A vida com seus impasses pode causar essa sensação tão desagradável e
sofrível a um indivíduo, tanto pela forma concreta de como ela acontece, no
contexto das condições materiais nas quais se insere, como pelo sentido que lhe
é atribuído, em termos de valorização ou de importância.
As contingências de tempo e de espaço são os trilhos sobre os quais a
vida desliza. À semelhança de um trem, a existência humana também percorre um a
um cada trecho da via férrea, não voltando atrás nem queimando etapas. O
presente é sempre a oportunidade única que se apresenta. A vida corporal se
mantém por força das repetições: o coração não pode deixar de bater; o sangue
não pode deixar de percorrer o corpo inteiro; os pulmões não podem deixar de
levar o oxigênio a todas as células. As repetições desses movimentos garantem
que a vida no corpo se mantenha viva e presente no corpo.
As interações humanas com o mundo material também se dão através de
repetições constantes e ininterruptas: segundos e minutos que se sucedem, horas
formando dias e noites, semanas, meses compondo estações, anos... Para que não
terminem, é preciso que outro se inicie sem que se admitam finalizações. Se não
houver recomeço, a vida simplesmente se acaba.
A perspectiva do fim da vida corporal paira constantemente sobre a cabeça
de todos. A limitação do viver tem
capacidade e força de gerar uma angústia existencial, à semelhança da espada de
Dâmocles. Sobre a cabeça deste personagem, de acordo com o que narrou Cícero
(106 a.C), foi pendurada uma
espada, presa apenas por um fio de rabo de cavalo e isso fez com que ele
perdesse o interesse por tudo o que a vida lhe podia estar oferecendo de bom e
prazeroso.
Postado por José Morelli