É a partir de seu avesso que
todos nós nos desenvolvemos, juntamente com os demais órgãos que ocupam o
interior de nosso corpo, sejam eles relacionados às suas funções motoras,
sensitivas, sexuais, respiratórias, digestivas, cerebrais e outras. É a partir
da demarcação que nossa própria pele nos proporciona que nos percebemos e nos
reconhecemos em nossos limites externos: onde começamos e onde terminamos, onde
alcançamos e onde não conseguimos alcançar. Constituímo-nos materialmente e é
sobre esta nossa base física que nos aperfeiçoamos em nossas capacidades intelectuais:
físicas, mentais/emocionais e espirituais.
Existimos e nos movimentamos no
tempo e no espaço, conscientes de que somos e acontecemos na sucessão das
gerações. Vivemos nosso momento presente histórico, compartilhando nossa
existência com nossos contemporâneos e conterrâneos de perto e de longe. Reconhecemo-nos
em nossa própria individualidade e somos capazes de reconhecer o outro na
identidade física e psicológica (individuada) que lhe é própria.
A pisada recebida no meu pé e que
me machuca é sentida por mim – de dentro da própria pele, e menos por aquele
que o pisou. Não há como negar que, neste caso, a dor é minha e não dele e é
ele que deve pedir desculpas e retratar-se e não eu. Na sociedade em seu todo
sempre há aqueles que ferem com suas atitudes e posturas e há aqueles que são
feridos. Assim como acontece no plano da individualidade, assim também acontece
no plano da coletividade: os que estão habituados a ferir sentem menos dor e
mágoa do que aqueles que estão sendo feridos.
Uma percepção mais ampla da realidade exige que não nos ignoremos no que somos e no que necessitamos, individualmente e/ou coletivamente. Nossa capacidade amadurecida deve nos permitir que nos sensibilizemos com as diferenças, buscando mais equidade nas relações humanas, no que concerne aos direitos e às obrigações que competem a nós todos, indistintamente.
Postado por José Morelli