quarta-feira, 13 de março de 2013

“Bitolado”

Adjetivo originado de bitola, termo que define dimensões, comumente utilizado para qualificar linhas de trem, que podem ser de bitola larga ou estreita. Na linguagem popular, costuma-se chamar de “bitolado” aquele indivíduo que segue sempre na mesma linha, tendo um comportamento semelhante ao do trem, andando somente como sobre os mesmos trilhos. Age de maneira pré-determinada, não conseguindo adotar um repertório mais criativo nos comportamentos, de acordo com a necessidade do momento e das circunstâncias que o cercam.

As tapas colocadas dos dois lados dos olhos do burro, que puxa uma carroça, o obrigam a seguir somente na direção que se apresenta à sua frente. O dono puxa-o pelo freio, fazendo-o virar a cabeça para a direção que deseja conduzi-lo. Quando se afirma que alguém é bitolado, às vezes, costuma-se acompanhar essa afirmação com o gesto de colocar as mãos ao lado dos próprios olhos, à semelhança das tapas que são colocadas nos burros de carga.

Várias são as razões que podem fazer um indivíduo se comportar de maneira bitolada. Uma delas é a necessidade que este tem de se garantir segurança. Prefere repetir os comportamentos que deram certo no passado a adotar novos, ainda não experimentados. Teme se expor ao risco de errar. A necessidade de ser perfeito ou irrepreensível, diante dos próprios olhos ou dos olhos dos outros, pode dar origem a esse medo. Outra razão dessa mesma tendência é a falta de confiança nas próprias capacidades. Por força dessa falta de confiança, prefere seguir as trilhas mostradas pelos outros não se esforçando para criar as próprias.

Existem aqueles que são mais bitolados e aqueles que o são menos. Aqueles que se fecham mais em si mesmos e aqueles que não se fecham tanto. Os primeiros se assemelham aos trens de bitola estreita, enquanto que os segundos com os trens que trafegam sobre bitola larga. Por de trás dessas aparências, sempre existem causas mais profundas que as sustentam. Trabalhá-las, ajuda na superação desse tipo de necessidade neurótica. Vale à pena ampliar as próprias capacidades de agir. Vale à pena libertar-se das correntes que limitam a expansão dos próprios comportamentos.    

Por José Morelli