quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Capturar orquídeas

No colégio em que estudei, havia uma floraria onde eram cultivadas, além de outras plantas, algumas espécies de orquídeas. Durante as férias, uma das atividades preferidas era a de capturar orquídeas nas matas. A experiência várias vezes repetida mostrava que: enquanto os olhos não se adaptavam ao ambiente, as orquídeas não se permitiam serem vistas. Era surpreendente como, depois dessa adaptação, elas iam aparecendo com mais facilidade, cada uma com seu colorido e formas próprias. Devidamente localizadas, subíamos nas árvores e destacávamos suas raízes dos troncos, retirando parte delas para que servissem como novas mudas.

Embora comparações nunca sejam totalmente aplicáveis, com relação ao reconhecimento de qualidades humanas, acontece fenômeno parecido com o que acabei de descrever a respeito do que acontece com as orquídeas. Notícias ruins costumam impactar mais o pensamento e a sensibilidade do que notícias boas. A audiência de programas que noticiam desgraças e catástrofes vem aumentando seus espaços nos meios de comunicação e sobrecarregando o imaginário da sociedade.

Não podemos deixar de “Capturar orquídeas” dentro de nós mesmos e nas pessoas com as quais interagimos. A mesma atenção que é necessária para a descoberta de lindas plantas, confundidas com os sombreados das copas das árvores, devemos ter ao voltar-nos nossa atenção em nós mesmos e nos outros, a fim de desvendarmos nossos lados bons e bonitos, valorizando-os. Equilibrando-nos entre as percepções do positivo e do negativo, apostamos na grandeza dos seres humanos e em suas capacidades, assegurando-nos de que somos potencialmente fortes para lançarmo-nos na vida sem medo, com otimismo e determinação.

Capturar orquídeas nos lugares mais inimagináveis nos inspira à arte do bem viver. O imediatismo nos impossibilita de descobri-las. Corremos o risco de desistir antes de encontra-las. Precisamos pairar nossos olhos sobre o mundo e sobre as pessoas, sejam elas quais forem: crianças, adultos ou velhos, brancas, negras, amarelas ou vermelhas, cultas ou incultas, elas todas trazem em si mesmas algum tipo de beleza digno de ser reconhecido e admirado. O reconhecimento das coisas boas, necessariamente, não nos impede de que também saibamos reconhecer o que se opõe ao bem e à beleza. Pelo contrário, esse discernimento nos dá mais capacidade interior de encará-los e enfrenta-los com mais objetividade e segurança.   

Postado por José Morelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário