Embora não tivessem sido tão
longas quanto desejávamos, não deixaram de nos proporcionar vivências diferenciadas
das que habitualmente costumamos ter em nosso dia a dia. A rotina do interior oferece
derivativos importantes, principalmente para quem vive numa megalópole como esta
nossa agitada paulicéia, bastante próxima do progresso, porém distante da
natureza e das lições que a vida simples é capaz de nos ensinar.
Estivemos em Minas Gerais na casa
da madrinha. No galinheiro de seu quintal encontramos apenas as galinhas e não
mais os dois galos que antes lá moravam. A madrinha disse que preferiu
vendê-los, uma vez que o canto deles incomodava as crianças pequenas dos
visinhos. Com essa falta dos dois galos, a conclusão óbvia era de que aquelas
galinhas não botariam mais ovos galados e ali, naquele galinheiro, não
nasceriam mais novos pintinhos.
Porém, logo percebemos que estávamos
enganados. Num dos cantos do quartinho de depósito encontramos uma das galinhas,
terminando de chocar seis ovos. Quatro deles já haviam se quebrado e deles
nascidos dois pintinhos clarinhos e dois escurinhos. Os outros ovos goraram, isto é, não deram
pintinho nenhum.
Os ovos galados haviam sido
comprados de outro galinheiro e colocados debaixo da galinha para serem
chocados. A qualidade das galinhas da madrinha é de uma mistura de carijó com
garnisé. São de porte médio que, mesmo quando chocas, “aperreadas” como diz a
madrinha, não conseguem cobrir mais do que seis ovos. Estes precisam ficar todos
debaixo da galinha para que não gorem devido à temperatura inadequada do lado
de fora.
Da madrinha soubemos que o
período de choco é de 21 dias. Apenas de dois em dois dias, a galinha sai do
ninho e vai comer e beber junto às outras no galinheiro. Depois volta a seu
posto, mantendo-se com as pernas dobradas, a fim de que possa cobrir totalmente
os ovos. Se algum ovo fica fora, puxa-o para baixo das asas com o bico. Ao
aproximar-nos de seu ninho, ela imediatamente dá sinais de não gostar,
ameaçando-nos atacar caso cheguemos mais perto dela e de seus filhotes.
Na manhã seguinte, o sol voltou a
dar o ar da graça. Os pintinhos e a galinha saíram do ninho de onde estavam e
passaram a buscar o que comer quintal afora. A madrinha explicou que, enquanto
os pintinhos precisarem de proteção e alimentados com uma ração especial, a galinha
permanecerá separada com eles. Passados mais uns trinta dias, não haverá mais
essa necessidade. Emancipados, eles passarão a conviver com os outros no
galinheiro, disputando com eles a comida que lhes possa garantir a
sobrevivência e o crescimento.
Por José Morelli