade, cada uma com seu colorido e formas próprias. Devidamente
localizadas, subíamos nas árvores e destacávamos suas raízes dos troncos,
retirando parte delas para que servissem como novas mudas.
Embora comparações nunca sejam
totalmente aplicáveis, com relação ao reconhecimento de qualidades humanas, acontece
fenômeno parecido com o que acabei de descrever a respeito do que acontece com
as orquídeas. Notícias ruins costumam impactar mais o pensamento e a
sensibilidade do que notícias boas. A audiência de programas que noticiam
desgraças e catástrofes vem aumentando seus espaços nos meios de comunicação e
sobrecarregando o imaginário da sociedade.
Não podemos deixar de “Capturar
orquídeas” dentro de nós mesmos e nas pessoas com as quais interagimos. A mesma
atenção que é necessária para a descoberta de lindas plantas, confundidas com
os sombreados das copas das árvores, devemos ter ao voltar-nos nossa atenção em
nós mesmos e nos outros, a fim de desvendarmos nossos lados bons e bonitos,
valorizando-os. Equilibrando-nos entre as percepções do positivo e do negativo,
apostamos na grandeza dos seres humanos e em suas capacidades, assegurando-nos
de que somos potencialmente fortes para lançarmo-nos na vida sem medo, com
otimismo e determinação.
Capturar orquídeas nos lugares
mais inimagináveis nos inspira à arte do bem viver. O imediatismo nos
impossibilita de descobri-las. Corremos o risco de desistir antes de
encontra-las. Precisamos pairar nossos olhos sobre o mundo e sobre as pessoas,
sejam elas quais forem: crianças, adultos ou velhos, brancas, negras, amarelas
ou vermelhas, cultas ou incultas, elas todas trazem em si mesmas algum tipo de
beleza digno de ser reconhecido e admirado. O reconhecimento das coisas boas,
necessariamente, não nos impede de que também saibamos reconhecer o que se opõe
ao bem e à beleza. Pelo contrário, esse discernimento nos dá mais capacidade
interior de encará-los e enfrenta-los com mais objetividade e segurança.
Postado por José Morelli
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