domingo, 28 de novembro de 2010

Telhados

O lugar dos telhados é sobre as casas ou prédios. Os formatos e materiais com que são feitos podem variar muito. A finalidade de todos eles, no entanto, é de abrigar e proteger as pessoas da chuva, do sol ou do frio. Nos lugares em que cai muita neve, eles precisam ser mais pontiagudos, para facilitar o escoamento da neve, diminuindo o peso desta e o risco de desabamento. Existem telhados de uma água só, de duas águas, retos ou arredondados, com ou sem janelas, com ou sem chaminé, altos ou baixos, simples ou mais rebuscados... devendo ser adequados às características do clima, em cada lugar onde se encontram, servindo assim aos objetivos de sua construção.

Os telhados fazem parte da casa, juntamente com os alicerces, paredes, portas, janelas, escadas... As crianças, ao brincar de montá-las ou de desenhá-las, logo percebem a necessidade de que tenham um telhado, para que não lhes falte essa parte essencial, necessária à proteção de todos os que nela buscam abrigo e proteção.

Os telhados, considerados em relação às casas, em seu todo, preenchem um papel rico em significados, presente no consciente e no subconsciente das pessoas. Ao construí-las ou desenhá-las, as mentes podem idealizá-las de muitas maneiras. Enquanto assim o fazem, elas se constroem a si mesmas, transmitindo seus comandos para o corpo, a fim de concretizá-las de alguma forma. As mentes agem, enquanto recebem as influências do produto de sua ação, numa espécie de círculo vicioso.

À semelhança das casas e dos telhados, as pessoas também possuem uma estrutura mental/emocional, necessária à obtenção de seus objetivos. Suas mentes constroem idéias e sentimentos, que lhes podem garantir abrigo e proteção das dificuldades a que se encontram expostas e podem comprometer o sentido de sua integridade pessoal.

Muitos pintores famosos e não-famosos se inspiraram nos telhados das casas para fazerem seus quadros. Através da observação dessas obras, pode-se perceber como, em cada lugar, as pessoas constroem os telhados de suas casas, projetando-lhes o sentido de si mesmas e de suas necessidades e a maneira como entendem que podem se proteger.

José Morelli    

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Meu filho não quer ir à escola... e agora?

A compra do material foi a maior curtição, quanta coisa para escolher: a capa do caderno, as canetinhas, a mochila... uma empolgação só. Porém, na hora H, a criança chora esperneia, se joga no chão e não há quem a faça entrar na escola.

Enquanto refletia sobre este assunto, lembrei-me de alguns acontecimentos que tive a oportunidade de presenciar: Num deles, uma amiga foi levar sua filha, em seu primeiro dia de aula. Ficou observando-a de longe. Quando a menina a viu, começou a chorar. No final, ficaram as duas em prantos uma na escola e a outra indo embora.

Em outra ocasião, presenciei a cena de uma criança que, ao chegar à escola, começou a chorar e a ranhetar, dando mostras de que não estava passando bem, impedindo-se assim de juntar-se aos seus novos coleguinhas.

Para se poder entender melhor as reações acima descritas, é necessário observar como são estabelecidas as relações entre os pais e a criança e destes com a escola. A maneira de se relacionar corresponde às idéias e fantasias que foram construídas nas cabeças de cada um. Se estas forem positivas, tenderão a favorecer, na hora de se transformarem em atitudes, se forem negativas, certamente, criarão dificuldades. De todas as relações a menos comum dos pais observarem é a de como eles preparam a criança para a escola através dos valores que possuem da mesma. Muitas vezes os pais apresentam a escola como um castigo ou simplesmente não se mostram interessados no desenvolvimento educacional da criança, não assumindo responsabilidade. Por meio de palavras e expressões a criança capta a importância que os pais dão ao ambiente escolar, se se comprometem com ele ou se esperam isso apenas dela.

É comum aos pais sentirem-se culpados de colocar a criança ainda tão nova numa escola, bem como de precisarem se sentir indispensáveis no cuidado do filho, desejando inconscientemente que este dê demonstração aos outros que seus pais são as únicas pessoas que sabem cuidar dele. Esta é a hipótese de explicação quanto à atitude tomada pela mãe, no primeiro caso relatado. Mães reconhecem pela maneira como a criança chora, a necessidade que ela tem. Uma sintonia que desenvolvem, desde o período da gestação, uma espécie de simbiose. Daí a sensação de que ninguém melhor do que ela consegue cuidar de seu filho.

