Em dois momentos da vida podemos ter a sensação de que detemos poder em nossas mãos, relativamente ao que fazemos com o dinheiro: o primeiro é quando o ganhamos, com nosso trabalho e o segundo é quando adquirimos bens de natureza material, ao ponto de o fazermos de maneira descompromissada, compulsiva, incontida.
O fato é de
que não é difícil acontecer de nos tornarmos vítimas de nossas próprias compulsões;
isto é, de nossos impulsos incontrolados de comprar, gerados por uma sensação interna
de carência afetiva, da qual não conseguimos nos libertar facilmente, o que nos
leva a acumularmos sempre e cada vez mais, irrefreavelmente.
Se a
compulsão é de comprar a fim de podermos dizer, a nós mesmos e aos outros, que
o bem adquirido é nosso, propriedade nossa, isto já pode ser suficiente para
que este deixe de ser reconhecido na importância que, antes de comprado, parecia
ter. Assim, ao chegarmos em nossa casa, ele é simplesmente colocado num armário
qualquer e ali esquecido.
Se a
compulsão é de acumular bens, estes vão sendo comprados um a um ocupando os
espaços de que necessitam. Primeiro, ocupam os interiores dos guarda-roupas,
depois as partes superiores deles. Com o passar do tempo, vão ocupando também as
mesas, em cima e em baixo, as cadeiras e, por fim, o chão. Entulhados, eles
passam a impedir a locomoção nas passagens de um cômodo para o outro.
Excessos acontecem
relativamente aos bens materiais, à comida, à bebida. Estas e outras compulsões
têm em comum algum comprometimento neurótico, uma exacerbação do sistema
nervoso. Conceitos, sentimentos e sensações, fantasias exercem domínio sobre nossas
vidas. Confundimo-nos quanto à imagem de nós mesmos com que nos construímos em
nosso imaginário, embaralhando-nos pelo que somos e/ou pelo que temos.
Postado por José Morelli