O medo, a ansiedade, a falta de confiança em si e no filho
são empecilhos a uma atitude facilitadora para que o mesmo adquira autonomia de
pensamento e de decisão. Quem tem sempre muita pressa, quem vive com medo de
que o erro não tem remédio, não o aceitando como instrumento do saber, não
consegue permitir o desenvolvimento do filho, de uma forma gradativa, a partir
de suas próprias experiências.
A não-diretividade não é o abandono do filho a si mesmo, na
hora em que este tem que enfrentar alguma dificuldade que lhe é intransferível.
Os pais não-diretivos não abdicam de suas obrigações, exigidas pelo papel que
desempenham junto aos filhos. Pelo contrário, através de suas atitudes,
realizam de uma forma mais apropriada aquilo que a palavra “educar” significa:
conduzir a partir do interior. A não-diretividade é uma presença profunda e
constante. Exige muita observação, muita atenção. Para ajudar o filho a pensar
e saber decidir é preciso estar próximo dele, percebê-lo, situá-lo em seu
contexto, questioná-lo quanto ao que está pensando e sentindo, permitindo-lhe,
assim, que descubra quais são os múltiplos fatores que o estão condicionando.
Agir não-diretivamente é interessar-se pelo que de melhor existe no filho como
uma forma de querê-lo bem em sua integralidade, de reconhecê-lo em seus lados
fortes. É uma aposta nos aspectos mais positivos do filho, mesmo que estes
aspectos estejam cercados e protegidos pelo medo ou pelo comodismo. Para se
saborear o gosto da castanha é preciso tirá-la de sua casca, sempre protegida
de muitos espinhos. De forma parecida, algumas grandezas do espírito humano só
são descobertas, quando as resistências são vencidas e os espinhos retirados,
mesmo correndo risco de, eventualmente, vir a se machucar com eles.
Por José Morelli