Outro aspecto a ser considerado é as fantasias que a criança cria de sua ida à escola, tais como: o medo de serem abandonadas, de sentirem-se como um peso para os pais que teriam maior tranqüilidade no momento em que ela estivesse fora e o medo de enfrentar o novo. A escola é o primeiro local em que a criança se percebe longe dos pais e familiares, como também é onde esta passa a ser classificada, através de critérios de diferenciação, de inclusão ou de exclusão, o que mobiliza fortes sentimentos, que podem explicar a reação da criança no segundo caso relatado.

Aqui vão relacionados alguns alertas, que podem ajudar aos pais a minimizarem este problema:
·        Preocuparem-se de se referirem à escola como algo agradável, um lugar onde se aprende a ler e a escrever, além de se fazer bons amigos e com eles poder brincar.
·        Quando a criança é muito ligada à mãe, é recomendável que esta fique por perto nos primeiros dias, deixando algum objeto que possa garantir sua volta, evitando sair escondido, uma vez que isso aumenta a insegurança e a desconfiança.
·        Passear com a criança para conhecer o espaço físico da escola. A presença de um amiguinho já conhecido facilita a ambientação.
·        Para crianças mais velhas, o comprometimento dos pais, ajudando-as nas lições de casa, nas idas às reuniões, no interesse quanto às diretrizes da escola, funciona como estímulo para que estas se dêem bem no ambiente escolar e consigam se desenvolver nele.

Luciana Zampar Morelli Delgado

domingo, 7 de novembro de 2010

"Quebrar arestas"

A sabedoria popular criou o provérbio: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. As corredeiras dos rios fazem com que lascas de pedras se desprendam, carregando-as consigo. Na medida em que estas se chocam umas com as outras e com os obstáculos encontrados nas margens e nos leitos profundos ou rasos dos rios, vão pouco a pouco quebrando suas arestas, arredondando-se em suas formas. Antes de as quebrarem, essas pedras são levadas pela correnteza com mais dificuldade e lentidão, por causa do maior atrito provocado por suas superfícies irregulares e pontiagudas. O arredondamento faz com que as mesmas ganhem mais leveza e velocidade. Estas são as contrapartidas pela perda das arestas.

A expressão “  quebrar arestas” também se aplica aos relacionamentos interpessoais. A vida humana pode ser comparada a um rio que leva. Quanto mais intenso é o relacionamento entre duas pessoas, maiores são as oportunidades destas se colidirem e de se quebrarem em suas próprias arestas, consideradas como defesas indevidas ou desnecessárias. A amizade, o namoro, o casamento, o relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos, entre professores e alunos, entre colegas de escola ou trabalho, todos os relacionamentos inevitavelmente provocam tensões (atritos). Superfícies que se apresentem com maior dureza, podem resistir mais às colisões e permanecerem por mais tempo sem sofrerem alterações em suas formas. Deste modo, não se arredondam e continuam a atritar com as outras superfícies com a mesma morosidade. Com isso, não conseguem fluir como as outras, com a mesma leveza e rapidez.

As arestas não permitem muitas aproximações entre as pedras. Ao se chocarem, elas imediatamente se afastam umas das outras. São como espinhos que ferem e impedem de se encontrarem em suas partes mais essenciais. Homens e mulheres possuem arestas. Diferenças e semelhanças podem ser entendidas como ameaças à integridade física e moral por ambos. Dependendo de como essas diferenças são passadas de um para o outro, a compreensão das mesmas pode receber conotação construtiva ou destrutiva, transformando-se em arestas.

O rio e a vida levam. As pedras são carregadas juntamente com as águas rumo ao mar. Na aventura de se viver humanamente, quem sabe perder, permitindo-se quebrar nas próprias arestas, não perde verdadeiramente. Consegue entender que, perdendo aprimora-se, o que implica em ganhos maiores, como: maior intimidade e profundidade com os pares, maior leveza e rapidez para chegar ao objetivo.

José Morelli