Ou, se quiser, pode trocar a palavra análise por psicanálise institucional. De um jeito ou de outro, o instituído nunca deixa de trazer, em si, as marcas das pessoas responsáveis por sua feitura ou institucionalização, mediante uso de suas respectivas capacidades mentais e emocionais. Toda análise, para ser mais abrangente e profunda, não deve desprezar nenhum aspecto ou observação daquilo que é analisado, tudo tem seu por que: sua razão de ser ou justificativa. Nada é atoa: sem significado ou importância.
Um exemplo bem nosso: desde que a
Igreja do Rosário da Penha passou a ter maior visibilidade, com seu tombamento
como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT em 1982 e, talvez mais ainda, com sua
interdição pelo CONTRU em 1999, falas a respeito dela vêm sendo propaladas e,
nem todas com o devido fundamento e consistência. Há quem diga que ela foi
construída de costas para o antigo Santuário por que, naquele tempo, os negros
escravizados ou libertos eram proibidos de nele entrar, sendo permitida entrada
apenas aos brancos. Não existe nenhum documento que comprove que isso tenha
acontecido por aqui. Em templos católicos de outros lugares não há dúvida que funcionava
essa proibição, considerada correta e justa pelos mandatários da época.
Numa análise institucional, no
entanto, não se pode descartar a hipótese de que os construtores do Rosário, os
membros da Irmandade dos Homens Pretos da Penha de França, possuíam maior
identificação com aqueles que se encontravam no sentido leste da cidade ou
daqueles caminhos que conduziam às cidades ou povoados de São Miguel,
Guaianazes, Conceição dos Guarulhos, Mogi das Cruzes e ao Vale do Paraíba, mais
do que para o oeste, onde se instalavam os poderes constituídos, civis e
religiosos, da então Vila da São Paulo de Piratininga.
Hoje, não só por ironia do
destino, a paróquia da Penha se encontra subordinada à diocese de São Miguel
Paulista, mesmo que sua população, em grande parte, demonstre estar
ideologicamente alinhada àqueles que, financeira e socialmente, são
identificados como os mais bem sucedidos materialmente falando e que residem em
zonas elitizadas da cidade; diferentemente da população da Vila Madalena se
alinhar, comercial e politicamente, a segmentos mais populares da sociedade e
menos providos de amparos legais.
Postado por José Morelli